Quatro dias com Caixinha no México: «Dormi num quarto assombrado» - TVI

Quatro dias com Caixinha no México: «Dormi num quarto assombrado»

Pedro Caixinha (Foto: Rui Miguel Tovar)

Rui Miguel Tovar entrevista o treinador português do Cruz Azul. «Tive de ler ‘Cem Anos de Solidão’ para entender esta cultura»

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Rui Miguel Tovar está no Maisfutebol com a rubrica LOAD " " ENTER. Para ler todas as semanas e saborear conversas por vezes improváveis com as principais figuras do futebol. Já sabe, basta escrever LOAD " " ENTER para entrar neste mundo maravilhoso de Rui Miguel Tovar. 


FOTOS: Rui Miguel Tovar

Eis o resultado de quatro dias de treino intenso na Cidade do México com o treinador português do Cruz Azul

Muy amable. Siempre. Deixe passar as senhoras no elevador ou segure a porta para o carrinho de bebé, a frase seduz-nos. Muy amable. É fashion, é México all the way. Ya, estamos na Cidade do México, via Paris. Ao todo, 13 horas e meia para chegar à cidade mais populosa da América do Norte, com 23 milhões de habitantes (dois Portugais e mais um tiquinho). A informação sobre a qualidade do ar no telemóvel varia entre o mau e perigosa para grupos sensíveis. Baaaaah, balelas. Também anuncia chuva de sábado até sábado e nada de nada. Nem um pingo. Baaaah.

A ideia é ir ao encontro de Pedro Caixinha. Quer dizer, só depois de conhecermos os recantos da capital como deve ser. Primeiro o conhaque, depois o trabalho. O conhaque tem o seu quê de interessante. Mesmo. A Cidade do México é de uma beleza inaudita, liderada pela mayor Claudia Sheinbaum, Nobel da Paz em 2007. Há paisagens icónicas como o Anjo da Liberdade ou a casa de Frida Kahlo e Diego Rivera. Há bairros lindíssimos como Polanco, Zona Rosa, Colonia Roma, La Condesa, Chapultepec, Santa Fé e San Ángel. E há figuras imperdíveis como Pedro Caixinha, o rei do muy amable.

Já o conhecemos desde 2017, em Glasgow, como treinador do Rangers. Na altura, recebe-nos em Ibrox com um sorriso aberto e a mão direita estendida para um passou-bem à maneira. Leva-nos para a sala do staff técnico e apresenta-nos os adjuntos, um a um, por ordem de chegada: Pedro Malta, Jonatan Johanson e Hélder Baptista. Oferece-nos um café de máquina e mostra-nos seis garrafas de vinho português Vila Santa para «surpreender o treinador luxemburguês do Progrès Niederkorn», para a 1.ª pré-eliminatória da Liga Europa.

Dois anos e meio depois, como treinador do Cruz Azul, o passou-bem continua a ser à maneira e segue-se uma aventura de quatro dias, com dois jogos ao vivo pelo meio.

Nas ruas da Cidade do México com Pedro Caixinha

QUINTA-FEIRA, DIA 22 DE AGOSTO

Na ressaca do 2-1 ao Galaxy, em Los Angeles, o Cruz Azul qualifica-se para a final da Leagues Cup, uma nova competição entre clubes norte-americanos e mexicanos, cuja final está marcada para 18 Setembro, em Las Vegas, vs Tigres. Caixinha recebe-nos na sua casa, em Polanco, um bairro xpto, do best. Há umas 20 quadras de luxo, com lojas mais lojas mais lojas e mais lojas, intercaladas por bares, cafés e restaurantes. Atrás desses quarteirões, mais lojas, cafés, bares e restaurantes. Ah é verdade, também há uma padaria e um supermercado. A malta abastece-se de baguetes, presunto e queijo. E para empurrar? Umas coronitas. O jantar é em casa, apoiados no balcão da cozinha, a falar descontraidamente de bola.

Qual o objectivo para 2019?

[Caixinha trincha a baguete com vigor, desfila o presunto num prato e responde-nos em modo powerpoint] O Cruz Azul iniciou o ano com três títulos em mente: a Supertaça do México, a Leagues Cup e o torneio Apertura. Uma já está.

Qual?

A Supertaça: 4-0 ao Necaxa, na Califórnia.

Supertaça do México nos EUA?

O amigo Rui nem imagina o marketing. Para começar, há 40 milhões de mexicanos nos EUA. Só isso dá uma força imensa ao evento. Imagine agora a gala.

A gala, onde?

No Kodak Theatre.

O dos Óscares?

Nem mais. E a abarrotar, Rui. Só gente e mais gente a querer ver os jogadores, a querer tirar fotografias, a querer autógrafos, a querer tudo e mais alguma coisa. Um reboliço. É digno de se assistir. Esteja atento agora à final da Leagues Cup, em Las Vegas. Vai ser outra operação de marketing gigantesca. Tanto assim é que a competição vai ser alargada de oito para 16 equipas já para o ano: oito norte-americanas e oito mexicanas. É sinal de retorno financeiro, é sinal de sucesso.

E essa final com o Tigres?

