A cada dois anos, a grande festa do futebol africano torna-se num tormento para vários clubes europeus.
A Taça das Nações Africanas, ou CAN (sigla deriva da designação francófona Coupe d’Afrique des Nations), disputa-se entre 14 de janeiro e 5 de fevereiro no Gabão e promete causar dores de cabeça também aos clubes portugueses, que tal como outros emblemas europeus vão durante um período significativo deixar de poder contar com alguns dos seus principais jogadores.
Ao contrário de Benfica e Sporting, que não têm no plantel principal qualquer jogador entre os convocáveis, o FC Porto vai ter uma baixa de peso: Yacine Brahimi, que nas últimas jornadas ganhou preponderância nas opções de Nuno Espírito Santo, será uma das estrelas da seleção da Argélia.
O FC Porto tentou adiar a partida do seu jogador para a seleção, que por ser uma das grandes candidatas ao título deverá ficar até a uma fase adiantada da competição, e terá pedido à federação argelina permissão para Brahimi se apresentar na concentração apenas no dia 9 de janeiro, quatro dias após a data prevista, de modo a possibilitar a utilização do extremo na difícil deslocação a Paços de Ferreira, da 16.ª jornada. No entanto, Georges Leekens, belga que é o atual selecionador das «Raposas do Deserto» não parece disposto a abrir exceções.
Em Braga, a principal ausência será também no ataque, já que o ponta-de-lança Ahmed Hassan fará muito provavelmente parte dos convocados do Egito e desfalcará o eixo do setor ofensivo da equipa de Jorge Simão.
No vizinho Vitória de Guimarães, outra baixa importante na frente: Moussa Marega, melhor marcador da Liga, a par de André Silva, tem sido titular na seleção do Mali e será opção para o técnico Alain Giresse, tal como o médio da equipa B vimaranense Falaye Sacko.
Rio Ave pode perder quatro jogadores
Não obstante ainda não serem conhecidas as convocatórias finais das 16 seleções participantes na CAN, neste momento já será possível antecipar que o clube da Liga mais afetado pela cedência de jogadores para competição será o Rio Ave.
A equipa vila-condense deverá perder pelo menos quatro jogadores do plantel às ordens de Luís Castro.
Apesar de não ter ainda qualquer internacionalização, o médio Wakaso estreou-se em convocatórias pela seleção do Gana em novembro último e poderá ser uma opção para o técnico Avram Grant – numa lista onde não deverá constar o médio-ofensivo do V. Guimarães Bernard Mensah.
Ainda mais previsível é a escolha do avançado Kizito, uma das principais figuras da modesta seleção do Uganda – que não deverá contar com o lateral-esquerdo do Feirense Kakuba.
Além desta dupla, Luís Castro deverá perder mais dois jogadores para a seleção da Guiné-Bissau: o lateral-direito Eliseu Cassamá, que não tem sido opção na equipa, e Yazalde, o que não deixa de ser uma surpresa.
Apesar de ter nascido em Portugal e ter sido internacional pelos escalões jovens da Seleção Nacional, o avançado filho do também antigo avançado rioavista Jaime Graça aceitou fazer parte da lista de pré-convocados do selecionado guineense numa condição semelhante à do médio Pelé, que depois de Belenenses e Paços está esta época ao serviço do Benfica B.
Estreante Guiné-Bissau provoca o maior rombo
A Guiné-Bissau é a única estreante entre as 16 participantes da CAN e a também a única seleção lusófona a disputar a fase final, o que a fará arrebatar um contingente de jogadores ao futebol português maior do que todas as restantes.
Na lista de 35 nomes divulgada no início deste mês pelo selecionador Baciro Candé, que substituiu Paulo Torres no comando técnico dos «Djurtus», constam nada menos do que 20 jogadores que atuam no futebol português: sete atuam na Liga, oito na II Liga e cinco no Campeonato de Portugal.
Começando pelo escalão principal, além do Rio Ave, também o Tondela tem uma dupla entre os pré-convocados, composta pelo defesa Mamadu Candé e pelo avançado Zé Turbo. A estes acrescentam-se os avançados Abel Camará (Belenenses), Cícero (Paços de Ferreira) e João Mário (Desp. Chaves).
Na II Liga, além do benfiquista Pelé, da equipa B, entre os pré-eleitos guineenses consta o defesa Mama Baldé, da formação secundária do Sporting, e dois avançados «bracarenses»: Piqueti e Edelino Ié. A estes acrescentam-se os defesas Eridson (Freamunde) e Agostinho Soares (Sp. Covilhã); e os avançados Aldair Baldé (Olhanense) e Lassana Camará (Académico de Viseu).
E há ainda um largo contingente no Campeonato de Portugal entre os possíveis eleitos de uma lista dos quais serão excluídos 12 nomes. A saber: Jonas Mendes (guarda-redes do Salgueiros), Juary (defesa do Mafra), Nani Soares (médio do Felgueiras), Sene Dabo (médio do Operário Lagoa) e Gutwaldo Almada (avançado do Real Massamá).
A convocatória da Guiné-Bissau será o desfalque mais significativo para os clubes portugueses, mas não acaba aqui o rombo que a CAN provoca nos plantéis nacionais.
Um «penafidelense» como companheiro de Aubameyang
No anfitrião Gabão, o português José Garrido, técnico interino que mediou a transição de Jorge Costa para Jose Antonio Camacho, convocou no último jogo Sèrge Kevyn. Este jovem avançado de 22 anos atua na União de Leiria e pode ser colega de seleção de Pierre-Emerick Aubameyang, avançado do Borussia Dortmund que recebeu o prémio para melhor jogador africano do ano. Já no Burkina Faso, que é orientado pelo técnico português Paulo Duarte, pode contar nos eu meio-campo defensivo com Bouba Saré, do Moreirense, que regressou recentemente à competição depois de um longo período de lesão no joelho direito, e também com Djibril Zidnaba, que atua na II Liga ao serviço do Penafiel.
Contudo, a longa lista pode não terminar por aqui. Falámos em nomes prováveis, mas há outros em dúvida e até possibilidades remotas.
A República Democrática do Congo tem como opções os extremos Arnold Issoko (V. Setúbal) ou até André Bukia (Boavista). Mais surpreendente seria a convocatória de algum jogador a atuar em Portugal de países que têm largos contingentes no futebol nacional, como os Camarões e o Senegal.
A lista é longa e está longe de estar fechada. Ainda assim, é previsível que cerca de duas dezenas de jogadores do futebol português representem os respetivos países na CAN. Fará a grande competição africana de seleções mossa em algumas equipas nacionais?