«Ronaldo é o Nadal, Quaresma é mais o Federer» - TVI

«Ronaldo é o Nadal, Quaresma é mais o Federer»

Toñito

Rui Miguel Tovar entrevista Toñito, que recorda histórias do Sporting e do futebol português, de Ronaldo e Schmeichel, de Pedro Barbosa e Paulo Bento, até de quando Materazzi vestia o avental e fazia o jantar para o plantel. Venha daí nesta viagem.

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Rui Miguel Tovar está no Maisfutebol com a rubrica LOAD " " ENTER. Para ler todas as semanas e saborear conversas por vezes improváveis com as principais figuras do futebol. Já sabe, basta escrever LOAD " " ENTER para entrar neste mundo maravilhoso de Rui Miguel Tovar. 

Faz cara séria. Nãããããã, missão impossível. Toñito é daquelas pessoas de alegria contagiante. Seja em Espanha ou em Portugal, seja em Tenerife ou em Alcochete, ele chega a um sítio e transforma-o patas arriba. É um bem-disposto por natureza, de sorriso imediato e conversa fácil. Tanto assim que é o próprio Toñito quem começa a entrevista. É só rir.

Sabes uma coisa?

Nem ideia.
Saudades disto.

Da academia?
Também. Se me arranjassem um cubículo, passava aqui o ano. Na boa. Ia ali ao ikea, mobilava e pronto [Toñito parte-se a rir]. É sério, gosto muito disto. Vi isto a crescer, lembro-me perfeitamente de todos os passos. Além disso, sou agarradíssimo ao Sporting.

Estás aqui agora porquê?
Trouxe a minha equipa.

A tua equipa?
Ya, o Sporting Clube de Tenerife.

Sério?
[Toñito endireita-se e faz uma cara sério] É o meu Sporting. Foi uma ideia que nasceu quando ainda jogava futebol, na Croácia [Rijeka], em 2007, e cresceu até ao ano da sua fundação, em 2011. Pedi ajuda ao Sporting e correu tudo bem. Até jogamos de verde e branco.

Nãããããã
A sério.

Maravilha.
Sabes, o verde acompanha-me toda uma vida. O meu primeiro clube de sempre, aos 11 anos de idade, é o Ramal. Verde e branco. Depois, Vitória. Mais verde e branco. A seguir, Sporting. Verde e branco.

É verdade, como é que saltas do Tenerife para Setúbal?
Aos 15 anos, já jogava nos sub18. Aos 16, com a equipa B. E treinava com os seniores.

No Tenerife de quem?
Primeiro Valdano, depois Heynckes.

Eiscchhpectáculo
Valdano falava futebolês, sabes? Ele dizia as coisas e nós entendíamos na perfeição. Nem havia perguntas nem nada. Os treinos eram aulas. O adjunto dele também era especial, um filósofo no futebol. Chama-se Ángel Cappa.

Conheço-o mais pela escrita
Claro, é um filósofo, como te digo. Ele também nos transmitia as coisas de uma maneira simples com uma linguagem eficaz.

É esse o Tenerife que tira dois títulos de campeão seguidos ao Real Madrid?
Jajajajajajajaja.

E estavas lá?
Como espectador e, depois, apanha-bolas. Ainda tenho bem marcado na memória o 3-2 do Pier, erro do Buyo. O Real estava a ganhar 2-0 e perdeu 3-2. O Barça do Cruijff foi campeão nesses dois anos. Inesquecível.

E o Heynckes?
Só tenho boas coisas para dizer dele. Apostava em mim.

E treinavas com quem?
Redondo.

Nãããããããã.
Siiiiiiiiiii. Redondo, é verdade. Devia despejar meio frasco de perfume antes de cada treino. Se já era difícil roubar-lhe a bola, porque ele a manejava muy bien, até com a ajuda do corpo e dos cotovelos, a missão tornava-se impossível com aqueleas doses de perfume, jajajajaja. São recordações que levo para a vida. E cheiros.

E mais jogadores
Chano, o do Benfica. Aguilera, do Atlético Madrid. Havia craques até dizer chega, era uma equipa muito boa, do caraças, que chegou às meias-finais da Taça UEFA.

E tu ali no meio?
E quietinho, nem imaginas.

Então?
Antigamente havia mais respeito. Se me quissesse dirigir à equipa, pedia autorização. Tanto Valdano como Heynckes tinham o hábito de chamar dois miúdos para se juntarem ao treino. Era eu e outro. A gente treinava-se, tomávamos banho e mudávamo-nos numa cadeira de madeira. Nunca nos sentávamos no banco longo, ao lado dos outros. E não saíamos logo. Primeiro, tínhamos de limpar o balneário todo. Hoje em dia, um miúdo qualquer manda-te para um sítio. Antes havia respeito, é algo que se aprende desde pequeno.