O Tigres é o clube mais bem sucedido nos últimos cinco anos, com quatro títulos de campeão em oito torneios [o México é como a Argentina: Clausura de Janeiro até Maio e Apertura de Julho até Dezembro], sempre com o mesmo treinador, o brasileiro Ricardo Ferretti.

Uyyyyyy.

Caaaalma, nunca perdi com o Tigres. Se somarmos todos os jogos por Santos Laguna e Cruz Azul, cinco vitórias e seis empates. No último jogo com eles, ganhámos 1-0 na casa deles. Golo do Elias Hernández. Vais vê-lo no sábado, com o Puebla.

A ver se se mantém essa aura de invencibilidade com o Tigres.

Tem de ser, amigo Rui. Temos de conquistar mais um título, o objectivo é o triplete. Nunca houve um clube mexicano a ganhar três títulos. Queremos ser o primeiro.

O outro objectivo é o Apertura?

Isso mesmo, ainda vai na 5.ª jornada. Aqui jogamos todos contra todos a uma só volta. Como o campeonato está coxo, com 19 equipas, fazemos 18 jogos. Os melhores oito passam a um play-off, estilo NBA. O primeiro joga com o oitavo, o segundo com o sétimo e por aí adiante em eliminatórias de duas mãos. O primeiro passo é chegar ao play-off. Depois é ver. Quando fui campeão pelo Santos Laguna em 2015, acabei o campeonato em oitavo. E a final foi com o sétimo, o Querétaro.

Essa não era a equipa do Ronaldinho?

Jajajajaja, isso mesmo. Ele jogou os dois jogos, como suplente. Até há uma fotografia engraçada de nós os dois a rir no meio-campo.

Antes do jogo?

Antes, durante e depois. O Ronaldinho é um castiço [Caixinha mete uma fatia de presunto na baguete e, toma lá, vai buscar].

Como foi essa final?

Ganhámos 5-0 em casa.

Cinco-zero?

Tudo nos saiu bem. Foram sete remates à baliza, cinco golos. O Orozco marcou quatro, dos quais três na primeira parte.

Onde é que ele anda agora?

[Caixinha vai sacar mais duas Coronitas ao frigorífico] Na 2.ª divisão.

Hein?

O Orozco joga na 2.ª divisão mexicana.

Mas está velho ou...?

Eles aqui têm muito disso. Tanto fazem coisas espectaculares, como marcar quatro golos numa final, como depois acabam a carreira sem ninguém dar por eles. É um povo muito de altos e baixos. Isso nota-se na segunda mão dessa final.

Então?

Estávamos a perder 3-0 ao intervalo.

Heiiiin?

Rui, 3-0.

Como é que foi a palestra ao intervalo?

Tranquilizá-los. Eles tremiam por todos os lados, pareciam gelatina.

Mas como se estava 5-0?

Bienvenido. México é assim mesmo. Eles tanto vão lá acima, de euforia, como descem, em depressão. Estudo-os há anos e não consigo encontrar um antídoto. Eles são assim, pronto. É tentar dar-lhes a volta, encontrar um meio termo pacífico, sem ondas.

E?

É complicado [Caixinha arregala os olhos e faz um esgar com a boca]. Tive de ler Cem Anos de Solidão para compreendê-los melhor, compreender o México. Eles também são muito místicos.

Como assim?

No nosso centro de estágio, há lá um quarto assombrado pela Niña. Dizem eles, aconteceram coisas más, antes mesmo daquele terreno pertencer ao Cruz Azul. Já dormi lá. O meu primeiro mês no Cruz Azul foi precisamente nesse quarto.

E então?

Passei o tempo a ouvi-los falar, a Niña isto, a Niña aquilo. Nunca a vi. Qual Niña qual quê, nada. Noites tranquilas. Enfim.

Jajajajajaja. Já agora, como é que foi essa segunda parte da final com o Querétaro?

Entrámos mais determinados, subimos e controlámos. Mesmo assim, podíamos ter levado o quarto. Se não fosse o Marchesín, ai ai ai.

O do Porto?

Ah pois [Caixinha pisca-nos o olho, dá uma trinca e siga a marinha]. Sabes como é, eu e o Conceição fazemos anos no mesmo dia, 15 Novembro. Temos os mesmos gostos, jajajaja. Agora a sério, fomos buscar o Marchesín ao Lanús, depois de jogarmos com eles para a Libertadores.

O Caixinha já jogou a Libertadores?

Já pois, pelo Santos Laguna. Chegámos aos oitavos-de-final, eliminados precisamente pelo Lanús. Perdemos lá nos descontos. Cá, perdemos e bem. O Marchesín era desse Lanús e já impressionava. Como o nosso guarda-redes Oswaldo Sánchez já tinha 40 anos, fomos à procura de um substituto à altura. Havia duas opções: ou uma referência mexicana, como o Corona, que é agora o nosso guarda-redes do Cruz Azul, ou uma referência internacional, como o Marchesín, da Argentina.

Saiu-vos o Marchesín.

Que craque. Bom rapaz, mesmo boa gente, sempre animado e extremamente competitivo. Vai dar que falar, vais ver.

Ainda estou a reter a informação da Libertadores.

