Jogadores e técnico do Santa Clara em quarentena: «É uma cela de luxo» - TVI

Jogadores e técnico do Santa Clara em quarentena: «É uma cela de luxo»

João Henriques

Marco, André Ferreira, Rafael Ramos e João Henriques estão confinados em quartos de hotel nos Açores

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Três jogadores do Santa Clara – Marco, André Ferreira e Rafael Ramos – e o treinador João Henriques estão a cumprir quarentena num hotel nos Açores.

O Governo dos Açores decretou a realização de quarentena obrigatória de 14 dias a todos os passageiros que chegassem à região, realizada obrigatoriamente em unidades hoteleiras destinadas para o efeito.

Rafael Ramos (tal como os colegas André Ferreira, Marco e o treinador João Henriques) decidiu sair da região a 16 de março para ficar junto da família, em Lisboa, durante o período de confinamento.

«Saí na altura em que decidiram parar o campeonato. Eu, como estava sozinho na ilha, decidi ir para o pé da família porque não sabia quanto tempo é que isso ia durar», disse o defesa em declarações à agência Lusa.

O jogador chegou aos Açores a 19 de abril, completando os 14 dias de quarentena obrigatória no próximo dia três de maio, precisamente o dia em que terminam as férias dos jogadores do emblema insular, que no dia quatro voltará aos treinos por videochamada.

«É um bocado mais difícil ganhar motivação [para treinar estando num quarto de hotel], mas somos todos profissionais e sabemos bem aquilo que temos de fazer para estar em forma. Não vamos desperdiçar a oportunidade que poderemos ter de voltar à competição», afirmou, adiantando: «Agora, temos de passar essa fase mais difícil. Há-de passar.»

Confinado ao quarto e impedido de circular no hotel, o lateral direito diz ser um «bocado estranho» não ter contacto com ninguém, uma vez que até as refeições são deixadas à porta do quarto.

Ainda assim, faz questão de frisar «todos os cuidados» prestados quer pela unidade hoteleira, quer pelo clube, dando o exemplo da bicicleta que tem no quarto.

«Foi espetacular, deixaram a bicicleta entrar. Eu cheguei no domingo [19 de abril] e o clube na segunda-feira arranjou logo a bicicleta. Ajuda muito porque, além da corrida, não havia muito mais cardio que eu pudesse fazer sem ser com bicicleta», releva.

O jogador de 25 anos diz que «procura na internet» várias maneiras de se manter ativo durante o dia e fala «com muitos familiares» como forma de passar o tempo.

«Também ocupo muito tempo a ver televisão, a ver as notícias, filmes, séries e jogo muito Playstation também. Surpreendentemente o tempo tem passado rápido», acrescenta o atleta, que considera os treinos por videochamada uma «excelente ideia», porque permitem «manter a relação» entre o grupo.

«Agora não temos estado juntos há algum tempo e é disso que mais sinto falta. Aquele ambiente de balneário, de ver toda a gente, estar junto com eles [os colegas], e treinar com eles», aponta.

«Resiliência é o que é preciso agora. Mas acho que para estarmos no mundo do futebol temos de ter um pouco isso e então a nossa mentalidade ajuda a passar essa fase», destaca.

O treinador João Henriques, regressou aos Açores na semana passada e diz que o quarto em que cumpre a quarentena é uma «cela de luxo».

«Vêm-nos trazer as refeições ao quarto e pronto. Não há mais contacto nenhum, não podemos sair do quarto. É praticamente uma prisão, estamos numa cela com uma vista extraordinária e somos bem tratados. É uma cela de luxo, se assim se pode dizer, mas é muito difícil», descreveu João Henriques à agência Lusa.

«As pessoas do hotel são muito prestáveis e estão a tentar colaborar connosco, isso é inquestionável. Mas, por outro lado, estamos retidos num quarto com três metros por três. Temos a vantagem de ter uma vista extraordinária e uma varanda», frisa o técnico.

«Numa altura difícil para todos, a família é importante. É um apoio importante, sobretudo para jogadores com filhos pequenos», acrescenta João Henriques, assinalando, contudo, que a «maioria» das famílias dos atletas já se encontrava nos Açores.

João Henriques avançou que foi traçado um plano de férias para os jogadores não deixarem «cair demasiado os indicies físicos», estando a equipa técnica a controlar o peso e o estado anímico dos atletas.

Já durante o período de trabalho, são feitas videoconferências onde os jogadores fazem os exercícios que o treinador propõe e respondem a questionários sobre a qualidade de sono e o índice de disposição.

«Tentamos que o primeiro inquérito chegue até às 9:30 da manhã, porque era a hora em que estávamos juntos a iniciar o treino para manter rotinas e horários», destaca.

Como forma de passar o tempo, João Henriques procura planear o futuro e observar jogadores.

«Começo a planear o que vai ser o futuro a curto prazo, vamos buscar para a análise o que tínhamos feito para trás, observar jogadores, olhando tanto para o futuro imediato como a médio prazo», afirmou o treinador, que diz que o «plano muito rigoroso» da Liga para o regresso aos treinos nos relvados é importantes para dar «confiança» aos jogadores.

João Henriques diz ser «fundamental» que a Liga retome a competição, quer por uma questão de «justiça desportiva», como de «sobrevivência» para os clubes que «dependem muito» das receitas televisivas.

«Nós não podemos estar mais tempo parados, seja que indústria for, e a do futebol envolve muitos milhões de euros e muita gente. Não estamos só a falar de jogadores e treinadores, mas de tudo o que envolve o futebol», releva.

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