Maior seca do Sporting, 19 anos sem título: «Tudo descambou em 83» - TVI

Maior seca do Sporting, 19 anos sem título: «Tudo descambou em 83»

Sporting 1981/1982

Leões já sabem que na melhor das hipóteses só serão campeões em 2021. Clube nunca esteve tanto tempo sem o campeonato. «Tudo começou com a dispensa de 14 jogadores por parte do presidente João Rocha. O clube nunca mais teve paz», defende Ademar, um dos heróis de 82

Números duros para os corações sportinguistas. Mais uma época, mais um ano desportivo sem razões para alegrias, a certeza de que o Sporting estará pelo menos até 2021 em «seca».

O Sporting já sabe que não será campeão nacional, depois da vitória do FC Porto sobre o Belenenses SAD inviabilizar matematicamente a crença leonina, e baterá todos os recordes negativos do clube no principal escalão.

O maior hiato de títulos no Campeonato Nacional registava-se entre 1982 e 2000 (18 anos) e esse período será agora batido. Na melhor das hipóteses, Alvalade ficará pelo menos 19 anos a ver os adversários a celebrar no fim: 2002-2021.

Até 1982, o Sporting Clube de Portugal foi 16 vezes campeão nacional – o primeiro na temporada 1940/41 – e daí até hoje, em 38 anos, só voltou a ser mais duas vezes. Em 2000 e em 2002. Onde, quando e como começou a mudar tudo na vida do Sporting?

Ademar, bicampeão pelos leões em 1980 e 1982, tem uma opinião concludente: «Tudo descambou a partir do verão de 1983, quando o presidente João Rocha decidiu dispensar 14 ou 15 atletas do plantel principal, muitos deles campeões nacionais pelo clube.»

O antigo médio, de resto, foi uma das vítimas dessa limpeza de balneário em Alvalade. Com ele saíram, entre outros, nomes como os de Meszaros, Fidalgo, José Eduardo, Bastos, Nogueira, Marinho e Freire.

«Nada fazia prever este ciclo tão mau. Em 1983 começa, do meu ponto de vista, a debacle, a maldição. Eu também saí porque o presidente João Rocha me ofereceu um ordenado ao nível do último dos suplentes. Achei que era uma falta de respeito por alguém com mais de dez anos de clube, seis dos quais a titular da equipa principal.»

Ademar foi um dos leões que fez os 90 minutos no jogo do título de 1982. O Sporting garantira o campeonato na jornada anterior, ao vencer por 3-0 em casa do Estoril-Praia, e na penúltima jornada recebeu e goleou o Rio Ave por 7-1. Rui Jordão marcou cinco (!) golos, Manuel Fernandes bisou.

VÍDEO: a festa do título do Sporting em 1982

Apesar das «boas memórias» e dos 165 jogos pelo Sporting, Ademar continua magoado com a gestão da direção no pós-1982.

«A dignidade não me tiraram, pelo menos isso. Na altura, quem era da casa não valia nada. Felizmente, as coisas melhoraram nesse sentido. As pessoas falam muito do Paulo Futre e do Litos, mas eu fui o primeiro jogador a passar por todos os escalões de formação e a chegar ao plantel principal.»

Do título de 1982, o último ganho antes do primeiro grande período sem campeonatos – 18 anos, até 2000 -, Ademar recorda a «mentalidade ganhadora» e os «métodos inovadores» de Malcolm Allison, o treinador britânico que conduziu a equipa à dobradinha.

«Apanhei o senhor Allison no Sporting, no V. Setúbal e no Farense. Não era o mesmo homem. Em Alvalade trouxe ideias fantásticas, um grande cuidado nas bolas paradas, enorme rigor na preparação dos jogos. Depois… ficou diferente, começou a lembrar-se macacadas, de pintar as caras aos jogadores. Eu não gostava nada disso.»

Malcolm Allison seria despedido na pré-época seguinte. As crónicas da época dizem que o técnico abusava diariamente do álcool e que tinha comportamentos estranhos com toda a gente. António Oliveira acabou por substituí-lo no cargo, passando a ser treinador-jogador.

«Começámos bem, ganhámos logo ao Benfica por 2-0 no Torneio Cidade de Lisboa e sentimos que podíamos ser os mais fortes. Eu fiz uma grande época [38 jogos oficiais/4 golos], a jogar sobretudo no meio-campo. Também fui lateral direito quando a equipa jogava com três centrais.»

Sporting, pelo menos 19 anos sem ser campeão nacional, pressão extra para Rúben Amorim e os seus pupilos na próxima temporada. Importa lembrar que o FC Porto tem um registo histórico semelhante [não foi campeão entre 1959 e 1978] e o Benfica possui como período mais pobre os 11 anos entre 1994 e 2005.

Os campeões do Sporting em 1982:

Guarda-redes:

. Meszaros: 29 jogos no campeonato nacional
. Melo: 1 jogo
. António Fidalgo: 2 jogos

Defesas:

. Francisco Barão: 20 jogos
. José Eduardo: 4 jogos
. Marinho: 19 jogos
. Zezinho: 3 jogos
. Paulo Menezes: 2 jogos
. Bastos: 6 jogos
. Virgílio: 30 jogos/2 golos
. Eurico Gomes: 30 jogos
. Augusto Inácio: 13 jogos

Médios:

. Mário Jorge: 21 jogos/2 golos
. Ademar: 28 jogos/3 golos
. Nogueira: 24 jogos/2 golos
. Carlos Xavier: 23 jogos
. Vítor Esmoriz: 1 jogo
. Lito: 13 jogos/2 golos
. António Oliveira: 24 jogos/12 golos

Avançados:

. Carlos Alberto: 5 jogos/1 golo
. Manuel Fernandes: 27 jogos/15 golos
. Rui Jordão: 27 jogos/26 golos
. Freire: 16 jogos/1 golo

VÍDEO: o hino dos campeões de 1982:

CLASSIFICAÇÃO FINAL 1981/1982:

1. Sporting: 46 pontos

2. Benfica: 44

3. FC Porto, 43

4. V. Guimarães, 38

5. Rio Ave, 34

6. Portimonense, 32

7. Sp. Braga, 30

8. V. Setúbal, 28

9. Boavista, 26

10. Sp. Espinho, 25

11. Amora, 24

12. Estoril-Praia, 24

13. Penafiel, 23

14. Ac. Viseu, 23

15. Belenenses, 20

16. U. Leiria, 20

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