Jajajajaja. Jogámos, sim senhor. Passámos a fase de grupos e tudo. Se passássemos o Lanús, jogaríamos com o Bolivar e jogaríamos em La Paz, lá em ciiiiima [mais um gole na Coronita].

E que tal a Libertadores?

A verdade? É uma competição gigantesca, brutal. Nunca se sabe quem vai ganhar, o leque de candidatos é muito aberto. Mesmo agora, nos quartos, há Boca, River, Flamengo, Palmeiras, Grémio e Internacional em perfeitas condições de chegar à final. Nesse aspeto, a competitividade é enorme. Depois há o aspeto da organização e, aí, há aspetos a melhorar. Lembro-me de ter jogado na Argentina e o autocarro ter demorado duas horas do hotel para o campo de treinos. Há coisas malandras. Se compararmos com a tal Leagues Cup, esquece, ò Rui. Na Leagues Cup, tudo é feito ao pormenor. À americana, portanto. Até o aquecimento.

Como?

Temos um cronómetro no balneário a dizer-nos o tempo que falta para entrar em campo e temos outro cronómetro no relvado a dizer-nos quando devemos voltar ao balneário. Quando recebemos o caderno de encargos, por assim dizer, sabemos o número de apanha-bolas em campo e a sua localização. É tudo calculado ao milímetro, sem a mínima falha.

E aqui no México?

[esta pergunta merece uma fatia extra de presunto a cobrir um pedaço piriri de baguete, guloso pá] O campeonato tem coisas especiais.

Tais como?

Sábado vais ver as balizas no Azteca.

Então?

Toca nelas e vais ver. Ainda são de ferro, para aí do Mundial-86. Ou até 1970. É inaceitável. As balizas modernas são de alumínio. Se alguém bate com a cabeça, é um perigo danado. Quando cheguei ao Santos Laguna, as balizas eram de ferro. Comprámos logo umas de alumínio, vieram de Espanha. Temos de estar atualizados.

Há mais pormenores desses?

A bola, por exemplo. É da marca Voit. Olha, tens ali duas, vai lá vê-las. [por baixo da televisão, duas bolas devidamente autografadas pelos seus jogadores]. Estás a ver? Isso não é uma bola dos nossos tempos. Aliás, o meu pai veio cá à Cidade do México em fevereiro de 1980 para uma digressão com o grupo de forcados de Montemor. Lembro-me perfeitamente de estar à espera dele, na rua, em Beja. Quando ele finalmente chegou, o presente mexicano era uma bola de futebol da Voit. Quando cheguei ao México pela primeira vez e vi essa bola, veio-me tudo à memória. Incrível.

De volta à bola.

Quando jogamos lá fora, as equipas mexicanas têm dificuldade em adaptar-se. É às bolas e ao relvado.

Também?

[Caixinha abre um documento e mostra as diferenças entre um relvado normal e um relvado típico mexicano, com a relva xxl e toda entortada, vergada ao peso do seu tamanho] Com esta relva, a bola prende mais e joga-se menos. Em qualidade e velocidade. Isso notou-se agora na Califórnia: o golo que sofremos dos Galaxy é um lance normal, só que o Corona [guarda-redes] não está habituado às bolas normais nem ao relvado rápido.

Bolas.

É inexplicável. Outro facto inexplicável. Às vezes, os jogos começam seis/sete minutos mais tarde que o previsto. Às vezes, avisam-nos no próprio dia. Outras vezes, avisam-nos no aquecimento. Isso muda tudo, é uma diferença importante. Seis minutos importam para um aquecimento. Agora o campeonato é agitado, nunca se sabe qual é o clube campeão. Quer dizer, há uns três favoritos e tal, mas há sempre um outsider a romper os prognósticos e, às vezes, a levar a melhor. Isso é fantástico, eleva a competitividade e obriga-nos a estar constantemente atentos. E, atenção, é um campeonato puxado em que fazemos duas pré-épocas, a do Clausura e a da Apertura. Ou melhor, se nos classificarmos para os dois play-offs, nem sequer há a segunda pré-época e é sempre a abrir.

Mais?

Depois do jogo deste sábado com o Puebla, jogamos em Tijuana. Sabes quanto tempo demora uma viagem de avião para Tijuana?

Nem ideia.

Três horas e 40. Tijuana é mesmo ali em cima, na barra com a Califórnia. [abrimos o mapa e é meeesmo lá em cima]. Tijuana tem dois fusos horários a menos que a Cidade do México. Isto é um sinal da dimensão do México.

Nem sequer é um país, é mais um continente.

Jajajajajaja. É por aí, sim. O Tijuana é o único clube do campeonato com relva artificial, então temos de fazer dois dias de treinos fora da nossa zona de conforto.

Espetáculo?

Espetáculo é isto aqui ò. A Liga mexicana disponibiliza estas aplicações para todas as equipas. [Caixinha liga o telemóvel e salta à vista a fotografia dos filhos Rodrigo e Mariana no wallpaper] Vou carregar aqui no GolStats. [tudo aquilo é um mundo novo para nós, carregado de estatísticas, zonas verdes e zonas amarelas dentro de um campo, pontos vermelhos e pontos pretos e sei lá mais o quê]. Agora vou abrir esta aqui, Hudl [outro espectáculo dentro do próprio espectáculo, com informações de tudo e mais alguma coisa]. Agora o CI Stream [mais imagens de rara beleza].

