FC Porto-Santa Clara, 1-0 (crónica) - TVI

FC Porto-Santa Clara, 1-0 (crónica)

'Stranger Things', as viagens perigosas de um dragão entre dois mundos

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As coisas fundamentais da vida: um organismo saudável, a felicidade dos que amamos, a paz no mundo, os três pontos contra o Santa Clara. É provável que o FC Porto tenha feito este exercício mental antes desta vitória e é muito provável que tenha chegado ao balneário aliviado e feliz.
 

Sim, atingiu o fundamental; sim, sobreviveu a mais 90 minutos de futebol três dias depois da batalha contra o Liverpool; sim, continua de peito cheio e olhos postos na luta pelo bicampeonato; sim, nenhum elemento importante no microorganismo de Sérgio Conceição se lesionou e pôs em causa as escolhas para as quatro finais da Liga.

Se nos centrarmos só no essencial, o FC Porto tem múltiplas razões para sorrir. Missão cumprida, pressão para cima do Benfica que só na segunda-feira recebe o Marítimo. As entrelinhas do jogo, porém, deixaram transparecer outros sintomas que importa identificar.


FICHA DE JOGO E O 1-0 AO MINUTO

O 1-0, golo de Marega, anémico e passivo, explica-se com a falência física de pedras nucleares – Otávio, Brahimi e Soares fizeram um jogo francamente mau -, mas também com os efeitos provocados por uma das piores fobias do futebolista profissional: o medo de falhar.

 

 

Bastava entrar no Dragão para pressentir esta nuvem de dormência e pânico, intercalados. Sempre que o Santa Clara se aproximava da área de Casillas, e não foi assim tão raro, o estádio travava a respiração, encolhia os ombros e fechava os olhos. Temia o pior, mas o pior não foi além de dois golos (bem) anulados. 

 

O FC Porto, aliás, andou ali entre dois mundos, o real e o Upside Down. Os fãs de Stranger Things percebem a analogia.

 

No lado real os dragões eram capazes de momentos interessantes (a jogada do único golo é um bom exemplo, com Brahimi e Herrera a isolarem Otávio), de fazerem uma pressão forte, de procurarem a profundidade e o cruzamento.

 

No lado negro, de monstros e assombrações, a equipa falhava um passe básico, afrouxava as marcações, permitia aos bons executantes do Santa Clara espaço e algum tempo para o remate. Num desses sustos ao coração azul, Patrick cruzou na direita e Iker Casillas fez uma das duas grandes defesas da noite – a outra foi de Marco, a pontapé de Fernando Andrade.


DESTAQUES DO JOGO: Militão omnipresente e Casillas eterno 

A equipa de Conceição sobreviveu assim. Entre dois mundos, uma só equipa e dois universos paralelos. Percebe-se que a eliminatória da UEFA tenha sido duríssima, mas já é mais difícil perceber que o treinador do FC Porto tenha mexido só em duas peças, com Óliver Torres fresquíssimo no banco.      

 

 

Chumbo nas botas e nas pestanas, dificuldades em transpor de uma realidade para a outra. Normal, compreensível, talvez até uma evidência que dá mais razão à reclamação de Sérgio Conceição sobre a calendarização e a marcação do jogo para este sábado.

O Santa Clara percebeu isto tudo desde o início. E complicou a noite aos portistas. João Henriques apostou em quatro médios, teve o conforto do pé esquerdo de Bruno Lamas no ataque organizado e a velocidade de Guilherme Schettine nas transições. Uma equipa muito interessante.

Nota final para Vincent Aboubakar: esteve no banco, chegou a aquecer, mas ainda não voltou agora à competição. Será útil nas quatro jornadas que se seguem, naturalmente.

 

 

Dois mundos, viagens perigosas, mas objetivo prioritário cumprido: o FC Porto sobreviveu.

 

 

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