Sp. Braga-FC Porto: do «flower power» à ditadura azul - TVI

Sp. Braga-FC Porto: do «flower power» à ditadura azul

Karoglan e Futre

Um jogo cheio de história analisado por dois ex-protagonistas: Mladen Karoglan e Paulo Futre recordam batalhas antigas e lançam a próxima no Maisfutebol

Relacionados
Lápis azul, censura aplicada pelo dragão. Nos últimos anos, a ditadura é implacável: quatro visitas a Braga, quatro vitórias do FC Porto. Falamos, apenas, de jogos para o campeonato.

Esta sexta-feira escreve-se mais um capítulo nesta longa cimeira entre arsenalistas e portistas. Numa altura, aliás, em que Braga está no epicentro das grandes decisões da Liga.

A tendência recente é clara, inflexível. Na pedreira ganha o Porto. Nem sempre foi assim, porém, como é fácil adivinhar.

Na aurora dos campeonatos, e até sensivelmente à década de 60, viveu-se um clima de distribuição salomónica dos louros. Paz e amor na reclamação da glória, um flower power coincidente com as questões ideológicas desses tempos. Alternância de poder.  

O quadro seguinte comprova precisamente isso. Depois dos anos 70, com especial ênfase nos 80’s e 90’s, o FC Porto passou a mandar na cidade dos Arcebispos. Nos últimos 36 anos, o Sp. Braga só venceu quatro vezes este jogo.  

Para dissecar este clássico, ainda em busca das luzes mainstream, o Maisfutebol convidou duas ilustres personagens: Paulo Futre e Mladen Karoglan ( recorde a passagem do croata pelo Destino 90s).

Cada um deles teve o seu próprio Braga-Porto, a tarde/noite em que decidiram um duelo que agora se repete. O croata no final da época 96/97, Futre na reta inicial da gloriosa temporada 86/87.

Antes das histórias e memórias, o retrato histórico de um jogo cada vez mais interessante.

TODOS OS SP. BRAGA-FC PORTO  

Década de 40:

. Sp. Braga, 2 vitórias
. FC Porto, 1 vitória

Década de 50:

. Sp. Braga, 3 vitórias
. FC Porto, 4 vitórias
. 1 empate

Década de 60:

. Sp. Braga, 2 vitórias
. FC Porto, 2 vitórias
. 4 empates

Década de 70:

. FC Porto, 4 vitórias
. Sp. Braga, 1 vitória
. 1 empate

Década de 80:

. Sp. Braga, 0 vitórias
. FC Porto, 9 vitórias
. 3 empates

Década de 90:

. Sp. Braga, 1 vitória
. FC Porto, 7 vitórias
. 2 empates

Primeira década do século XXI:

. Sp. Braga, 3 vitórias
. FC Porto, 4 vitórias
. 3 empates

Década de 10:

. Sp. Braga, 0 vitórias
. FC Porto, 4 vitórias
. 0 empates

TOTAL: Sp. Braga (12 vitórias), FC Porto (35), 14 empates

O Sp. Braga-FC Porto de Paulo Futre (9 de novembro de 1986):

Décima jornada do campeonato, o velhinho 1º Maio repleto, panfletos brancos no relvado. De um lado, o Sp. Braga treinado por Humberto Coelho, equipa de ambições humildes. Do outro, os futuros campeões europeus. Seis meses antes de Viena, um golo de Paulo Futre decide tudo.

«Um grande golo, peguei mesmo bem na bola. O passe do Juary, na esquerda, foi perfeito. Eu surgi na zona de penálti e enchi o pé. Coitado do meu amigo Barradas [guarda-redes], nem a viu. Ele tinha sido meu colega no Porto, um rapaz impecável».

Nesse jogo, veja-se bem, Artur Jorge lançou Juary e Madjer para os últimos 26 minutos. Os homens que decidiram a final de Viena. «Tínhamos uma equipa de sonho, um banco de luxo. Jogávamos em ambientes terríveis – em Braga e Guimarães era terrível -, mas ai de quem tremesse».

