Famalicão-FC Porto, 2-1 (crónica) - TVI

Famalicão-FC Porto, 2-1 (crónica)

  • Vítor Maia
  • Estádio Vila Nova de Famalicão, Famalicão
  • 3 jun 2020, 23:24

Liderança em risco numa realidade que não devia existir

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(Os três primeiros parágrafos em branco representam o silêncio no interior do Municipal de Famalicão).

A liderança do FC Porto está em risco depois de perder em Famalicão (2-1) num jogo em que podia ter chegado ao intervalo a vencer confortavelmente. O tropeção dos dragões na retoma da Liga é fácil de explicar: falta de eficácia e erros inadmissíveis para quem quer ser campeão. 

Sem público, tem pouco ou nenhum sentido jogar-se. 

O futebol cada vez menos pertence aos adeptos. Concordo com Bielsa. Um estádio sem adeptos representa a impureza do jogo atual, agora nas mãos de grandes grupos empresariais. No fundo, o silêncio nas bancadas é a mais perfeita expressão do desprezo por quem chora, grita, sente e vive uma equipa.

Ainda que pareça um contrassenso, o Famalicão-FC Porto trouxe-nos um lado escondido do jogo há muitos anos: o futebol falado pelos jogadores. Por isso, mais do que uma crónica sobre o jogo, este texto, feito com alguns sons dos protagonistas, é dedicada a quem não pôde estar no estádio.

Clap, clap. Colegas aplaudem a jogada imaginada por Corona e finalizada por Marega. O passe do mexicano é soberbo, mas o maliano permitiu a defesa de Defendi com o pé (11m).

«Vamos!» gritam os famalicenses, após o remate cruzado de Diogo Gonçalves que saiu perto da baliza de Marchesín, na sequência de um erro de Pepe (22m).

Logo de seguida, ouviu-se um bruaá no banco azul e branco. Foi caso para isso. Soares surpreendeu a defesa do Famalicão e serviu Díaz que com tudo para marcar, acertou em Racic que estava no chão.

A ideia de Sérgio Conceição não foi muito diferente daquela que apresentou na primeira volta: pressão alta, quase asfixiante, logo à entrada da área adversária, para forçar o erro do Famalicão - que teve coragem para tentar sair quase sempre curto - e olhar para a baliza de Defendi a partir daí. Com bola, o FC Porto lançou a velocidade de Marega nas costas de Roderick para chegar perto da baliza de Defendi.  

«Fica, fica!» pedia Conceição do banco, mostrando claramente a sua intenção de apertar os famalicenses bem alto.

Porém, foi numa jogada construída por Otávio e Corona – a tabelinha continua a ser a jogada mais bela e simples do futebol - que surgiu nova oportunidade. O brasileiro trabalhou bem, levantou para a cabeça de Soares que viu Defendi fazer uma enorme intervenção (35m).

Pelo meio ouviu-se «Ei!!», pedidos de penálti num lance entre Pepe e Diogo Gonçalves. Nuno Almeida ouviu Luís Ferreira (VAR) e mandou seguir.

A segunda parte foi totalmente diferente. O ritmo foi mais alto, os erros acumularam-se e surgiram os golos. Logo aos dois minutos da etapa complementar, Manafá atrasou para Marchesín que colocou a bola nos pés de Fábio Martins. «Goloooo», explosão de alegria no relvado e no banco dos homens de branco. Só o autor do golo não celebrou por respeito ao clube onde se formou (47m).

«Toni, ao lado do Fábio» pedia João Pedro Sousa. O Famalicão preparou-se para a investida contrária, reduziu o espaço nas costas e nas laterais, colocando dificuldades ao FC Porto que passou a jogar em pouco mais de trinta metros.

«Vamos jogar futebol!» pediu Sérgio Oliveira enquanto Nuno Almeida mostrava o cartão vermelho direto a Vítor Bruno, adjunto de Conceição (60m).

Embora tenha oferecido a bola aos dragões, os famalicenses nunca deixaram de espreitar o 2-0. O lance de Toni Martínez é sintomático: fugiu a Mbemba e a Pepe antes de atirar por cima (65m).

«Uiiii!!» exclamou-se com as mãos na cabeça. Esta foi a reação dos suplentes do FC Porto quando Díaz inventou uma situação de golo: saiu do meio de três adversários e atirou cruzado, pertíssimo do poste da baliza contrária. Magia pura, só faltavam quem se empolgasse com a jogada nas bancadas (73m).

«Golo!» ou «Vamos!». O FC Porto empatou por Jesús Corona no minuto seguinte. O passe de Sérgio Oliveira é muito bom e a receção do mexicano nem foi perfeita, mas suficiente para bater Defendi e igualar a contenda.

«Pumm!» o som de um murro no banco de suplentes. Pudera, Toni Martínez cabeceou a centímetros da baliza do FC Porto. Depois da frustração, novos gritos de golo do lado famalicenses. Pedro Gonçalves arrancou pelo corredor central e só parou para ficar a observar a bola a entrar na baliza de Marchesín.  

Conceição retirou Danilo e Soares e lançou Zé Luís e Aboubakar. Nem por terem mais gente na frente, os dragões atacaram melhor. A única oportunidade de golo que teve foi por Pepe num cabeceamento que foi à malha lateral. 

«Penálti!» pediu-se no banco dos dragões por falta sobre Aboubakar, mas Nuno Almeida escutou o VAR e mandou seguir. 

Assim é o futebol em tempos de pandemia. 

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