PJ faz buscas ao Benfica por corrupção desportiva - TVI

PJ faz buscas ao Benfica por corrupção desportiva

  • Henrique Machado
  • 9 nov 2020, 09:35

O presidente Luís Filipe Vieira e Paulo Gonçalves são dois dos principais visados desta operação, que investiga suspeitas de corrupção desportiva

A Unidade de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária está esta manhã a realizar buscas ao Benfica e a altos responsáveis encarnados, sabe a TVI, com especial incidência para as instalações da SAD do clube e para o próprio gabinete da presidência, na porta 18 do estádio da Luz.

O presidente Luís Filipe Vieira é, de resto, um dos principais visados desta operação, liderada pelo juiz Carlos Alexandre, sob suspeita de crimes como corrupção desportiva. Outro dos suspeitos é Paulo Gonçalves, antigo braço direito de Vieira na SAD, que saiu quando foi acusado no processo ‘E-toupeira’ mas continua a fazer negócios com o Benfica.

Em causa, nas cerca de uma dezena de buscas que envolvem mais de 50 inspetores da PJ, a recolha de informação para diferentes processos que estão já na reta final e onde o Ministério Público ata as últimas pontas antes das acusações. Sobretudo o dos ‘mails’, que teve origem na divulgação pública de informações obtidas pelo ‘hacker’ Rui Pinto; e também o do ‘saco azul’, por suspeitas de que o Benfica fez sair 1,8 milhões de euros das contas da SAD, em 2018, para pagamentos de serviços informáticos que nunca foram prestados.

A operação da PJ é articulada com uma equipa de magistrados do DCIAP e visa ainda empresários, e outros intermediários, que ao longo dos últimos anos se relacionaram com o Benfica, alguns dos quais com ligações diretas a Luís Filipe Vieira. São suspeitos de terem sido utilitários para diferentes esquemas – sobretudo de corrupção desportiva, nomeadamente através de subornos a atletas de clubes adversários, entre eles do Marítimo e do Rio Ave, para que prejudicassem as suas equipas em campo nos jogos frente ao Benfica.

No caso de Vila do Conde, estávamos na época 2015/16, quando o Benfica disputava de forma renhida o campeonato com o Sporting de Jorge Jesus e Bruno de Carvalho. Já na reta final, em abril, há suspeitas de que jogadores do Rio Ave foram aliciados para que tivessem fracas prestações e permitissem que o Benfica vencesse, como se veio a verificar, por 1-0. O modus operandi, segundo foi denunciado e acredita a investigação tenha sido repetido noutros jogos, passava por promessas de contratos para os atletas na época seguinte, com colocação noutros clubes e melhorias salariais. Era nesta intermediação que entravam os empresários.

Este caso, do Rio Ave, começou por ser investigado no Porto, mas entretanto transitou para o DCIAP, em Lisboa, onde os dirigentes do Benfica são investigados numa perspetiva global, em várias frentes, com recurso a diferentes esquemas que visariam a subversão da verdade desportiva. Nomeadamente através do condicionar também das prestações dos árbitros, até pelo controlo dos observadores que os avaliam. No caso dos ‘mails’, é esse procedimento que segundo a investigação fica subentendido nas trocas de correspondência eletrónica entre responsáveis encarnados e pessoas do meio da arbitragem. Há recurso a linguagem cifrada, como a expressão “padres para missas”, usada entre outros pelo antigo responsável da BTV Pedro Guerra, que é entendida como “árbitros para jogos”. 

Os milhares de mails retirados por Rui Pinto do servidor do Benfica foram obtidos de forma ilícita, a chamada prova contaminada, mas a investigação da PJ contornou a questão e chegou depois a grande parte da informação de forma legal, validada judicialmente. A prova documental, pericial e testemunhal está agora consolidada, acreditam os investigadores, e tanto os responsáveis do Benfica como a própria SAD do clube deverão ser alvo de acusações formais nos próximos meses.

Caso fique demonstrado o crime de corrupção desportiva, uma das sanções previstas passa pela descida de divisão do clube.

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