Raposas velhas com força e algumas fraquezas - TVI

Raposas velhas com força e algumas fraquezas

Slimani bisa na estreia na Premier League

Depois da vitória na Bélgica na primeira jornada, os campeões ingleses lideram isolados o Grupo G. A análise ao adversário do FC Porto na liga milionária

Surpreendente campeão da Premier League na última temporada e debutante na Liga dos Campeões, o Leicester prepara-se para encarar o primeiro jogo em casa na principal prova europeia de clubes, frente ao FC Porto, motivado pela vitória a abrir frente ao Brugge, por três bolas a zero, mas desconfiado pelos resultados mais recentes, em particular as pesadas derrotas frente a Chelsea (Taça da Liga) e Manchester United (campeonato), nas quais sofreu um conjunto de oito golos. Na verdade, os indicadores deixados pelas «raposas», em particular no duelo de Old Trafford, não foram os mais positivos (ou até foram, na perspetiva de Nuno Espírito Santo e do plantel portista).

Apesar de tudo, o Leicester chega a esta partida com uma vantagem de dois pontos sobre os dragões, o que à partida até acrescenta maior pressão ao conjunto português. No King Power Stadium, aliás, a equipa de Claudio Ranieri costuma demonstrar superioridade sobre os adversários, algo atestado pelas duas derrotas (uma delas no prolongamento) nos últimos 25 jogos oficiais caseiros. Estes são os dados animadores, porque de resto há já a contabilizar um total de cinco derrotas, sendo que duas delas acabaram por significar a perda da Community Shield (para o Man. United de Mourinho) e a eliminação prematura da Taça da Liga.

Curiosamente, o emblema das East Midlands apenas perdeu um elemento-chave para a conquista do título na última temporada (N´Golo Kanté), tendo conseguido manter os restantes artífices e acrescentando-lhes ainda reforços de qualidade indiscutível como Islam Slimani, Ahmed Musa, Nampalys Mendy (o teórico substituto de Kanté), Luis Hernández, Ron-Robert Zieler ou o promissor Bartosz Kapustka. De todos estes novos jogadores, apenas Slimani parece ter garantido um lugar de destaque no «onze», embora Zieler, dada a lesão de Kasper Schmeichel, Luis Hernández e Musa já tenham passado esporadicamente pela equipa inicial de Ranieri.

Um Leicester pragmático e que gosta da profundidade

ONZE-TIPO

A equipa de Ranieri parte habitualmente de um sistema em 1-4-4-2, reconvertível num 1-4-4-1-1 ou num 1-4-5-1 em certos momentos específicos. Estruturado para jogar num bloco médio-baixo e explorar as contraofensivas e os lançamentos longos para o ataque, o Leicester ficou conhecido por ter conquistado o título da Premiership com percentagens de posse a rondar, em média, os 40 por cento. Essa é a filosofia do treinador bem à italiana do campeão inglês: se não tens os jogadores ideais para um modelo em posse, para quê tentar jogar apoiado?

Ora, e qual a constituição inicial esperada no conjunto britânico para o duelo com os portistas? Na baliza, mantém-se a dúvida: será que Kasper Schmeichel recupera a tempo da partida? Caso contrário, o ágil internacional alemão Ron-Robert Zieler continuará a assumir o lugar, ele que foi titular nas últimas três partidas.

De resto, e à partida, o «onze» do Leicester deverá ser o mesmo que iniciou o encontro frente ao Manchester United no último sábado: linha defensiva constituída por Simpson, à direita, Morgan e Huth como centrais e Fuchs na lateral esquerda; dupla de meio-campo constituída por Drinkwater e Amartey (apesar da possibilidade da entrada de Andy King), com Mahrez e Albrighton abertos nas alas. No ataque, Slimani e Vardy irão partir numa caçada incessante à baliza de Iker Casillas.

Como de costume, e mesmo tratando-se de um jogo caseiro, não é de esperar um Leicester a buscar a iniciativa de jogo, embora a possa ter em momentos esporádicos do encontro. As bolas longas, buscando a velocidade e combatividade da dupla Vardy-Slimani, parecem um padrão de jogo bem definido da formação inglesa. Muitas vezes, é Drinkwater quem assume essa saída através de um passe longo, embora também os centrais o possam fazer. Diga-se que o internacional inglês é um dos fiéis da balança de Ranieri, dada a enorme disponibilidade física, critério tático, qualidade de passe e remate, em especial no aproveitamento da meia distância.

O momento em que Drinkwater recua para iniciar o processo de construção (no caso, através de um passe longo).