Futre, o genial esquerdino, explica de forma curiosa o truque utilizado por Artur Jorge para contrariar essas atmosferas adversas.

«Nesses tempos os estádios estavam cheios duas horas antes do começo. O mister mandava-nos para o relvado e dizia-nos para olhar para os adeptos deles. Quando voltávamos ao balneário já estávamos serenos, mais aliviados».

Paulo Futre recorda que o Braga, «apesar de inferior ao FC Porto», jogava sempre «com uma raça tremenda»
. «Nunca era fácil vencer no 1º Maio».

Para o jogo desta sexta-feira, o antigo dragão deixa também um vaticínio: «vai ser um jogo intenso, o FC Porto tem mais a perder do que o Sp. Braga. As duas equipas estão ótimas, mas a obrigação maior é do Porto e por isso acredito que ganhe».

O nosso jornal provoca Futre com uma última questão. Quem pode fazer de Futre, ou seja, quem tem capacidade para resolver?

«Do lado do Braga, o Zé Luís. O miúdo vai acabar num grande, tem muito nível».

«Pelo FC Porto… Jackson ou Tello. Só um? Vou pelo Tello, aquela moral deve estar nos píncaros».        

FICHA DESSE JOGO:

SP. BRAGA: Barradas; Toni, Carvalhal, Bastos Lopes e Nelito; Fernando Pires (Serra, 68), Abreu, Vitor Santos e Traoré; Saucedo (Jacques, 70) e António Borges.

Treinador: Humberto Coelho

FC PORTO: Zé Beto; João Pinto, Eduardo Luís, Celso e Inácio; Jaime Magalhães, André. Quim (Juary, 64) e Jaime Pacheco; Fernando Gomes (Madjer, 64) e Paulo Futre.

Treinador: Artur Jorge

GOLO: Paulo Futre (66)

Veja o golo de Futre aos 1m30s do vídeo:



O Sp. Braga-FC Porto de Karoglan (31 de maio de 1977):

Penúltima jornada do campeonato, o FC Porto já consagrado campeão. O Benfica 27 pontos atrás, o Sporting 13. António Oliveira muda algumas peças e os dragões sofrem a terceira derrota da época. Herói do jogo? Mladen Karoglan, um agitador nato.

«Eu adorava jogar contra equipas grandes. Eramos fraquinhos na altura, ficávamos atrás e no contra-ataque eu tinha muito espaço. Nesse jogo marquei numa recarga, depois de uma boa defesa do Eriksson», diz o antigo avançado.

«Era muito, muito difícil ganhar ao Porto. O Paulinho era um provocador. Boa gente, mas terrível no campo. E depois apanhei com o Fernando Couto e o Jorge Costa, outras feras. Fiquei com muitas nódoas negras».

Para Karoglan, o Braga de Sérgio Conceição – curiosamente, adversário nesse jogo – é «muito mais forte». «Vejo os jogos aqui na Croácia, a diferença é enorme. No meu tempo dávamos tudo, o coração ficava no campo, mas faltava mais qualidade»
.

Mladen Karoglan despede-se com um «Braguinha, sempre» e o desejo de ver o clube «a jogar a Liga dos Campeões na próxima época».    

FICHA DESSE JOGO:

SP. BRAGA: Rui Correia; Zé Nuno Azevedo, Hugo, Artur Jorge e Leonel; Bruno, Mozer, Rodrigão e Baltazar (Gamboa, 29); Toni (Idalécio, 89) e Karoglan.

Treinador: Manuel Cajuda

FC PORTO: Lars Eriksson; João Pinto (Mielcarski, 73), Aloísio, Jorge Costa e Rui Jorge; Costa, Barroso e Rui Barros (Drulovic, 65); Sérgio Conceição, Domingos e Folha (Alejandro Díaz, 81).

Treinador: António Oliveira

GOLOS: Costa (4), Karoglan (46) e Toni (69)

Veja o golo de Karoglan aos 59 segundos do vídeo:
 
 
Continue a ler esta notícia

Relacionados

EM DESTAQUE