De «filho» de Adriano Imperador a goleador do Paços: «Quis a minha alcunha» - TVI

De «filho» de Adriano Imperador a goleador do Paços: «Quis a minha alcunha»

Entrevista a Douglas Tanque, avançado do Paços de Ferreira – parte III

De Santa Cruz do Rio Pardo, no Brasil, para Paços de Ferreira. Douglas Tanque aterrou em Portugal no verão de 2018 e demorou pouco tempo para se fazer notar na Capital do Móvel: 14 golos na primeira época, e uma ajuda decisiva no regresso dos castores ao principal escalão do futebol português.

Esta temporada já fez o gosto ao pé por seis vezes – marcou a Sporting e Sp. Braga, por exemplo –, mas antes destes números, teve de suar para chegar à tão sonhada Europa. Estreou-se no Brasileirão com 16 anos, mas não chegou a afirmar-se no futebol brasileiro, apesar de ter pertencido aos quadros do Corinthians, onde, note-se bem, era tratado como «filho» de Adriano Imperador.

Andou depois por Japão, México e Tailândia a crescer como jogador, para depois, lá está, ajudar o Paços de Ferreira a voltar ao convívio entre os grandes.

Em entrevista ao Maisfutebol, Tanque conta-nos como têm sido os dias de confinamento, provocados pela covid-19, mas não só: fala do futebol português, do «chato» Vítor Oliveira, da infância no Brasil e até do mês que passou num hospital no Japão.

PARTE I: «Os jogadores têm de ter o bom-senso de ajudar os clubes»

PARTE II: «Vítor Oliveira? No início eu até dizia: ‘Nossa, esse treinador é chato’»

MF – Como é que começou a ligação ao futebol?

DT – Comecei a jogar com seis anos, numa escolinha de futebol perto de casa. A minha mãe é que me levava e fui começando a gostar. Com 12 anos recebi um convite para ir para um clube. Foi muito difícil quando os meus pais me foram deixar ao alojamento. O meu pai perguntou-me: ‘É mesmo isto que queres?’. Eu respondi que sim, mas quando eles entraram no carro para voltar para casa não parei de chorar. Mas isso serviu de lição e depois disso não parei mais. Com 15 anos fui para o Guarani e foi aí que começou a minha carreira.

MF – E sempre mostrou apetência para os golos?

DT – Primeiro jogava a médio, tipo «10». Mas depois comecei a jogar com o meu primo e disse-lhe: ‘Vou jogar para a frente, passas-me a bola e eu faço os golos’. A partir daí comecei a fazer muitos golos e gostei da posição. Fui para o Guarani como avançado e nunca mais mudei.

MF – …

DT – Comecei a minha formação no Guarini. Em 2010, com 16 anos, assinei o meu contrato profissional e estreei-me no Brasileirão. Depois fui contratado pelo Corinthians e fui para os sub-20.

MF – Chegou ao Corinthians, um dos grandes clubes do Brasil, mas depois somou vários empréstimos e não se conseguiu fixar em nenhum clube. Apesar de se ter estreado cedo no Brasileirão, quando foi para o Corinthians integrou a equipa de sub-20. A passagem do futebol de formação para o futebol sénior foi difícil e atrasou o seu sonho de chegar à Europa?

DT – Não é que tenha dificultado, mas acho que o Corinthians me emprestou a tantos clubes para eu ficar maduro rápido para me poderem utilizar. Acho que não consegui amadurecer como eles queriam e não estava preparado para jogar num clube grande. Os empréstimos não foram bons, mas hoje, olhando para o passado, penso que ao nível da aprendizagem foi bom, fiquei mais maduro e preparado para enfrentar um desafio de vestir uma camisola de um clube grande.

MF – O Corinthians teve pouca paciência consigo?

DT – Não é que tenha tido pouca paciência, mas queriam utilizar-me logo e a minha ficha de que tinha de amadurecer rápido e que ia jogar por uma equipa grande não caía. Só depois quando acabou o meu contrato é que a minha ficha caiu e percebi, mas já era tarde. Mas não me arrependo, estou tranquilo e preparado para representar qualquer clube.

MF – Apesar dos muitos empréstimos, a ilusão de chegar à Europa manteve-se sempre?

DT – Sempre esteve na minha cabeça e agora quero jogar a Liga dos Campeões ou coisas maiores. Tive sempre o sonho de jogar a Champions, entrar no relvado a ouvir o hino. É um sonho desde criança e penso que qualquer jogador também pensa o mesmo.

MF – Depois de sair do Brasil teve experiência no Japão, no México e na Tailândia. Isso também o ajudou a adquirir a maturidade necessária e a tornar-se no jogador que é hoje?

DT – Sim, essas experiências ajudaram-me a tornar-me naquilo que sou hoje: um jogador forte e trabalhador. Mas o que me ajudou a ser assim foi a minha esposa, ficou sempre do meu lado, mesmo nas duas lesões graves que tive no joelho na minha primeira passagem pelo Japão.

MF – …

DT – No início do campeonato, logo à terceira jornada, tive de ser operado ao joelho, no ligamento cruzado. Recuperei durante seis meses e no primeiro jogo de regresso voltei a lesionar-me no mesmo joelho. Estive parado mais nove meses. Isso tornou-me muito forte e voltei ainda melhor.

MF – Em relação a essas experiências e ao que vive agora no Paços, notou muitas diferenças?

DT – Em relação ao Japão não notei muitas diferenças, eles também são muito evoluídos e profissionais. É um país fenomenal. No México e na Tailândia é que já não têm tanta estrutura, não é um campeonato com muita qualidade e competitividade, como aqui.

MF – Tem alguma história curiosa desses tempos?

DT – Não, só uma vez no Japão que tive de ficar um mês no hospital por causa da lesão. Até o Natal tive de passar no hospital, não desejo isso a ninguém. Nunca me esqueço disso. Quando estou triste lembro-me dessa situação. A minha esposa dormia num colchão ao pé da minha cama para me ajudar, até banho me dava. Não me esqueço disso nunca. Foi uma coisa que me marcou e isso para mim hoje é um incentivo. Às vezes brinco com a minha esposa e digo que ela é que é a guerreira, não eu.

MF – Mas ficou tanto tempo no hospital porquê?

DT – Já estava previsto. Ia ser operado e depois ia de férias para o Brasil, então o médico queria que eu passasse o primeiro mês no hospital para que fizesse os tratamentos de forma intensiva para o meu joelho não inchar quando fosse de férias. Foi chato, mas graças a Deus depois consegui ir para o Brasil.

MF – Como é que nasceu a alcunha Tanque?

DT – A alcunha surgiu do meu empresário, mas primeiro, quando cheguei ao Corinthians, o Adriano Imperador também estava lá. Eu era parecido com ele, corto o cabelo igual ao dele. Então quando treinava com a equipa principal muitos diziam que era filho dele e começaram a chamar-me «Imperador Mirim». E queriam que fosse essa a minha alcunha, mas o meu empresário chamava-me Tanque por causa do meu remate de pé esquerdo. Quando me perguntaram o que é que eu preferia disse Tanque, queria ter o meu próprio apelido.

MF – O Adriano é uma referência?

DT – Sou muito fã dele. Inspiro-me muito nele e no Ronaldo Fenómeno. São os meus ídolos.

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