Posso andar por aqui?

À vontade.

[que viagem pelo futebol mexicano 2019-2020]

Amigo Rui, por hoje é tudo. Estamos cansados. Amanhã há mais.

Pedro Caixinha no escritório de casa

SEXTA-FEIRA, DIA 23 DE AGOSTO

Indeed. O amanhã é já hoje. Como ainda é cedo, toma lá um pequeno-almoço à maneira: ovos estrelados em cima de torradas mais um sumo de laranja mais um croissant mais um café. Caixinha está a rever o jogo com os Galaxy e a tomar notas da sua equipa. Tem uma folha branca cheia de rabiscos, com o nome do jogador e os minutos à frente.

Isto aqui é o quê?

[Caixinha puxa-me] Diz aqui minuto 43:47 [Caixinha move o rato e chegamos ao minuto em causa]. Está a ver? Recuperámos a bola numa situação de aperto dos Galaxy e podíamos ter controlado o jogo ali perto do meio-campo. O que é que ele faz? [mil desculpas, já nem me lembro quem é o ‘ele’] Faz um túnel para apanhar a bola no outro lado, com um adversário em cima. Claro, o adversário adivinha-lhe os intentos e provoca outra situação de golo eminente. [a bola saltita na área do Cruz Azul e há um remate perigoso ao lado] Isto é totalmente desnecesssário. Tenho de falar com ele, até porque a nossa ideia de jogo nesses minutos finais de pressão do adversário é prender a bola e fazê-la rodar entre nós. Não é fazer um bonito ou um malabarismo, isso não nos vai ajudar em nada.

Beeem, que relatório.

Amigo Rui, já ando nestas papeladas há anos e anos.

Quando é que começou?

Uyyyyyyyy [Caixinha serve o café com uma gota de leite]. Comecei a treinar no Real Clube de Penaguião, os sub14. Ganhámos 13 jogos seguidos. Depois, na segunda volta, perdemos duas vezes, com o Farense, que se iria sagrar campeão, e o Vasco da Gama da Vidigueira. Na época seguinte, em 2001-02, já treinei os seniores, na 3.ª divisão. Em 2002-03, fui treinar o Vasco da Gama da Vidigueira e passámos duas eliminatórias da Taça de Portugal. Conheci então o professor Pedro Mil Homens [diretor da Academia do Sporting de 2001 a 2011] mais o José Peseiro durante o mestrado e entrei no Sporting, ainda com o Bölöni, para fazer a tese.

E depois?

Sai Bölöni, entra Fernando Santos. E foi com ele que comecei a trabalhar na equipa principal, como observador dos jogos dos adversários, uma ideia do Mil Homens. O Jorge Garganta era quem analisava os jogos de Coimbra para cima, eu analisava de Leiria para baixo mais as ilhas.

Qual foi o primeiro jogo?

Manchester United-Juventus, no estádio dos Giants, em 2003, a quatro/cinco dias da inauguração do estádio do Sporting. Foi a estreia do Tim Howard como guarda-redes do United e ainda jogava o Miccoli na Juventus. Acabou 4-1 para o United. Jogavam Giggs, Scholes, Solskjaer, Ferdinand, Neville, Van Nistelroooij. Só não estava lá o Beckham, acabado de ser vendido para o Real Madrid. Uns dias depois, o número 7 do United passaria a ser usado pelo Cristiano Ronaldo.

United do Ferguson, grandes memórias.

Por falar em memória, esta do Ferguson é boa: estive 10 dias a ver o United em Nova Iorque nesse ano de 2003 e voltei a passar mais dez dias com o United, em Carrington, quatro anos depois. Olhou para mim e reconheceu-me logo. Isso não é para todos, hein?! Craque, o Ferguson. Perguntei-lhe então o segredo do sucesso para escolher sempre bem os seus adjuntos e ele respondeu-me um adjectivo que nunca mais esqueci: lealdade.

Lealdade.

Claro, há mais adjetivos como conhecimento, personalidade e por aí fora. Só que lealdade é forte, claro que é.

Estava lá o Queiroz?

Na segunda vez, em 2007, sim. Na primeira vez, em 2003, já tinha assinado pelo Real Madrid. Aliás, encontrei-o num camping de 10 dias em Fevereiro 2004.

Camping?

Quando queremos passar uns dias a ver uma equipa, pedimos autorização ao clube.

Como?

Através de conhecimentos e tal. Como havia Queiroz no United e também no Real Madrid, foi mais fácil o pedido. Ele aceitou e facilitou. O termo camping é universal. Estive 10 dias em Madrid a ver o Queiroz trabalhar a equipa. Aquilo era só estrelas, entre Figo, Beckham, Zidane, Roberto Carlos, Raúl, Guti, Hierro, Casillas.

Mais clubes, além de United e Real?

Bristol City em 2001, Atlético Madrid em 2002 e Toulouse em 2003. No Atlético, apanhei o Futre como director-desportivo mais o Dani.