E sentias o teu futuro no Tenerife?
Quando apareceu a proposta do Vitória, falei com o meu treinador e ele disse-me que não havia buraco para mim na equipa. Que iria jogar uma vez, duas ou três, e aconselhou-me a aproveitar porque o meu futebol tinha valor.

E vieste para cá?
Grande aventura. Sobretudo para quem nunca tinha saído de Espanha.

E que tal, Setúbal?
Está gravado na memória, lógico. Lançou-me a carreira. E é um sítio lindo, cheio de pessoas espetaculares. Também tive sorte.

De quê?
A sorte da vida, de estar bem acompanhado pela minha namorada. Uma mulher boa é melhor que um empresário. É a sério: qualquer miúdo que comece, tem de ter uma pessoa mais importante que ele, por assim. Que não dê chatices, que não crie problemas. Tive sorte.

E desportivamente?
O primeiro ano não foi grande coisa. Treinava muito, mas jogava pouco.

Quem era o treinador?
Manuel Fernandes. Com quem joguei depois no Sporting e Santa Clara. Ele gostava muito de mim, só que queria-me no ponto. Mal entrei na equipa do Vitória, nunca mais saí. Nunca tive um pai na vida e posso atribuir esse papel ao Manuel Fernandes.

Nunca tiveste um pai?
Venho de uma família destruturada, com sete irmãos. Sou o quinto. Vivíamos com a minha avó num bairro pobre, com muita deliquência. Como te digo, tive sorte porque podia passar para o outro lado com facilidade. Tinha irmãos que davam problemas, que se dedicavam a coisas que não eram deste mundo

E agora, esses irmãos?
Um tem uma doença degenerativa, ficou quase cego. Outro tem uma placa na perna porque teve um acidente de viação e não pode trabalhar. Outro teve menigite no ouvido quando era pequeno. O outro trabalha numa empresa de ar condiconado. Estes os mais velhos. Dos mais novos, a minha irmã trabalha numa bomba de gasolina e o outro trabalha na construção civil. Todos em Tenerife. A sorte é que passava o dia a jogar futebol.

Onde?
Onde calhasse. Na rua, em cima de asfalto. Descalço, quase sempre descalço. Era o dia todo assim, antes e depois da escola, claro. Quando tinha fome, roubava maçãs e peras das árvores dos terrenos vizinhos e, depois, voltava a jogar futebol. Não tive o carinho de pai e mãe. A minha mãe trabalhava como empregada de limpeza numa escola e, às vezes, passava dois/três dias sem a ver. E também não tinha referências escolares, alguém que me dissesse para estudar ou alguém que me ensinasse o que fosse. Só tenho o ensino básico porque o Tenerife contratou-me e obrigou-me a fazer a escola até ao fim. Eu lembro-me de dizer aos dirigentes que só queria jogar futebol e eles, bem, diziam-me que ‘os estudos estão primeiro’.

É bem.
Se voltasse atrás, repetia tudo: o andar descalço e a jogar futebol. Sinto que me valorizei por mim e são esses valores da humildade e respeito que passo às minhas filhas.

Claro.
Em Setúbal, já é outro nível de vida. E estava dentro de uma dinâmica muito própria, a de uma equipa de futebol.

E que tal?
O Vitória foi um sonho. A qualidade humana era ilimitada. Vê bem os nomes: Hélio, Mamede, Frechaut, Mário Loja, Chiquinho Conde, Chipenda, Zé Rui. Um equipazo. Fomos à Intertoto no segundo ano. Era costume almoçarmos ou jantarmos lá em cima, com vista para o mar. Quase sempre um peixinho, num bar minúsculo que o Hélio adorava. Digo-te, o mais importante do futebol é o grupo. E um grupo sem craques, com todos a remar para o mesmo lado, é do melhor. Esse Vitória era assim, um grupo de compromisso, de bons rapazes trabalhadores.

E os adeptos do Vitória?
Muito sentimentais. Como os do Sporting, sabes? Havia um bar chamado Bica e eu passava lá o tempo a falar com eles. Bebíamos um café na boa e, às vezes, até jogávamos snooker. Malta boa, bem boa.

Depois, Sporting.
Sonho, outro. O Porto até foi o primeiro clube a interessar-se, mas preferi o Sporting. É a questão do verde e branco, jajajajaja.