Os laterais projetam-se no ataque com moderação, em especial no caso de Simpson, que é mais um apoio em largura do que propriamente um lateral que acrescenta muita profundidade. Do outro lado, Fuchs revela maior acutilância ao nível do passe e cruzamento, podendo ser um dos nomes responsáveis por servir os goleadores da equipa. Os alas jogam com a perna trocada, ou seja, Mahrez, um canhoto, costuma partir da direita e Albrighton, um destro, parte mais da ala esquerda. É muito comum, portanto, vê-los a procurar zonas mais interiores, de forma a potenciar o melhor pé.

O argelino Mahrez é até, provavelmente, o jogador que mais influência tem na criação de desequilíbrios no meio-campo contrário. A mobilidade, associada a uma velocidade estonteante, à facilidade no drible e na execução de passes, cruzamentos e remates fazem dele um quebra-cabeças para qualquer defensiva contrária. Alex Telles irá certamente ter uma noite de trabalho, bem como os restantes elementos que protegem os corredores interiores no momento defensivo. Deixar espaço e, por conseguinte, margem de manobra para o talentoso criativo africano atirar à baliza ou soltar num colega de equipa pode revelar-se fatal para a turma azul-e-branca.

Importante também limitar ao máximo as movimentações dos avançados do Leicester. Vardy é um avançado difícil de marcar, rápido, que gostar de atacar os espaços, combativo e que sabe fugir às marcações. Slimani, não tendo a potência do companheiro para se escapar em espaços longos, tem mobilidade, arrasta marcações, ganha bem no corpo-a-corpo e revela uma frieza notável a finalizar na área adversária. E se Ranieri quiser tem ainda o robusto Ulloa, o veloz Musa e o destemido Okazaki à disposição, para lançar em campo, assim o jogo (e o adversário) o exijam…

Organização defensiva férrea e o jogo duplo das bolas paradas

O Leicester procura limitar ao máximo o espaço de progressão às equipas adversárias, organizando-se a partir do recuo estratégico das linhas e buscando defender de forma compacta. Como vemos nos «frames» anteriores, o ala que defende do lado onde está a bola fá-lo mais por fora, com o lateral a ficar um pouco mais metido por dentro. Fácil também perceber por aqui como se pode derrubar este Leicester: enquanto o Brugge, por exemplo, colocou apenas dois homens abertos entre as linhas defensiva e do meio-campo, o Manchester United agrupou nesta jogada três homens mais por dentro, facilitando a troca de bola se ela entrar nesse espaço. Aliás, foi através da incursão pelo bloco defensivo do Leicester, através de apoios próximos e de movimentações rápidas dos médios ofensivos e atacantes, que o conjunto orientado por José Mourinho derrubou a barreira defensiva das «raposas».

Outro tipo de jogadas que os portistas poderão explorar são as bolas nas costas da defesa, em particular dos centrais. Tanto Morgan como Huth, pese embora posicionalmente sejam fortes e tenham um bom jogo aéreo, são algo pesados e lentos na reação e quando a linha defensiva adianta um pouco para se juntar à de meio-campo, o adversário pode aproveitar para buscar jogar na profundidade, sendo para tal necessário que consiga escapar com astúcia à armadilha do fora de jogo.

De notar ainda a importância de Drinkwater na garantia dos equilíbrios defensivos da equipa, revelando uma boa capacidade de pressão e recuperação de bola. A seu lado, Amartey mostra agressividade e disponibilidade física, mas está longe de ter a eficácia defensiva de Kanté e, sobretudo, a habilidade para lançar contra-ataques, através de passes médios ou longos.

Quanto às jogadas de bola parada, é de registar o desastre defensivo na partida frente ao Manchester United, com três golos a surgirem na sequência de pontapés de canto, todos do lado esquerdo. No primeiro, Smalling fugiu à marcação que lhe foi concedida entre Huth e Fuchs e cabeceou para o fundo das redes. No segundo, toda a defensiva ainda se procurava organizar para a marcação do canto, quando foi surpreendida por um canto curto para Mata e a rápida assistência do espanhol para a finalização de Rashford. No último, aquele que supôs o 4-0 parcial, Pogba fugiu a Fuchs e cabeceou certeiro ao primeiro poste. As marcações individualizadas do Leicester estavam postas em causa. A marcação pode também ser mista, como dá para ver na imagem seguinte.

É possível verificar também um padrão na marcação dos cantos. Por norma, fica um jogador (que vai variando) a tentar criar um efeito de dispersão na pequena área e outros quatro ou cinco homens atacam o lance entre a zona da marca de «penalty» e o primeiro poste. Fora da área, Drinkwater ou Fuchs, donos de uma boa meia distância, esperam habitualmente uma segunda bola.

Finalmente, outra jogada de bola parada a ter em atenção são… os lançamentos de linha lateral. Os dois laterais (e ainda a alternativa Luis Hernández) já provaram ser exímios nessa arte. Aliás, o primeiro golo em Brugge chegou precisamente num lance desse género.

Albrighton ataca a bola ao segundo poste, depois do desvio de cabeça de um adversário

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