Que movida.

Quando entra o José Peseiro para treinar o Sporting, já faço parte da equipa técnica e aí é que é uma movida. Jajajajaja.

Conte lá.

Para início de conversa, vivia em Beja.

Hein?

Vivia a 180 km da Academia de Alcochete. Fazia o triângulo Beja-Alcochete-Évora. Saía às 6 de Beja, chegava às 0730 à Academia e por lá ficava até depois de almoço. Seguia então para Évora, as aulas começavam às 15/16 horas. A seguir às aulas, ia para casa.

Em Beja?

Claaaaaro. Beja, onde nasci e cresci.

E as observações?

Esse era outro trabalho. Como o Sporting chegou à final da Taça UEFA, fez uns 15 jogos e devo ter ficado na boa uns 30 jogos lá fora. Para cada adversário, dois jogos de observação. Ia cedinho, naquelas viagens mais baratinhas, e fazia o serviço todo: analisar hotéis, centros de treinos, comboios, aeroportos, estádios, adversários. Era cansativo e, ao mesmo tempo, recompensador. Imagina, comecei a dar-me com Gullit, treinador do Feyenoord, e Co Adriaanse, do AZ. São contactos imperdíveis, de gente importante, da nata do futebol. Cresces como pessoa, cresces como profissional. É o que dá trabalhar no Sporting.

E que Sporting.

Cheio de jogadores de selecção. Ricardo, Sá Pinto, Barbosa, Rui Jorge, Sá Pinto, Hugo Viana. O Hugo foi um dos jogadores que mais me impressionou.

Então?

Lembro-me perfeitamente do seu primeiro treino. Estava um dia cinzento, chuva miudinha até, e ele deslumbrou-me do princípio ao fim. Pela qualidade, pela velocidade, pela execução, pelo talento.

Já havia nomes das camadas jovens a surgir?

Imensos. Lançámos Moutinho, por exemplo. Foi em Roterdão, com o Feyenoord. Fez um jogo fantástico a 6. Também subiu Miguel Veloso, Saleiro, Nani.

Já o Nani?

Quando o Dínamo Moscovo tinha muitos portugueses, naquela primeira vaga de emigração futebolística, com Nuno, Maniche, Costinha, Jorge Ribeiro e sei lá mais quem, eles estagiaram em Portugal e jogaram connosco em Alcochete, a meio da semana. Metemos uma equipa mista, com o Nani lá no meio. E já não enganava, claro.

E mais?

Já se falava de um juvenil chamado Adrien. Isto é só um exemplo.

[a sexta acaba assim, Caixinha tem de ir à sua vida; que é como quem diz, entrar em estágio com o resto da equipa para o jogo de sábado com o Puebla, no Azteca]

SÁBADO, DIA 24 DE AGOSTO

Azteca. O que dizer? É o estádio mais glorioso do mundo. Ponto final. Parágrafo.

O Azteca reúne o melhor Brasil de sempre, o do Mundial-70 (‘tadito do catenaccio da Itália na final, arrombado com um esclarecedor 4-1), e, claro, a Argentina de Maradona, a do Mundial-86. Dos cinco golos do 10 nesse Mundial, quatro acontecem no Azteca. E que quatro: o da mão de Deus e o do slalom, ambos à Inglaterrra de Shilton, e os dois à Bélgica de Pfaff, o primeiro com um toque subtil, o outro numa vistosa jogada individual, à sua maneira, nas meias-finais. Antes, ligeiramente antes do 2-1 à Inglaterra, seria o pontapé de moinho de Negrete vs Bulgária a dar a volta ao mundo como golo do ano.

A concentração para o Cruz Azul-Puebla é no Hotel Royal Pedregal, na zona sul da Cidade do México. Para lá chegar, desde o centro, são uns bons 35 minutos sempre a andar, sem trânsito de maior. É sábado, afinal. O hotel tem o autocarro do Cruz Azul à porta e reúne alguns adeptos. A viagem até ao estádio é curta, uns 10 minutos. De fora, o estádio em si é grande, sim. Só isso. Lá dentro é que é o fungagá da bicharada. Os autocarros das duas equipas param e os jogadores têm de descer por um túnel imenso. Acrescento: os jogadores e os intrusos. Como eu. A descida do túnel é como a entrar pelo milheiral adentro no “Campo de Sonhos”.

É um sonho mesmo. Tornado realidade. Quer dizer, 33 anos depois do meu pai comentar a mão de Deus e o slalom mais a final para a RTP, eis-me no Azteca. O túnel é imenso, a perder de vista, faz uma curva e tudo. Do lado direito, uma placa com todos os clubes e países participantes naquele gigante chamado Azteca. O único português é o Benfica, com dois jogos (3-0 ao América, 4-0 do México, com penálti falhado por Eusébio). Mais à frente, já com uma das balizas no horizonte, um quadro cheio de fotografias a percorrer as décadas.