Deste-te bem?
Super, falava com todos. Castelhano com Duscher, Hanuch, Acosta e Kmet. Portunhol com os portugueses. E por gestos com os estrangeiros.

Como quem?
Schmeichel, jajajajaja.

Era porreiro?
Dentro de campo, rígido e sério. Fora, um personagem. Estava sempre na brincadeira. Boa gente. E um animal, fooooogo.

Então?
Então? Nas bolas paradas, bastava ouvi-lo a gritar no ataque à bola que ninguém ousava intrometer-se no caminho. Dava uma segurança imensa à equipa.

E nos treinos?
Ficava pior que estragado quando lhe marcava golos de chapéu. Sabes como é, aqueles treinos de finalização, de um para um? Entras na área, com todo o tempo do mundo, sem marcação, e aproveitas para brilhar. O Schmeichel, tal como todos os outros guarda-redes, saía-se dos postes e eu picava-lhe a bola. Beeeeem, o gajo passava-se. Começava a correr atrás de mim a dizer ‘fuck you’. Depois, quando nos encontrávamos no balneário, agarrava na minha cabeça e fingia que a arracava. Ficava mesmo danado.

Esse é o Sporting do Materazzi, certo?
Eeeeee, o Materazzi era espectáculo.

A falar, dizes?
Bom, a falar não sei. Não o compreendia muito bem.

Quem é que traduzia?
Ayew, Spehar, De Franceschi. O De Franceschi nem sequer falava português e traduzia-nos, jajajajaja. Era só rir. A piada do Materazzi era vê-lo a fazer-nos o jantar na pré-época.

Fazer-vos?
Houve dias em que metia o avental e dizia-nos ‘hoje faço eu a lasanha’. E fazia para nós. Bem boa, hein?! Digo-te, a pré-época do Materazzi foi-nos benéfica lá mais para a frente. Quem tiou proveito disso foi o Inácio. Nós treinávamos três vezes por dia e chegámos lentos em Setembro, Outubro e Novembro. A partir de Dezembro, voávamos. Todo o mundo se soltou e foi o que se viu. Ultrapassámos o Porto e fomos campeões. Claro, tínhamos qualidade.

Campeões em Vidal Pinheiro?
Salgueiros [Toñito soletra devagar]. Foi a coisa mais bonita da minha vida: a festa no relvado, no balneário e depois a viagem de autocarro até Lisboa. Para se ver como é que é o futebol, em que o estado anímico muda de uma semana para a outra.

Falas do Benfica?
Tínhamos toda a festa preparada, era o filme ideal: campeão ao fim de 18 anos, em casa e com o maior rival. A caminho do balneário, maltratei tanto o Sabry.

Jajajajajajaja.
Filho da p****, cabrón. Ele estava a festejar como se tivesse ganho o campeonato. Todo contente. Eles todos, aliás. E nós de rastos.

Imagino.
Não imaginas, havia gente a chorar no balneário. Muitos choravam. Mesmo. Na semana seguinte, aquela explosão de alegria. O futebol é mesmo assim, pasión.

Nesse ano, há ainda a final da Taça de Portugal com o Porto.
Fui expulso nesse dia.

Ai é? Olha, não sabia.
Só fui expulso duas vezes. No Jamor e no Bessa. No Jamor, doeu bastante porque é uma final da Taça. No Bessa, foi um jogo de campeonato e, nessa circunstância, a equipa pode recuperar. Numa final de taça é mais difícil. Fiquei devastado.

Como é que foi a expulsão?
Foi numa jogada de canto, acho. Como se chama aquele pequeno do Porto que dava muita porrada?

Pequeno?
Sim, pequeno.

O Paulinho?
Paulinho Santos, esse.

Ele é pequeno?
Bueno, pequeno como eu. Jajajajaja. Pegou-se com o Acosta e fui ajudar o Acosta. Quando o linier [fiscal-de-linha] foi lá para serenar os ânimos, empurrou-me. E a minha reação foi empurrá-lo de volta. Claro, fez queixa ao árbitro e fui expulso. Foi o pior dia da minha vida.

Títulos, expulsões, só faltam golos. Marcavas alguns. Ao Benfica, por exemplo.
Um-zero do Vitória, no Bonfim. Com o braço agarrado ao peito.

