FC Porto-P. Ferreira, 2-1 (crónica) - TVI

FC Porto-P. Ferreira, 2-1 (crónica)

Dois socos para recuperar o respeito

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O FC Porto resolveu com os punhos o que não foi capaz de resolver com a cabeça. Ninguém o pode condenar por isso. Este era o dia em que o mais importante era mostrar quem manda no Dragão. E ganhar, naturalmente.

O bullying da noite europeia deixou mossa. Traumas. Percebeu-se em cada momento que o Paços fugia numa transição, mais ou menos perigosa. O FC Porto jogou a olhar por cima do ombro e com o mais terrível dos medos: o de errar.

Venceu porque foi e é superior ao Paços. Quis ser forte, quis ser incisivo, quis provar ao mundo azul e branco que a coça de terça-feira – sim, porque foi uma coça – não passou de um uma nódoa negra e de um lábio ferido.

Há uma cena no filme Regresso ao Futuro, obra maior de Robert Zemeckis, em que o pai de Marty McFly – as saudades que temos do génio de Michael J. Fox – incorpora tudo o que o FC Porto teve de ser frente ao Paços.

FICHA DE JOGO e AO MINUTO NO DRAGÃO

Farto de ser sovado por Biff Tannen no recreio da escola, por todas e nenhumas razões, George McFly percebe que só há uma forma de conquistar o coração daquela que viria a ser a sua mulher e a mãe de Marty. Dizer «basta!» e deitar o Liverpool (perdão, Biff; perdão, o Paços) ao chão com um só soco.

O bullying acabou ali. George tornou-se feliz e respeitado.

O FC Porto precisou mais do que um soco certeiro para derrubar o Paços.

Primeiro, porque a equipa de Jorge Simão marcou muito cedo – definição perfeita de Nuno Santos, após defesa excelente de Diogo Costa sobre Lucas Silva e uma falta não assinalada de Denilson sobre Marcano.

Depois, porque bateu demasiadas vezes em cheio nas luvas do guarda-redes André Ferreira. Uma, duas, três tentativas, muitas fugas de Luis Díaz, muito Taremi a baixar e a tentar criar, alguma agitação de Francisco Conceição e tanto, tanto futebol de Vitinha.

Parecia insuficiente.

Chico Conceição e Evanilson foram estreias absolutas em 21/22 na equipa titular, mas Sérgio Conceição mudou seis peças relativamente ao 1-5 de terça-feira. Sobrou o tal orgulho ferido e a certeza de que para reconquistar o respeito e a donzela chamada Liga, o Paços tinha de tombar. Fosse como fosse.

DESTAQUES DO JOGO: Vitinha, o monstro

O primeiro golpe saiu do nome mais lógico: Luis Díaz, em cima do intervalo. O segundo saiu do pé esquerdo de Wendell, após o primeiro erro do aparentemente imbatível André Ferreira. Primeiro golo do lateral esquerdo pelo FC Porto, prémio por uma primeira parte de alto nível.

O Paços caiu, claro. O impacto foi forte, mas ao contrário da trilogia de Zemeckis aqui o final foi imprevisível até às derradeiras cenas. A equipa de Jorge Simão pôs a cabeça de fora, ainda enviou uma bola ao poste esquerdo de Diogo Costa (Nuno Santos) e o FC Porto pareceu em determinados momentos o miúdo encolhido e amedrontado que todos os dias enfrenta o bully da escola – é justo sublinhar que Evanilson também atirou à barra do Paços, de cabeça.

O que significa esta vitória do FC Porto? Não é, seguramente, um Regresso ao Futuro, mas pode ser um regresso a algum sossego emocional.

O respeito, pelo menos, está recuperado.

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