Benfica é o único português na parede do Azteca

Na de 80, o pontapé de moinho de Negrete com a seguinte inscrição: ‘o golo mais belo’. Jajajajajaja. Também há Papa João Paulo II, U2, Michael Jackson, Shakira, entre outros. Quem me faz a visita guiada é Hélder, um dos adjuntos portugueses de Caixinha e antigo jogador de Torreense, Braga, Boavista, PSG e Rayo Vallecano. Conheço-o desde 2001, em Madrid – faço-lhe uma entrevista para o jornal Record num restaurante de fino gosto e somos interrompidos por Guti. Hola para aqui, hola para ali, muy bien e está a andar.

Comprova-se, as balizas do Azteca são ainda de ferro. Madre mía. É tempo de recolher ao túnel para dar uma oportunidade aos jogadores. Os do Cruz Azul, digo. Estão todos em fila, prontos para dar início ao aquecimento, liderado por Óscar Farias, outro português da equipa técnica. Os jogadores animam-se e é um chorrilho de disparates. O mais expansivo é o argentino Guillermo Fernández, número 10. Faz trinta por uma linha. Até que chega Javier Salas. É o rei do pagode. Dá sempre três ou quatro cachaços na nuca de todos os presentes. Ninguém se importa, todos se riem. Chega o central paraguaio Pablo Aguilar, o segundo mais veterano da equipa, com 32 anos, a seguir ao capitão Corona (37), com um pistacchio na mão.

«Abre aí se faz favor; estou há que tempos com isto na mão.» Os olhos de Salas ganham mais vida ainda. Ele abandona os caldos e agarra-se ao pistacchio como se fosse o momento mais importante da sua carreira. Faz uma ginástica marada, acompanhada de uma careta indecifrável, e, voilà, toma lá o pistacchio sem casca. «De todo o plantel”, diz um sorridente Caixinha quando lhe conto o episódio, “é aquele que é mais parecido comigo no querer muito uma coisa, na decisão de querer assumir o protagonismo e de dar um murro na mesa para dar a volta aos acontecimentos.»

O aquecimento visto do túnel é um mimo. O jogo, visto atrás de uma das balizas, num camarote apinhado de familiares de jogadores mais treinadores, é atípico. O Cruz Azul, recém-apurado para a final da Leagues Cup, entra mal e joga pouquíssimo durante a primeira parte. Na segunda, faz uns primeiros 15 minutos de luxo e chega ao golo. O Puebla, penúltimo classificado, responde ao golpe e consegue o empate. O Cruz Azul entra em tilt e salva o ponto mesmo no fim, porque Corona defende um penálti. Acaba 1-1. Imagino a cara do Caixinha. Imagino a boleia de volta para Polanco. Imagino o silênc... Qual quê. Mal me vê, Caixinha sorri e atira ‘a barriga não tem culpa, vamos a isso?’ O isso é um jantar perto de casa, num restaurante espanhol.

Grande Corona.

É um guarda-redes tremendo. Já o nosso do Santos Laguna, o Oswaldo Sánchez, tinha queda e ainda hoje é o recordista de penáltis defendidos na liga mexicanos, com 25 ou lá o que é. Mas viu a equipa? Quem diria que eliminámos o Galaxy a meio da semana? É como lhe digo, eles vão incompreensivelmente da euforia à depressão num instante.

O que lhes disse no final do jogo?

Nada, isto é a sexta jornada do campeonato. Bola para a frente. Vou fazer o quê? É preciso manter a calma e bola para a frente. Foi o que disse aos jornalistas: se me dissessem que ia ganhar um ponto antes do jogo, diria que era uma decepção. Como foi o jogo, penálti incluído, é um ponto ganho. Temos de ser realistas.

E o que disse ao árbitro no final do jogo?

Perguntei-lhe se tinha visto o Benfica-Porto desta tarde.

E ele?

‘Ah sim, sim, vi.’ E começou a falar do golo anulado pelo VAR no último minuto. Só que não estava a falar disso. Quando lhe perguntei sobre o clássico, era para falar-lhe sobre o amarelo ao Marchesín por perder tempo, ainda no primeiro tempo. Aqui permitem tudo, e o guarda-redes do Puebla perdeu sempre tempo nos pontapés de baliza. Já disse e volto a dizer: bola para a frente.

O Caixinha foi guarda-redes, não foi?

Correcto. Ainda fui treinar ao Sporting.

Nããããão.

A sério. Dormi lá e tudo, com Cadete e Rui Correia. Essas coisas não se esquecem. [mete uma mudança abaixo, já perto de Polanco].

E então?

Não fiquei no Sporting, fui chumbado pelo Carlos Pereira, irmão do Aurélio. Ficou um Jorge Humberto, que depois reencontrei-o no Beja, na 3.ª divisão. E, veja lá como são as coisas, eu a titular e ele a suplente.

E como é que era o Caixinha?

Pequenino, um prega-saltos.

Um quê?

Prega-saltos. Nos treinos do Sporting, o Justino dizia-me 'pareces mas é um guarda-redes de matraquilhos'. Era arrojado, destemido e adorava treinar, sempre em ação, só que não tinha envergadura nem escola de guarda-redes.

E ídolos?