Como assim?
Na semana anterior, a meio do treino, saiu-me o cotovelo num salto de cabeça com dois jogadores. O médico do Vitória, um senhor já velhinho, meteu-me o cotovelo na posição e dei um grito do caraças, aahhhhhhh. Durante essa semana, e porque estava a jogar bem; o presidente do Vitória levou-me a um curandeiro e meteram-me ervas e sei lá o que mais. A verdade é que o cotovelo já não estava inflamado no dia de jogo e entrei em campo com uma venda. Antes do início do jogo, os jogadores do Benfica viram-me e fizeram queixa ao árbitro. Alegavam que era gesso, o que é ilegal num jogo de futebol. O árbitro tomou nota e apalpou-me. Como era uma venda, autorizou-me a jogar e marquei o golo da vitória.

Como?
Jogada do Zé Rui pela banda e cruzamento. Eu parei a bola e atrei. Na baliza, o grande Preud’homme.

E ao Porto, tens golos?
Marquei pelo Santa Clara, nos Açores e no Dragão. Nos Açores, até marquei duas vezes. Ganhámos 2-1 e, à mesma hora, o Sporting jogava com alguém. Esse jogo fez com que o Sporting passasse o Porto na classificação. Ou igualasse, já nem sei. Estamos a falar do ano em que o Sporting foi campeão em 2002. Sei é que telefonei aos meus amigos do Sporting todo contente e eles a dizerem-me que os adeptos do Sporting começaram a cantar ‘que fuerza Toñito’ a meio do jogo. Era o sinal de que tinha feito golo. Ajudei o Sporting, por fora.

Quem era o guarda-redes do Porto?
Baía, Vítor Baía. Dois golos. Um foi em corrida, o outro de penálti. No de penálti, o Baía aproximou-se de mim e disse-me ‘espanhol, cuidado que sei onde vais metê-la’. Ele adivinhou o lado, só que atirei para cima. Quando a bola entrou, pisquei-lhe o olho.

E ele?
Riu-se. O Vítor é fantástico. Conheci-o no Porto, quando eu já estava no Boavista, e é super.

E esse Santa Clara?
Grande equipa. Sérgio Nunes, Jorge Silva, o guarda-redes, Brandão, Toni, Figueiredo, Vítor Vieira, Paiva, Hanuch, emprestado pelo Sporting, e o Leal. Lembras-te do Leal?

Ya.
Que grande gajo, o que me ria com ele. Era o palhaço do balneário

E o treinador?
Manuel Fernandes. Ele levava-nos a almoçar lá acima, ao cozido das furnas. E também nos levava a jogar paintball. Que figura, que tempos. Ainda nesse ano, joguei o jogo das estrelas em Alvalade. Era estrangeiros contra portugueses. E falou-se da hipótese de naturalização.

Tua?
Siiiiiii, para jogar por Portugal.

Era o Scolari?
Já não me lembro. Sei que me falaram disso no balneário e, depois, lá fora, o meu empresário também falou disso. Eu estava mais que dividido. Sou espanhol, não é? Se fosse agora, nem pestanejava e aceitava, claro.

Estavas em alta?
Muito. Voltei ao Sporting e marquei uns sete ou oito golos. Era o Bölöni, que jogava com três centrais e dois extremos pela banda. Eu à direita e o Rui Jorge, ou o Tello, à esquerda. Nunca mais me esqueço: quando jogámos com o Inter para a pré-eliminatória da Liga dos Campeões, o Hector Cúper elogiou-me bastante. Deu-me uma moral que durou a época toda.

Quem era o teu rival pela banda?
César Prates. Esse estava sempre feliz, jogasse ou não. E sempre com a sua guitarra.

 

Esse já é um Sporting diferente do de 2000.
Siiiiii, claro. Havia muitos miúdos, Bölöni puxou para cima muita gente. Ronaldo, Quaresma, Carlos Martins, Hugo Viana. Ajudaram-nos bastante.

Lembras-te do Ronaldo desses tempos?
Se me lembro? Claro que sim, era um craque,

Já adivinhavas o futuro?
Isso não. Adivinhava que ia ser jogador bom de bola, agora que ia ser tudo isto é que não. Mas lembro-me dos primeiros treinos dele connosco. Os veteranos diziam-lhe ‘ouve lá, ó miúdo, tem calma’ quando ele começava a fazer aquelas coisas com os pés e a bola.

E ele?
‘Calma, o car****’. Jajajajajaja. E continuava a fintar. Lindo. Fui muito chegado a ele, porque dava-lhe boleia para a Expo, onde ele vivia. E porque ele gostava do meu estilo sempre brincalhão e tal. Aliás, o meu carro  era o de toda a gente. Em dia de almoços ou jantares de equipa, todos os miúdos queriam ir comigo: Ronaldo, Quaresma, Carlos Martins. E ainda havia o Nuno Santos, o guarda-redes.

