Portugal-Holanda, 1-0 (crónica) - TVI

Portugal-Holanda, 1-0 (crónica)

Guedes rebentou os diques e o mar português celebrou os seus heróis

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De repente, é como se o Dragão fosse o Stade de France e quinas voltassem a coroar os céus da Europa.

Esta noite, os heróis do relvado levantaram, uma vez mais, o esplendor do futebol de Portugal.

Esta noite (que noite!), o mar português arrebatou uma Holanda vestida de azul céu.

À terceira final, segunda em casa, a Seleção despojou-se em definitivo dos traumas e, no Porto, enterrou de vez a má memória daquela final em Lisboa, que já leva década e meia.

O campeão europeu é agora vencedor da Liga das Nações. E Santos, agora em casa, voltou a fazer o seu pequeno milagre.

Mas isto é só o fim desta história. Voltemos ao começo. E de início Fernando Santos deixou de parte o falhado losango no meio-campo, com que a seleção se apresentou frente à Suíça, e apostou num bem mais sólido e rotinado 4-3-3.

FICHA DE JOGO DO PORTUGAL-HOLANDA: 1-0

Na frente, Gonçalo Guedes entrou para o lugar de João Félix, com Bernardo a jogar mais sobre o flanco. No meio-campo, Danilo veio para dar consistência defensiva, substituindo Rúben Neves, que esteve em bom plano nas meias-finais, mas que – entende Santos – é mais macio para este sistema. No setor mais recuado, José Fonte rendeu o lesionado Pepe.

Três alterações, contra nenhuma da Holanda, que repetiu sistema tático, de 4-3-3, e o onze que jogou frente à Inglaterra.

Deu-se bem Portugal com esta abordagem: o jogo fluía como pouco se havia visto na passada quarta-feira. Danilo como tampão, coadjuvado por William, permitia a Bruno Fernandes soltar-se mais e fazer as transições, jogando ao primeiro toque, ou então aparecer sucessivamente em zona de remate: aos 39 atirou a rasar a trave, após toque de Bernardo Silva, que sobre a direita era um tormento para Blind. 

Vale a pena abrir parênteses para falar de Bernardo. Que delícia é ver um pequeno génio triunfar entre gigantes! São jogadores como ele que nos fazem acreditar que no futebol não há arma mais letal do que a inteligência. 

Portugal-Holanda, 1-0 (destaques): o papel principal de Guedes no mundo de Bernardo

Mas voltemos ao meio do jogo. A Holanda até teve mais bola (59%-41%), mas quase não criou perigo em 45 minutos. Pelo que, ao intervalo, os números eram esmagadores: 12 remates (quatro deles à baliza) contra apenas um dos holandeses, 6-1 em cantos.

À equipa de Ronald Koeman valiam sobretudo Van Dijk e De Ligt. Provavelmente, a melhor dupla de centrais da atualidade. Dois diques capazes de travar a avalancha da armada lusa.

A torrente ofensiva portuguesa, porém, não abrandou no segundo tempo.

Até que, à hora de jogo, uma triangulação inspirada havia de finalmente acertar na combinação mágica que viria a abrir as comportas dos Países Baixos.  

Guedes recuperou uma bola, viu Bernardo, que com a inteligência de sempre a devolveu redonda para a entrada da área, onde Guedes chutou com fé e fez a bola entrar, com Cillessen a parecer mal batido.

GOLO. GOLO DE PORTUGAL! E uma onda de alegria a encher as bancadas com milhares de bandeiras nacionais.

A aparente maré de azar acabara. No entanto, havia meia-hora para segurar a vantagem.

Se os primeiros 60 minutos de jogo foram de destemida conquista, a última meia-hora foi de brava resistência.

A Holanda teve de compensar depois do golo o que não havia feito no dobro do tempo. Esticou-se no campo, à medida que Portugal se encolhia.

...Um cabeceamento venenoso de Depay, um disparo potente de De Roon, um desentendimento entre Rúben Dias e Patrício... Os calafrios sucederam-se, sem que o nefasto balde de água gelada caísse alguma vez sobre o Dragão.

Portugal mereceu estar em vantagem e depois soube conter o ímpeto holandês. Fernando Santos fez entrar Rafa, que deu profundidade, e equilibrou a equipa com Moutinho. Estratégia acertada.

O tempo correu e a glória chegou ao soar de um apito.

Depois de intermináveis décadas sem conquistar um troféu, Portugal conquista o segundo em três anos: o campeão da Europa é agora detentor da Liga das Nações.

Quem ainda tem Ronaldo e já tem Bernardo e tanto talento à solta, terá certamente a ambição de haver muito mais para conquistar.

Não sendo apropriado citar Chico Buarque, que é de Holanda, é como canta Sérgio Godinho: «A sede de uma espera só se estanca na torrente.»

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