Benfica-Boavista, 4-0 (crónica) - TVI

Benfica-Boavista, 4-0 (crónica)

Jardel, como Rui Veloso cantava

Da última vez que um Jardel voou desta forma sobre os centrais, Rui Veloso escreveu uma música, com letra de Carlos Tê, e colocou Portugal inteiro a cantar que queria perceber os pássaros.

O que no fundo resume bem a importância que o central brasileiro teve nesta vitória encarnada.

É preciso dizer, antes de mais, que o triunfo do Benfica nunca pareceu estar sequer em causa.

A equipa entrou muito forte no jogo, sim, mas entrou sobretudo competente nas marcações: não deixava o Boavista sair da defesa e com isso criava vagas sucessivas de ataque que tornavam o primeiro golo uma questão de minutos.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

Jonas podia ter abreviado a coisa numa grande penalidade que desperdiçou, por falta de Raphael Rossi sobre Cervi, mas pouco depois surgiu Jardel a ganhar nas alturas e a desviar um canto da esquerda, que Ruben Dias encostou ao primeiro poste para golo. Estava aberto o marcador.

Jardel, esse, não deu o trabalho por finalizado e antes do intervalo subiu novamente à área adversária para, na sequência de outro canto batido por Cervi, fazer desta vez ele mesmo o golo.

O brasileiro tornou-se, portanto, peça fundamental nesta vitória, à custa de uma capacidade muito própria de voar sobre os centrais adversários. Merece estes parágrafos e todas as músicas, portanto.

Mas seguindo em frente, é necessário dizer que não deixa de ser curioso que o Benfica tenha mudado tanto e afinal tão pouco. Desde a época passada, e sobretudo com a saída de Mitroglou (que jogava a maior parte das vezes) e de Raul Jimenez (que jogava nas outras ocasiões), a frente de ataque encarnada perdeu capacidade física e, já agora, capacidade no jogo aéreo.

O ataque do Benfica está agora entregue a Zivkovic, Cervi, Pizzi, Rafa e Jonas: quatro jogadores baixinhos e um ponta de lança que também não faz da luta nas alturas a especialidade dele.

Apesar disso, e apesar de ser uma equipa que privilegia o futebol junto à relva, construído por jogadores rápidos e tecnicistas, não deixa de ser curioso que muitas vezes seja pelos ares que este Benfica faz a diferença. O que, lá está, mostra que a equipa mudou tanto, e afinal tão pouco.

Cervi a jogar e Jardel a voar: os destaques da partida

De resto, vale a pena lembrar que o Benfica teve um domínio avassalador, sobretudo na primeira parte, mas encontrou dificuldades em criar situações de perigo. No fundo, e para além dos dois golos que surgiram na sequência de bolas paradas, sobrou um penálti falhado por Jonas e um remate de Pizzi a centímetros do poste. A verdade é que era pouco, para tanto futebol que a equipa jogava.

Na segunda parte a toada não se alterou muito. O Boavista conseguiu por fim chegar à baliza de Bruno Varela, é verdade, mas foi o Benfica que continuou a jogar e a criar perigo.

Fez dois golos, um dos quais num autogolo, e criou mais duas ocasiões de perigo: Cervi atirou por cima da barra, Jonas permitiu a defesa de Vagner. O que voltou a ser pouco para tanto futebol.

Mas há noites assim, há noites em que o futebol jogado não encontra correspondências nas ocasiões de perigo construídas. Nessas noites, dá jeito ter um Jardel que sabe voar sobre os centrais como Rui Veloso cantava: a imaginar ser um pássaro. Provavelmente uma águia.

Continue a ler esta notícia