Seleção: os anos que mudaram Portugal - TVI

Seleção: os anos que mudaram Portugal

Portugal vence Liga das Nações

A vitória na Liga das Nações chega 15 anos depois do Euro 2004, a primeira final perdida, também em solo nacional. Uma espécie de fecho de círculo a reforçar a melhor era de sempre da seleção. Que vem de trás, olha para o futuro e tem um presente notável

Portugal passou desde domingo a conjugar títulos internacionais no plural, com a vitória na Liga dos Nações. Em solo nacional, 15 anos depois da primeira final da história, uma espécie de fecho de círculo a reforçar a melhor era de sempre da seleção nacional. Que vem de trás, olha para o futuro e tem um presente notável, com Portugal no topo da Europa.

Como primeiro vencedor da Liga das Nações, Portugal reforça o palmarés, do alto do estatuto de campeão europeu em título, e consolida a posição de elite que foi construindo ao longo deste século. Se juntarmos as duas meias-finais de 2000 e 2012, nenhuma seleção chegou tantas vezes à reta final de Europeus neste período. Portugal é além disso uma das quatro seleções que estiveram presentes em todas as fases finais de Campeonatos do Mundo e da Europa desde 2000. Só mais três o conseguiram: a Espanha, que tem dois títulos europeus e um Mundial neste período, a França, também campeã da Europa e campeã do Mundo no séc. XXI, e a Alemanha, que chegou ao título mundial em 2014. Se Portugal foi das quatro a única que chegou à fase final da Liga das Nações, o palmarés destas duas décadas também mostra que na comparação falta ainda à seleção a afirmação global, quando o melhor registo em Mundiais neste período é a meia-final de 2006, na Alemanha.

Nuno Gomes, 79 vezes internacional e o quinto melhor marcador da Seleção, foi um dos protagonistas dessa primeira fase de crescimento internacional de Portugal no dobrar do século e fala com o Maisfutebol sobre este percurso. Que teve altos e baixos, mas com uma linha consistente de qualidade e ambição. «Em 2000 fizemos uma excelente campanha no Europeu. Desde a não qualificação para o Mundial 98, Portugal esteve sempre presente nas fases finais. O Euro 2004 foi quando esteve mais perto, infelizmente não conseguiu.» 

A festa da Liga das Nações no Porto leva inevitavelmente à associação ao Euro 2004, acentuada pela coincidência da efeméride. Quase dia por dia. Foi a 12 de junho de 2004, faz agora 15 anos, que Portugal deu no então novíssimo Estádio do Dragão o pontapé de saída para o «seu» Europeu. Era a festa portuguesa, estádios feitos de raíz, um enorme investimento e uma onda de entusiasmo em torno da equipa. Começou mal, com a derrota frente à Grécia. Nesse primeiro jogo, Karagounis e Basinas adiantaram a Grécia. Ao intervalo Scolari fez entrar Deco e Cristiano Ronaldo, era o futuro e Cristiano fez questão de deixar desde logo a sua marca, um cabeceamento para o 2-1 já em cima da hora. Não evitou a derrota, mas apontou o caminho.

Daí para a frente Portugal foi crescendo, embalado pelo entusiamo do país. Venceu a Rússia, venceu a Espanha, passou a Inglaterra naqueles quartos de final épicos, ganhou à Holanda na meia-final. E marcou encontro com a Grécia para a final, no Estádio da Luz. O que se passou naquele 4 de julho de 2004 é história, não tem muito de lógica. Um golo de Charisteas decidiu e deu o título à Grécia. «Foi uma grande desilusão. Uma tristeza enorme. Era a primeira vez que chegávamos a uma final, tínhamos tudo a nosso favor. A desilusão foi ainda maior por isso. Mas o futebol é mesmo assim», recorda Nuno Gomes.

A experiência e a certeza «de que mais tarde ou mais cedo se iria conseguir»

O Euro 2004 foi um marco, a primeira final portuguesa. E uma enorme desilusão. Mas não foi um fim de linha. Daí para a frente Portugal deu continuidade ao percurso que vinha de trás. E logo dois anos mais tarde chegou à meia-final do Mundial, pela primeira vez em 40 anos, para aquela que é ainda a segunda melhor prestação nacional num Campeonato do Mundo, depois do terceiro lugar de 1966. «Em 2006 fomos eliminados do Mundial pela França, também estivemos perto de chegar à final», recorda Nuno Gomes.

