O Zenit-Benfica visto por quem esteve com Lage quase «desde os sub-9» - TVI

O Zenit-Benfica visto por quem esteve com Lage quase «desde os sub-9»

Zenit-Benfica (Reuters)

Último duelo apurou águias para os quartos de final da Champions pela derradeira vez. Reencontro retoma uma história de percursos cruzados, em circunstâncias bem diferentes. O que espera o Benfica, num olhar familiar a partir da Rússia

Benfica e Zenit encontraram-se pela última vez em março de 2016, em São Petersburgo, com final feliz para as águias. Foi a última vez que o Benfica chegou aos quartos de final da Liga dos Campeões. Também foi um marco para o Zenit, que desde então não tinha voltado à fase de grupos da Champions, até agora. O reencontro desta quarta-feira em São Petersburgo retoma uma história feita de percursos cruzados, em circunstâncias bem diferentes. Até o estádio do Zenit é outro. E chega com o Benfica a precisar de um resultado positivo, sob pena de comprometer muito as ambições na competição.

O Zenit joga agora no Estádio São Petersburgo, um palco de luxo feito de raiz para o Mundial, inaugurado em 2017. Imponente, diz o jogador português Miguel Cardoso, que joga no Dínamo Moscovo e antecipa para o Maisfutebol o que espera o Benfica na Rússia.  «Tem um ambiente caloroso, como qualquer estádio na Rússia. O estádio é novo e imponente. E a jogar em casa o Zenit sente-se mais confortável», observa o extremo de 25 anos, que fez a formação no Benfica, onde chegou muito jovem e trabalhou desde cedo com Bruno Lage. «Mas penso que não seja por aí, o Benfica também está habituado a estes ambientes, está habituado ao Estádio da Luz», acrescenta.

Foi ainda no velho estádio Petrovsky que o Benfica defrontou o Zenit como visitante nos três duelos anteriores. Foi um confronto bem familiar na primeira metade da década. Seis jogos entre 2011 e 2016, com três vitórias para cada lado, todas com golos e todas com histórias bem diferentes. Duas delas deram ao Benfica as únicas presenças nos quartos de final da Liga dos Campeões nos últimos treze anos, a outra significou o adeus à Champions na fase de grupos.

Tantos caminhos cruzados em seis histórias

Da primeira vez, em 2011/12, estava também em jogo o apuramento para os quartos de final da Liga dos Campeões. No primeiro jogo, em São Petersburgo, o Zenit venceu por 3-2 (leia a crónica), com um dos golos marcados por Sergei Semak, o atual treinador do Zenit. Mas na Luz o Benfica deu a volta a um Zenit que tinha os portugueses Bruno Alves e Danny, um 2-0 com golos de Maxi Pereira e Nélson Oliveira. O Benfica seguiu em frente e acabou eliminado pelo Chelsea, que acabou campeão europeu. O Chelsea de Branislav Ivanovic, o defesa que na época seguinte marcaria o golo da vitória sobre o Benfica na final da Liga Europa. E que é o capitão do Zenit e ainda na véspera do jogo lembrou esse momento na conferência de imprensa.

Caminhos cruzados, lá está. O duelo seguinte entre Benfica e Zenit, em 2014/15, foi o único em fases de grupos e terminou com triunfos nos dois jogos de uma equipa russa com muitas caras familiares. Danny era o capitão de uma equipa orientada por André Villas-Boas, que tinha ainda o agora sportinguista Luís Neto, os ex-benfiquistas Garay, Javi Garcia e Witsel e o ex-portista Hulk. O Zenit venceu na Luz logo na primeira jornada, 2-0 com golos de Hulk e Witsel, e o duelo em São Petersburgo na penúltima ronda, decidido a favor dos russos com um golo de Danny (1-0), pôs fim às hipóteses de apuramento do Benfica, que acabou no último lugar.

Na época seguinte, já com Rui Vitória no banco do Benfica, novo encontro. Agora de novo nos oitavos de final e mais uma vez com o Benfica a levar a melhor. Um golo de Jonas nos descontos na primeira mão (1-0) deixou o Benfica em vantagem para a decisão em São Petersburgo. Hulk cumpriu o velho hábito de marcar ao Benfica e empatou a eliminatória ao fim de uma hora de jogo, mas nos minutos finais Gaitán e Talisca confirmaram o apuramento do Benfica (2-1), que seguia em frente e seria eliminado nos quartos de final pelo Bayern Munique. Foi o único triunfo das águias em casa do Zenit.

