O Liverpool está a realizar a melhor época desde que Klopp chegou a Anfield. Os «reds» têm 29 triunfos em 43 jogos, lideram a Premier League (ainda que com mais um jogo que o Man. City) e estão nos quartos de final da Liga dos Campeões, depois de terem eliminado o Bayern Munique.
É, portanto, um emblema que está em duas frentes, embora a prioridade seja o campeonato que foge desde 1990.
Apesar de manter como base o 4x3x3, importa escrever que o treinador alemão criou várias alterações em relação ao ano passado, no qual os «reds» superaram o FC Porto nos oitavos de final por 5-0 no total das duas mãos.
Já lá vamos.
À semelhança da época passada, o Liverpool é muito forte no momento da transição ofensiva. Contudo, há uma ligeira alteração na forma como a equipa pressiona para depois explorar as saídas rápidas. Confuso?
A organização ofensiva por si só não existe. Está associada à organização defensiva. Klopp criou uma espécie de teia no corredor central quando a equipa está sem bola. O Liverpool já não é uma equipa precipitada na pressão, não usa e abusa do ataque à profundidade. Ao invés, é um conjunto mais cerebral, que atrai o adversário para um «engodo» para ganhar a bola mais perto da baliza contrária.
Firmino posiciona-se ligeiramente atrás de Salah e Mané, preocupando-se com o médio defensivo adversário. O egípcio e o senegalês são quem pressiona os centrais, sobretudo quando há um mau domínio ou um passe atrasado. Quando o indicador de pressão é ativado, a equipa sobe em bloco: os médios encostam nos médios contrários e, muitas vezes, os laterais a saem aos laterais adversários.
Perder a bola nesta fase, significa uma oportunidade de golo para o Liverpool, visto que Salah e Mané são natos a explorar o espaço entre central e lateral. Firmino é um excelente lançador (é a referência quando os três médios recuperam) acabar por potenciar as características dos dois extremos.
Esta fórmula é a prova de que não é preciso ter o bloco baixo para aproveitar as transições ofensivas.
Porém, esta «teia vermelha» não é infalível, porque há qualidade do lado oposto. Na última imagem, o Crystal Palace conseguiu sair pelo lateral-esquerdo e concluir o lance com um golo. Quando a primeira pressão é superada, Klopp quer que os médios pressionem os laterais adversários e aguentem enquanto a equipa se reorganiza. É nesta altura que o Liverpool está mais exposto e pode passar por momentos de desconforto.
Firmino é peça-chave em toda a manobra do conjunto de Anfield: deambula por toda a frente de ataque, assume o papel de fechar no corredor central sem bola e é a referência para ligar o jogo em transição. O internacional brasileiro é um «dez» disfarçado de «nove».
Para além da agressividade aquando da pressão organizada, os dois laterais são muito importantes em ataque organizado pela largura e profundidade que oferecem. São eles que permitem as presenças de Salah e Mané por dentro.
Em suma, o Liverpool gosta de construir desde o guarda-redes: centrais abertos (Matip sai melhor em condução do que Van Dijk) com os dois médios perto para receber e «pegar» no jogo. Firmino e o terceiro médio trocam constantemente de posição até encontrarem espaço para receber. Os laterais, por sua vez, projetam-se para receber já no meio-campo ofensivo.
Para além disso, há que ter atenção ao ataque à profundidade de Mané e Salah nesta primeira fase de construção, que solicitam os lançamentos longos de Virgil Van Dijk.
Resumidamente, o Liverpool sente-se melhor em transições, mas não se dá mal em ataque organizado. É uma equipa que tem carências defensivas: o espaço entre linha média e linha defensiva - usar os extremos ou mesmo os avançados como apoios para superar a pressão alta como fez o Arsenal - e uma eventual superioridade nos corredores laterais (FC Porto pode atrair os «reds» a um corredor e depois circular rapidamente para o flanco oposto e aproveitar superioridade nesse lado).
Nota: Robertson não está disponível para esta partida. Moreno ou Milner são as alternativas e será interessante perceber de que forma a ausência do escocês pode alterar (ou não) a dinâmica ofensiva dos «reds».