Pedro Emanuel tinha recorrido à fábula de David e Golias na antevisão do jogo deste domingo, mas a história que está nos anais da história de Israel não se repetiu e, desta vez, o «gigante» esmagou o atrevido herói antes que este tivesse tempo de armar a funda. Com uma entrada fulgurante, o leão deixou o jogo resolvido nos primeiros minutos e depois descansou. Descansou em demasia e só não acordou com um enorme balde de água fria porque o vídeo-árbitro, que já tinha anulado um golo a Bas Dost, também anulou o golo do empate no último lance da partida. Um final de emoções fortes que promete dar que falar, mas a verdade é que os leões seguem embalados com quatro vitórias consecutivas e já deixaram o campeão para trás. Na retina deste jogo ficou o grande golo de Bruno Fernandes, sem dúvida a grande figura deste novo Sporting.
Um Sporting sem dois campeões da Europa. Ao início da tarde já se sabia que William Carvalho não constava na lista de convocados e, uma hora antes do início da partida, soube-se também que Adrien também não ia a jogo. Jorge Jesus recuou, assim, Bruno Fernandes para mais perto de Battaglia e apostou na estreia de Alan Ruiz para o apoio direito a Bas Dost que regressou à titularidade depois de ter sido suplente em Bucareste. Apenas duas alterações em relação à goleada ao Steaua, mas uma entrada bem mais fulgurante.
O Sporting entrou no jogo inclinado para a baliza de Moreira e marcou logo a abrir quando muitos adeptos ainda procuravam os respetivos lugares, com Coentrão a subir pela esquerda e a assistir Acuña que cruzou rasteiro para o segundo poste. Bas Dost não chegou, mas Gelson apareceu para encostar para o primeiro golo da tarde. Os leões abriam bem o jogo pelas alas e obrigavam o Estoril a esticar a sua defesa e, logo a seguir ao primeiro golo, os leões estiveram muito perto do segundo, desta vez com Gelson a cruzar para Bas Dost que ficou a centímetros de nova festa. A equipa de Pedro Emanuel não tinha tempo para respirar, com os leões a subirem em bloco e a colocarem muita gente nas imediações da área canarinha.
No meio do furacão inicial, foi num momento de pausa que o Sporting chegou ao segundo golo. Livre a uns bons trinta metros da baliza de Moreira com Bruno Fernandes a levantar o estádio, com a bola entrar junto ao angulo, sem hipóteses para Moreira. Onze minutos e Alvalade empolgava-se, mas logo a seguir o leão entrava em gestão. O ritmo baixou de forma mais do que evidente, com os jogadores a gerir o esforço do jogo dos milhões a meio da semana, e o Estoril aproveitou para sair do sufoco e ensaiar os primeiros lances de ataque, quase sempre pela direita.
Leão levanta o pé, canarinhos entram no jogo
De forma intencional ou não, André Claro e Kléber descaíam persistentemente para a direita, colocando pressão sobre Fábio Coentrão. O lateral, bem apoiado por Mathieu, foi resolvendo um problema de cada vez, sem grandes dores de cabeça. Os canarinhos ainda conquistaram alguns pontapés de cantos, mas com um futebol demasiado previsível, raramente conseguiram incomodar a defesa leonina que, sempre bem posicionada, cedia poucos espaços na zona de finalização. Apenas uma exceção na primeira parte, na sequência de um canto da direita, em que Kléber desviou de cabeça junto ao primeiro poste, mas Monteiro não chegou a tempo da emenda no segundo.
O Sporting descansava do esforço que despendeu a meio da semana de forma assumida, fazendo a bola correr, controlando o adversário, mas já sem o ímpeto inicial que lhe permitiu construir a vantagem. A fechar a primeira parte, mais duas oportunidades para o Sporting, primeiro num remate de Coates, na conclusão de um bom lance entre Gelson e Battaglia, depois num cruzamento açucarado de Acuña em que Moreira ainda conseguiu tirar da cabeça de Bas Dost, mas colocou-a na cabeça de Gelson, que surpreendido com o «brinde», rematou por cima.
O Estoril tinha sido meiguinho na primeira parte e Pedro Emanuel procurou sacudir a equipa com duas alterações de uma assentada na segunda parte, prescindindo de Mano e Gustavo Tocantins para lançar Jorman Aguillar e Joel, mas a verdade é que pouco mudou. O ritmo continuou baixo, com o Sporting a controlar o jogo e a gerir ritmos. O Estoril bem tentou levar o jogo para junto da baliza de Patrício, mas sem sucesso. O Sporting recuperava facilmente a bola, com Battaglia e Alan Ruiz muito ativos, e quando acelerava criava perigo, mas sem pressão, mais à espera que os erros do Estoril permitissem novas oportunidades. E a verdade é que o terceiro golo esteve para acontecer num mau alívio que quase traiu Moreira.
O Estoril foi-se apagando até quase extinguir-se e o jogo aproximou-se do final com o Sporting novamente por cima, junto à baliza de Moreira, mesmo com um Bas Dost em tarde pouco inspirada, quase fora do jogo. Gelson voltou a estar perto de marcar, Bataglia, de cabeça, também, mas era Mathieu que arrancava mais aplausos das bancadas, com constantes recuperações e boas dobras aos companheiros.
Final de loucos….
Os últimos instantes foram impróprios para cardíacos. A começar comm um golo inesperado do Estoril num alívio inofensivo de Piccini que permitiu a Evangelista encher o pé para mais um grande golo em Alvalade. Um golo que noutros tempos, a cinco minutos do final, podia ter feito tremer o Sporting, mas não foi o caso.
O leão voltou a despertar e até ao final voltou a estar perto do terceiro. Primeiro numa iniciativa individual de Acuña, depois num pontapé de Bas Dost da zona de grande penalidade para uma grande defesa da Moreira. Hoje não era definitivamente noite para o goleador holandês que até levantou o estádio com um terceiro golo que acabou anulado, uma vez que Piccini, que fez a assistência, estava claramente em fora de jogo.
Quando parecia que estava tudo decidido, voltou a fazer-se um silêncio ensurdecedor em Alvalade. Na sequência de um livre, Pedro Monteiro bateu Patrício com um remate cruzado. O banco do Estoril levantou-se em festa, mas afinal este golo também não valeu, com o vídeo-árbitro a assinalar uma posição irregular do central canarinho. Enorme alívio nas bancadas e novamente a festa num jogo, que apesar dos muitos momentos de pouco fulgor, acabou com as emoções ao rubro. Sem vídeo-árbitro os leões estariam a festejar a esta hora?