Ainda estão na Luz vários jogadores desse tempo, como Jardel, Fejsa, Samaris, Pizzi, Taarabt, Rúben Dias, que já integrava o plantel principal, ou André Almeida, que falha o jogo desta quarta-feira por lesão.

Os pontos fortes do novo Zenit

O Zenit também mantém alguns jogadores, mas é uma equipa bem diferente. Que passou por um período mais cinzento depois da saída de Villas-Boas, com várias mudanças de treinador, mas está a recuperar. Campeão na época passada, «tem vindo a crescer novamente», diz Miguel Cardoso: «Como qualquer dos grandes da Rússia. Financeiramente é muito diferente a realidade dos clubes grandes da Rússia para o resto da Europa, têm muita capacidade de investimento.» O Zenit que defrontou o Benfica no tempo de Villas-Boas podia ter nomes mais sonantes, mas esta também é uma equipa forte, ainda que pareça menos internacional: «O jogador russo também tem vindo a crescer. Os internacionais russos não saem, porque não precisam. Em termos de trabalho e em termos económicos não têm interesse em sair do país. Juntando alguns bons jogadores estrangeiros, conseguem fazer sempre equipas fortes.»

O Zenit, que perdeu a liderança na última jornada mas está a dois pontos da frente à 11ª jornada do campeonato russo, tem uma equipa estável, acrescenta Miguel Cardoso: «Mantém-se basicamente a mesma equipa. O treinador é o mesmo, a equipa também não mudou muito. Contrataram o Malcolm, que não tem jogado muito, mas mantém-se a mesma base.»

O jogador português aponta depois os pontos fortes do Zenit, que já não tem jogadores portugueses, mas tem o venezuelano Yordan Osorio, cedido pelo FC Porto: «É uma equipa que vive muito à custa dos dois avançados, do que possam fazer os dois avançados. O Dzyuba, internacional russo, um jogador muito forte, muito alto, muito forte no jogo aéreo. E o Azmoun, que joga nas sobras dele. Tem bons jogadores e é também uma equipa muito agressiva e muito forte também no jogo aéreo», analisa. 

«Mas o Benfica tem todas as condições para conseguir um bom resultado», defende. «Agora, os jogos da Liga dos Campeões são muito diferentes do campeonato. O Zenit também vai tentar aproveitar o facto de jogar em casa, mas penso que o Benfica tem todas as hipóteses de fazer um bom resultado.»

O Benfica entrou na Liga dos Campeões a perder em casa com o Leipzig e tem estado abaixo das expectativas na competição nas últimas épocas. Miguel Cardoso acredita que as águias têm qualidade para vencer em São Petersburgo, mas acredita que o passado recente pode representar pressão extra.

«O Benfica não começou bem em casa, certamente quer rectificar e apesar de vir com pressão extra penso que tem todas as condições para isso, a nível individual e coletivo. Pode haver pressão adicional pelo facto de não conseguir nos últimos anos bons resultados. Mas o Benfica tem uma excelente equipa», afirma, para deixar uma ideia sobre os motivos para o menor rendimento do Benfica na Champions: «A Liga dos Campeões é sempre diferente, se calhar falta mais competitividade interna, porque são competições totalmente diferentes. O Benfica se calhar não tem as mesmas dificuldades no campeonato nacional e na Liga dos Campeões, onde apanha equipas e jogadores que são já doutro nível.»

Mas a ambição está lá, acredita Miguel Cardoso, ele que fez a formação no Benfica, de onde saiu com a idade de junior, e que jogou no Deportivo Corunha, no U. Madeira e no Tondela, antes de sair há um ano para a Rússia. Curiosamente, Bruno Lage lembrou na véspera do jogo como trabalha no clube «desde os sub-9», para reforçar a ideia de uma cultura de ambição do clube. Miguel Cardoso, que trabalhou desde cedo com o atual treinador do Benfica, recua a esse tempo para falar das qualidades que Lage já demonstrava nessa altura: «Era um treinador que sabia levar muito bem o balneário, muito próximo dos jogadores. A nível tático também muito bom, mas distinguia-se pela forma de lidar com os jogadores. Apanhei-o nas escolinhas, nos juvenis... Tinha a perspetiva de que pudesse chegar longe, mas não que fosse tão rápido. Mas aproveitou, e no ano passado em seis meses fez a recuperação que fez com todo o mérito.»

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