Os prémios da discórdia - TVI

Os prémios da discórdia

Bola de Ouro

«Jogo alto»

Relacionados

O ano de 2018 está a ser o mais incaracterístico da última década no que aos grandes prémios do futebol mundial diz respeito. Nos últimos dez anos assistimos ao domínio absoluto de dois jogadores de outro planeta, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.

Chegaram, aliás, a faltar adjetivos para caracterizar as prestações do português e do argentino, mas eis que, de um momento para o outro, nenhum dos dois conquista qualquer prémio em 2018.

E surge um novo nome que passou a reunir o consenso nos quatro prémios atribuídos este ano: Luka Modric. O médio croata do Real Madrid conquistou o Prémio de Melhor Jogador do Campeonato do Mundo, o Prémio de Melhor Jogador para a UEFA, o Prémio "The Best" de melhor jogador para a FIFA e esta semana a Bola de Ouro da revista France Football.

E o que fez Modric para merecer o pleno, pergunto eu e perguntar-se-á o leitor?

Desde já me confesso admirador da forma de jogar do croata, com uma inteligência e capacidade de antecipação acima da média, uma técnica refinada e um posicionamento táctico irrepreensível.

Mas daí até ao melhor do mundo vai uma distância gigante.

Terá então sido pelas prestações individuais? Não me parece.

Em 2018 Modric venceu a Liga dos Campeões, ao serviço do Real Madrid (feito idêntico ao conseguido por Cristiano Ronaldo que conquistou a sua quinta Liga dos Campeões), e foi finalista vencido do Campeonato do Mundo de 2018, no qual a Croácia perdeu com a França por 4-3, enquanto Portugal foi eliminado nos oitavos de final pelo Uruguai.

Na Rússia, Cristiano marcou quatro golos em quatro jogos, três deles à Espanha, Modric marcou dois em sete. Na Liga dos Campeões o português apontou 15 golos em 13 jogos com cinco assistências pelo meio, Modric marcou apenas um em 11 jogos, com uma assistência. A nível interno, no Real Madrid, CR7 cilindra o antigo colega de equipa, já que na mesma equipa e na mesma época, 2017/2018 o português marcou 26 golos em 27 partidas contra um único golo de Modric em 26 jogos. Apenas nas assistências para golo, o croata levou a melhor com 6 contra 5 do português.

Face a estes números, qual terá sido então o fator que desiquilibrou o prato da balança?

Só podem ter sido aqueles 15 dias a mais em que Luka Modric se manteve no Campeonato do Mundo da Rússia, comparativamente com Cristiano Ronaldo.

Só pode.

Ou isso, ou uma mudança do paradigma, com os grandes prémios do ano a premiarem não o espetáculo do jogo, mas a cor das camisolas.

O branco e negro da Juventus contra o branco do Real Madrid?

Não sou muito fã de teorias da conspiração, mas já diz o ditado em castelhano que no creo em brujas, pero que las hay, las hay, e para muitos a influência do clube espanhol continua a ser brutal nas mais altas instâncias do futebol.

Só assim consigo acreditar que Cristiano, que continua a espalhar magia nos relvados por onde passa e a dar espetáculo sempre que joga, e até mesmo Lionel Messi, sejam relegados para segundo plano face a um excelente jogador mas, quanto a mim, não um super-jogador!

P.S.: Em relação à última votação, a da Bola de Ouro, o que dizer dos 35 países (sim, 35!!!) que pura e simplesmente se esqueceram de Cristiano Ronaldo nas suas votações? Alguns deles, a votarem em Neymar ou em Eden Hazard, sendo que nesses 35 estão, a título de exemplo, Suíça, Irlanda do Norte, Dinamarca, Finlândia ou Turquia... Países onde, supostamente, o futebol é igualmente uma paixão.

Ou será que nem por isso?

«Jogo alto» é um artigo de opinião de Pedro Ramalho, jornalista da TVI, que escreve neste espaço às quartas-feiras de três em três semanas

Continue a ler esta notícia

Relacionados