Uma série deles, a começar e a acabar no Damas. Aos 14/16 anos, tinha o quarto forrado com posters do Damas. Lembro-me de ver o Zubizarreta em acção, num Sporting-Athletic Bilbao para a UEFA. E lembro-me muito do Buyo. Como apanhávamos a TVE lá em casa, era costume ver os jogos da Liga espanhola e, o melhor de tudo, o programa desportivo de domingo chamado ‘Estúdio Estádio’. Espécie de Domingo Desportivo da RTP. Davam resumos alargados e diferentes dos de Portugal. Como o Real Madrid da Quinta del Buitre estava por cima, adorava-o. Olha, o Michel desse Real Madrid treina agora o Pumas, é o outro europeu do campeonato mexicano. De volta ao Buyo, era um ícone. Que portero, jajajajajajaja. Também pela televisão, acompanhei o Zoff no Mundial-82, o Bats no Mundial-86. Aqueles penáltis defendidos com o Brasil. Primeiro foi o Zico, ainda durante o jogo. Depois foi o Sócrates, já no desempate. São imagens que nunca se esquecem, de guarda-redes cheios de pinta.

Quem era bom a defender penáltis em Portugal era o Félix Mourinho: defendeu um do Eusébio, um do Matateu e outro do Yazalde.

Eischhhhh, não é para todos. O José Mourinho é cinco estrelas. Dez estrelas, qual cinco. Dez estrelas, isso sim.

Conhece-o?

Conheci-o em Setúbal, num jogo do campeonato. Entendemo-nos bem logo ali. Depois, as coisas precipitaram-se. Na altura em que eu era adjunto do Peseiro na selecção da Arábia Saudita, calhou jogarmos o play-off asiático vs Bahrein para o Mundial-2010. Como o Bahrein jogava com o Inter na pré-época 2009-10, escrevi ao Mourinho a perguntar se podia ver o jogo. Beeeeem, vi o jogo e tive tratamento de luxo. Ele até queria que eu jantasse com a equipa. Aí tive de recusar, já era demais. Então ele levou-me no autocarro da equipa. Lá fui, ao lado do Silvino.

E depois?

Como estava mais desafogado, porque o trabalho de seleção é diferente de um do clube, comecei a fazer relatórios sobre adversários do Inter no campeonato e Taça de Itália.

E enviava?

Claro, o Mourinho recebia-os. Chegávamos a trocar umas três mensagens por dia. Ficámos próximos. Quando estou muito bem na praia, a curtir o Verão com a família, depois de ter colocado um ponto final na carreira de adjunto para lançar-me a solo, liga-me o Rui Faria.

A dizer?

Que o Bartolomeu ligara ao Mourinho a sugerir nomes para substituir o Lito Vidigal. O Mourinho só lhe deu um, o meu. O Rui Faria queria saber se podia fazer a ponte entre mim e o Bartolomeu. Assim foi. Começou aí a minha carreira de treinador na 1.ª divisão.

E que tal?

[sentamo-nos no restaurante, saia uma dose de pimentos padrón mais umas cenas fixes para picar] A equipa era sensacional, com o Silas a jogar atrás dos avançados. Acabámos a primeira volta em quarto lugar, atrás dos três grandes. Depois o Bartolomeu vendeu uns quantos jogadores na reabertura do mercado e acabámos em décimo.

Depois foi Nacional, certo?

Outra grande equipa. Recebi uma chamada do Rui Alves e lá fui. A equipa era óptima, com Neto, Candeias, Rondón, Mateus, Diego, Claudemir e Moreno. A pré-época foi tão boa que ganhámos o Ramón Carranza, em Cádiz. Batemos o Osasuna mais o Rayo Vallecano. A nível português, só o Benfica tinha ganho esta taça. Que é enorme e pesadíssima, nem sei como chegou à Madeira.

DOMINGO, 25 DE AGOSTO

Isto de acordar no México tem os seus quês de curioso. Como há uma diferença de seis horas em relação a Portugal, amanhece-se com um jogo da Premier League às oito da matina. Toma lá um Bournemouth-City. Ou não. Caixinha tem outras ideias. E boas, diga-se.

Ò Rui, a que horas é o voo de hoje?

Saio às 19h55. Já fiz o check-in, tenho de estar no aeroporto às 6-e-pouco, não?

Vamos a eles. Que tal irmos tomar o pequeno-almoço a ver a maratona?

A maratona?

Isso mesmo, a maratona da Cidade do México é hoje e passa aqui à frente de casa.

Vamos a eles

[ou não, há uma fita amarela a impedir-nos a passagem mais uma série de corredores a passar aquele que é o quilómetro 25]

[às tantas, há pessoas a reconhecer Caixinha]

[uma selfie]

[duas]

[três]

[lá atravessamos para o outro lado e chegamos à pastelaria, mesmo em frente a outro ponto da maratona]

[nem tem nada que saber, é ovos estrelados em cima de torradas, sumo de laranja e café]

Ó Rui, grande espetáculo. Isto é que é acordar com vigor.

[há centenas de corredores a passar]

Agora a maratona e daqui a nada arrancamos para a montanha.

Ai é?

Vamos ver o Toluca-Club Tijuana às 12h00, almoçamos e dá tempo para entregá-lo no aeroporto a tempo e horas, jajajaja.