Para trás foi ficando um tempo de que já só vive na memória dos mais velhos, quando a regra era Portugal nem chegar aos Europeus e aos Mundiais. Até 2000, a Seleção qualificou-se para quatro fases finais em oito décadas. Desde então, somou-lhes mais 10. «A qualificação também mudou. Era mais difícil antigamente se calhar conseguir o apuramento, só era apurada uma equipa», salvaguarda Nuno Gomes: «Mas é verdade que os jovens de hoje se habituaram a algo que antes não era normal, ver a seleção sempre em fases finais. É sinal da evolução da seleção.»

Estar lá sempre é estar mais perto. «Esses tempos em que Portugal esteve perto mas não conseguiu deram maior experiência e uma maior certeza de que mais tarde ou mais cedo se iria conseguir lá chegar», continua Nuno Gomes. E chegou.

O passo que faltava aconteceu em 2016, com Fernando Santos a liderar a equipa que acabou com a frustração do «quase» e levantou mesmo a taça no Stade de France, a 10 de julho de 2016. Portugal campeão da Europa. «Estes últimos três anos foram sem dúvida fantásticos na forma como materializaram esse crescimento em títulos», observa o antigo avançado. 

O sucesso é uma conjugação de muitos, tantos fatores. Em campo e fora dele. Nuno Gomes deixa algumas ideias: «Está-se a trabalhar muito bem jovens talentos e a permitir à seleção aproveitar jogadores novos. Portugal tem sabido renovar-se e manter-se competitivo. O grande mérito foi nunca deixar de acreditar que seria possível um dia Portugal vencer uma grande competição. Não só os jogadores evoluíram, a Federação também evoluiu, foi dando cada vez melhores condições aos jogadores.»

O factor Cristiano Ronaldo e o futuro

E há Fernando Santos, o selecionador que esteve no banco nos dois títulos. E, claro, o factor Cristiano Ronaldo. Com o agora capitão, Portugal sublimou a afirmação internacional ao longo da última década e meia e juntou-lhe os títulos. Ele é, além de tudo o mais, o denominador comum da presença de Portugal em finais. O único sobrevivente do Euro 2004, o mais internacional de sempre, o melhor marcador da história da Seleção, o único que esteve nas três decisões. Aos 34 anos, voltou a liderar a seleção na Liga das Nações, ele que não participou na fase de grupos da prova, pediu escusa para se adaptar à Juventus.

Fez a diferença na meia-final, como em tantos e tantos outros jogos, e voltou a ficar em branco na final, uma vez mais. Ainda está por aí, cheio de vontade, garantiu ele uma vez mais na festa no Dragão. Que assim seja, diz Nuno Gomes: «Espero que o Cristiano continue mais alguns anos e nos ajude a conseguir ganhar todos os títulos, incluindo o que ainda nos falta, o Mundial.»

Mas um dia deixará de haver Cristiano. Será muito diferente, mas Nuno Gomes acredita que há razões para confiar no futuro: «Portugal tem todas as condições para continuar nesta senda positiva. Na seleção há grandes jogadores. Não sei se vão chegar ao nível do Cristiano Ronaldo, mas há jogadores jovens com muito talento. O Bernardo Silva, o João Félix, o Bruno Fernandes, o Rúben Dias… Nas camadas mais jovens também há muito bons jogadores.»

No futebol, no entanto, nada é garantido. E o próximo desafio está já aí e não começou bem. Portugal iniciou a qualificação para o Euro 2020 com dois empates caseiros, frente à Sérvia e Ucrânia, e tem em setembro dois jogos fora, de novo com a Sérvia e com a Lituânia, para tentar emendar a mão e pôr-se a salvo de percalços.

Portugal em competições internacionais neste século

Euro 2000: meia-final

Mundial 2002: primeira fase

Euro 2004: final

Mundial 2006: quarto lugar

Euro 2008: quartos de final

Mundial 2010: oitavos de final

Euro 2012: meia-final

Mundial 2014: primeira fase

Euro 2016: campeão

Taça Confederações 2017: meia-final

Mundial 2018: oitavos de final

Liga das Nações: campeão

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