Portugal-Arábia Saudita, 3-0 (crónica) - TVI

Portugal-Arábia Saudita, 3-0 (crónica)

Portugal-Arábia Saudita (Lusa)

Seriedade de Portugal permitiu vencer dentro e fora do campo

Portugal derrotou a Arábia Saudita no primeiro jogo após ter assegurado a qualificação para a fase final do Mundial 2018, que se vai disputa na Rússia. Um golo de Manuel Fernandes na primeira parte e dois na segunda, um de Gonçalo Guedes e outro de João Mário, deram o colorido a um resultado que podia ter sido muito mais volumoso, tendo em conta as oportunidades desperdiçadas pelos jogadores lusos.

Já se sabia que Fernando Santos tinha oito jogadores que se podiam estrear nesta jornada dupla - que inclui ainda um duelo com os Estados Unidos da América, na terça-feira, em Leiria – e, na partida com os sauditas, foram quatro aqueles que inscreveram o seu nome na lista de internacionais A por Portugal.

Kevin Rodrigues, Edgar Ié, Bruno Fernandes e Bruma fizeram a sua estreia, numa partida marcada pela solidariedade promovida pela Federação e acompanhada por todo o um país que percebeu que este Portugal-Arábia Saudita era «mais do que um jogo», como defendeu Fernando Santos.

Seriedade desde bem antes do apito inicial

Este desafio era mais do que um jogo por casos como o de Jorge Sousa. Aos 59 anos, este homem, que o Maisfutebol conheceu na véspera do jogo, perdeu a casa onde morava com a esposa, na localidade de Póvoa Pequena, em Vouzela. Naquele que foi um dos concelhos mais afetados pelos incêndios de outubro, além das vidas que se perderam, mais de 20 famílias viram as suas casas arder.

E foi a pensar nessas pessoas que a Federação Portuguesa de Futebol mudou o local dos jogos desta jornada de particulares. As receitas conseguidas com as várias iniciativas da entidade que gere o futebol em Portugal – e que antes desta partida já tinham ultrapassado os 200 mil euros – revertem precisamente para famílias como a de Jorge Sousa.

Por isso, mais do que um teste para o Mundial do próximo ano, a partida foi um gesto solidário para quem, no jogo da vida, saiu a perder, mas que sonha com a reviravolta.

Jorge Sousa não esteve no Fontelo a ver o jogo que Fernando Santos começou com apenas quatro campeões da Europa no onze inicial - Anthony Lopes, Pepe, Danilo e João Mário – e do estreante absoluto, Kevin Rodrigues, numa partida marcada ainda pelo regresso de Manuel Fernandes que, mais de cinco anos depois, voltou a vestir a camisola da seleção.

Desde cedo foi possível perceber a seriedade com que os jogadores portugueses encararam um teste diante de uma equipa que, apesar da pálida resposta que deu nesta partida, é uma das equipas apuradas para a fase final do Mundial da Rússia.

Perante um adversário muito recuado, Portugal imprimiu grande velocidade ao seu futebol nos primeiros 20 minutos e esteve perto do golo por várias vezes, com Gonçalo Guedes e Manuel Fernandes a serem os principais rostos do desperdício luso.

Mas foram os mesmos jogadores a fazer mexer o marcador. Ainda na primeira parte, aos 32', Gonçalo Guedes surgiu na direita a ultrapassar o adversário direto e a colocar na área para o médio do Lokomotiv de Moscovo inaugurar o marcador e coroar dessa forma o seu regresso.

E na etapa complementar, depois de muito tentar - e muito falhar - Gonçalo Guedes marcou mesmo o seu primeiro golo na seleção principal, após bom trabalho de Ricardo Pereira na direita.

A partir daí o jogo perdeu alguma qualidade, Portugal diminuiu a velocidade da troca de bola e deixou a Arábia Saudita... ultrapassar o meio-campo, sem conseguir, contudo, incomodar Anthony Lopes, e o jogo arrastou-se para o final, não sem antes João Mário escrever o seu nome na lista de marcadores.

Do jogo e da seleção uma vez que, à 30.ª internacionalização, o médio do Inter Milão marcou pela primeira vez por Portugal. E fez por merecer, diga-se. O homem que terminou o jogo com a braçadeira de capitão tentara inúmeras vezes ao longo da partida e foi feliz aos 90 minutos.

E com esse golo encerrou a história de um jogo que não se jogou apenas dentro das quatro linhas. Aí, o resultado sorriu claramente a Portugal. Fora dele, Portugal deu razões para sorrir a muita gente.

Não sabemos se, na casa de uma cunhada onde passou a morar desde que a sua ardeu totalmente, Jorge Sousa teve oportunidade de ver o jogo. Mas temos a certeza que o homem que há mais de 10 anos é dirigente dos Vozelenses, clube onde chegou a jogar nos tempos da meninice, gostaria de o ter visto.

«Sabe que eu sempre gostei muito de futebol. A minha mulher até já me disse que eu devia mudar a cama para a sede do clube. Mas agora até já avisei para, pelo menos até ao final do ano, não contarem tanto comigo. Continuo a vir cá e a ajudar, mas agora tenho de tratar da minha vida. Eu até chego a sonhar com o futebol, mas agora só precisava mesmo era da minha casinha», confidenciara-nos antes do jogo.

E depois desta partida, o futebol vai voltar a ajudar este homem e outras famílias a sonhar. E é isso que faz dos 90 minutos do Portugal-Arábia Saudita «muito mais do que um jogo».

Continue a ler esta notícia