Na bancada do Toluca-Club Tijuana

Feito.

Isto é uma maravilha, a maratona à nossa frente.

Que outros desportos costuma ver?

Ao vivo, aqui? Há um ano, fui assistir a um torneio de golfe, ali na zona das embaixadas. Tirei fotos com o Tiger Woods e tudo.

Uauuuu.

E também há um ano fui ao GP do México, o da consagração do Lewis Hamilton.

Uyyyy, e que tal?

Impressionou-me mais o MotoGP do Qatar, quando lá estava a treinar o Al-Gharafa. Estava mesmo na reta da meta e eles passam a velocidades estonteantes. Se aquilo dá para o torto por qualquer motivo, é um drama a sério.

[um corredor da maratona, devidamente assinalado com o número no peito, sai da corrida e pede uma selfie com Caixinha]

[outro corredor]

[agora uma corredora]

[é só rir, eles atropelam-se para falar com Caixinha]

Também já fui ver jogos aos EUA.

Foi ver o quê?

Futebol americano, Dallas vs Texans. O espetáculo em si é bom, só que o jogo é parado. Raramente há parada e resposta.

E NBA?

Um dia, vi um jogo do LeBron. Também já me calhou ver Clippers. É bom, mas parece-me que a emoção só se descontrola no quarto período. Antes é assim para o lento, com jogadas espetaculares, sim, mas sem picante, sabe?

[começa o roda-bota-fora dos maratonistas a tirar selfies com Caixinha: um, dois, três, quatro, cinco]

[sem esquecer os piropos dos atletas, ‘profeeeeee’, ‘vamos Cruz Azul’, ‘campeón’, ‘Caixinha’]

Isto não pára.

Aqui é assim: quando vem um, aparecem logo dois ou três. Depois é às paletes, jajajajaja. Vamos para Toluca?

Siga a marinha.

Gaaaaaaaaaaabiiiiiiii. ?Que tal, bien? [encontramo-nos com Gabi, condutor da navete ao serviço do Cruz Azul, mais Pedro Malta, o terceiro e último português da equipa técnica]. Vamos aqui com o Pedrito para analisar o Tijuana, o nosso próximo adversário. Rui, o estádio do Toluca é o mais inglês do México. Parece uma caixa de fósforos, um pouco à imagem do Bessa.

[a escolha musical de Gabi é do best, inclui Huey Lewis e a banda sonora da série “Fame”, dos 80’s]

Aqui há estádios modernos e espetaculares. Este é o do Monterrey. É um assombro. As montanhas atrás e tal. E este aqui?

Eiscchhhhhhhhh.

É o do Cruz Azul, antes de irmos jogar para o Azteca.

Todo azul, brutal. E ao lado é o quê?

A praça de touros, a maior do mundo.

Chi-ça, é mesmo enorme.

De Novembro a Fevereiro, há lá corridas todos os domingos. E, às vezes, enche completamente. De vez em quando vejo lá o Negrete.

É de quem, o Negrete?

Figura eterna do Pumas. Que joga no Estádio Olímpico Universitário, uma espécie de Jamor, à moda antiga, de pedra. Foram lá os Jogos Olímpicos-68.

E o vosso estádio, como é que é?

O Cruz Azul quer crescer em todos os sentidos. Já fizemos algumas mudanças. Coisas simples e básicas, como divulgar os convocados no twitter. Quando jogamos no Azteca, incluímos fotografias dos jogadores com a família no túnel de acesso dos balneários ao relvado.

As fotografias dos jogadores com a família no túnel do Azteca

Boa boa.

O slogan é ‘el exito no se da, se gana!’ Ou seja, queremos mais, sempre mais. O estádio, o centro de estágio, a equipa, a formação. Tudo tem de crescer, tudo vai crescer. O Cruz Azul é um grande do México, só que não ganha o campeonato mexicano desde 1997. No Apertura do ano passado, ainda chegámos à final.

E?

Perdemos com o América, 0-0 e 2-0. O guarda-redes deles era o Marchesín e também jogava o Uribe, agora no Porto.

Já me lembro beeeeem. Isso é a final em que o Caixinha cumprimenta o Herrera, treinador do América, antes do apito final.

Isso mesmo. Eles ganharam bem, nada a dizer. Manietaram-nos e marcaram-nos dois golos.

[vai começar o jogo e Caixinha chama-nos a atenção para a entrada em campo do treinador La Volpe, do Toluca]

Entra sempre assim, com a maior calma do mundo [de facto, parece que está a andar na Lua]. A malta aqui respeita-o desde 1993, quando ganhou o campeonato pelo Atlante. Como é adepto do 3-5-2, os mexicanos falam de lavolpismo para aqui e lavolpismo para ali.

E o caixismo, para quando?

Jajajajajaja. Breve, muito breve, jajajajaja. Sinto-me bem aqui. Ganhámos Apertura 2014, Clausura 2015 e o troféu Campeão dos Campeões 2015 pelo Santos Lagunas. Agora pelo Cruz Azul já ganhámos a Taça do México Apertura 2018 e a Supercopa mexicana 2019. Estamos lançados.

Vamos a eles?

Vamos a eles.

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