Claro.
Digo-te, raramente vi uma pessoa tão identificada com o Sporting como o Nuno. Ele vivia o Sporting, respirava o Sporting, sofria pelo Sporting. E é um gajo à maneira, bem divertido, sempre bem-disposto. Está a ver, não é? Essa malta toda dentro de um carro. A gente metia o rádio alto e cantava alto até mais não. Jajajajaja.

E o resto do grupo?
Havia o Jardel.

E?
O Mário era um fenómeno: não era aquela coisa tecnicamente, mas garantia-te 30/40 golos por ano à conta da sua finalização. O Mário era muito boa gente, mas tinha mentalidade de criança. Nunca o vi falar a sério de nada, jajajajaja. Só brincava. E, claro colava-se ao meu grupo com os miúdos. Ele inventava a toda a hora os jogos mais engraçados, como meter a bola dentro de um caixote do lixo ou assim.

E mais?
Havia os mais sérios, que estavam sempre a falar de futebol. Futebol, futebol, futebol, futebol, só futebol a toda a hora.

Quem?
Pedro Barbosa, Paulo Bento, Rui Bento, Sá Pinto e Rui Jorge. Quando os via no jacuzzi, metia-me lá no meio só para chateá-los e eles expulsavam-me ‘sai daqui car*****’. Jajajajaja.  Mas digo-te, nunca vi o Paulo Bento jogar mal. Nunca. E aprendi imenso com o Paulo Bento e o Rui Bento. Só de vê-los jogar no meio-campo. Eles já eram treinadores lá dentro. Um dia, fiz dois golos ao Vitória de Guimarães nas Antas com duas assistências do Paulo Bento. O Paulo era como Guardiola, sempre a dirigir.

E o teu gang dos miúdos, bom de bola?
Só pensavam na bola, só queriam jogar à bola. Às vezes, queria tomar banho e ir para a casa. Qual quê, pá. Não via ninguém e tinha ficado de dar-lhes boleias. Então, ia ao campo, e via o Nuno Santos à baliza a defender uma série de remates intermináveis de Quaresma e Ronaldo. Outra vezes, queria sair dali e via o Ronaldo ainda no ginásio. Tinha de bater no vidro e apontar-lhe o relógio. Sabes o que ele me fazia? O gesto de caaaaalma. Já viste o descaramento?

Jajajajajajaja.
O Ronaldo sempre teve a mania do ginásio, do cuidar o corpo, do aperfeiçoar os remates à baliza. Sempre. Ele queria superar-se diaramente. Via-se isso em coisas minímas, como as corridas de 30/40 metros. Ele queria sempre saber o tempo e melhorá-lo. Comparo-o muito ao Rafa Nadal. É o valor do trabalho diário.

E o Quaresma?
É mais o Federer, talento natural. Para mim, o Quaresma podia ser um dos cinco melhores do mundo.

[aparece Paulinho na equação, Toñito estica os braços e dá-lhe um abraço de tamanho do mundo]
Todo o mundo lo quiere. Às vezes, liga-me para Tenerife, eu atendo e ele só quer falar com a minha mulher. Diz que tem um gato para ela. Há anos que diz isso. E diz que o gato está congelado. É só rir, o Paulinho. Quando jogava no Sporting, ele almoçava na minha casa uma vez por semana ou assim. Quando dava por mim, já ele tinha despachado um frango e tal e já estava a dormir no sofá. Jajajaja, que figura.

Última pergunta: o que sentiste quando marcaste aquele golo ao Sporting, em Alvalade
Xiiiiii, pedi perdão, claro. Ainda por cima, foi o golo do empate perto do fim. Temos de ser profissionais, claro, mas custou-me imenso.

É um golo de cabeça, certo?
Sim, ao segundo poste. Na baliza, Patrício.

Ai marcavas golos de cabeça?
Jajajaja. Muitos. Apesar da minha estatura, era muito oportuno. Sempre me ajudou bastante. Um dia, marquei um grande golo de cabeça ao Porto, no Dragao, e anularam-me. Menos mal, o Boavista ganhou nesse dia por 1-0.

Uyyyyy.
Era o Boavista do Jaime Pacheco. Com ele, aprendi muitíssimo e ai de ti se fechasses os olhos por uma vez que fosse. Aquilo era trabalho, trabalho e trabalho. À falta de seis jornadas, ainda estávamos na luta pelo título. Depois, fomos. Jajajajaja

[reaparece Paulinho e mais um abraço xxl]

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