Murat não traduziu os McCann - TVI

Murat não traduziu os McCann

Pais e irmãos de Maddie (Foto Luís Forra/Lusa)

PJ admite que, além de Robert Murat, outros tradutores «voluntários» também presenciaram inquirições a estrangeiros no caso do desaparecimento de Maddie. Diligências em que o arguido participou não foram repetidas. «Não era necessário», diz Judiciária

Robert Murat não foi o único «voluntário» a participar como tradutor nas inquirições a estrangeiros, no âmbito do rapto da pequena Madeleine. De acordo com o porta-voz da Polícia Judiciária de Portimão, Olegário Sousa, «outras pessoas», além dos técnicos oficiais, «também participaram enquanto tradutores» no depoimento formal de vários estrangeiros.

Apesar de a PJ dispor de peritos na área da tradução, «face à urgência e à distância [os peritos estão em Lisboa]», os inspectores aceitaram a ajuda do consulado britânico, que enviou pessoas acreditadas para a tradução, bem como o apoio oferecido por um grupo de cidadãos que, num «movimento de solidariedade», se prontificaram a auxiliar, referiu ainda Olegário Sousa ao PortugalDiário.

Murat não assistiu aos depoimentos dos MaCcann

Segundo o mesmo porta-voz, Robert Murat participou em «diligências menores», que incluíam inquirições a estrangeiros, muito embora não tenha querido revelar o número de depoimentos que foram presenciados pelo único arguido deste caso.

Não obstante, o inspector da PJ faz questão de sublinhar que Robert Murat apenas participou «num pequeno número» de inquirições e que, «seguramente, nunca esteve presente nas diligências que envolveram a família MacCann». Tudo isto aconteceu «nos primeiros dias da investigação», numa altura em que «nada levava a suspeitar» do cidadão britânico.

Inquirições não foram repetidas

Os peritos tradutores devem ser nomeados por quem dirige a investigação, [o Ministério Público], mas neste caso, refere Olegário Sousa, a PJ tinha competências delegadas para realizar as diligências.

O porta-voz da PJ refere ainda que as inquirições em que Robert Murat participou não foram, entretanto, repetidas porque «eram de menor importância e não foi necessário».

«Na vida real só temos um take para filmar uma cena»

Segundo um investigador da PJ ouvido pelo PortugalDiário, o que se passou no Algarve está longe de ser um «procedimento standard», mas «não é ilegal» e justifica-se com «o stress do momento e com o voluntarismo demonstrado por quem pretendia ajudar nas investigações».

De acordo com este elemento da PJ, os investigadores recorrem, por vezes, a «moradores idóneos dos bairros», designadamente nos arredores de Lisboa, para fazerem uma primeira abordagem junto de outros residentes que a Judiciária supõe terem informações úteis.

Diligências como estas têm, naturalmente, «um reverso da medalha» e o caso de Madeleine é um bom exemplo disso. Mas, «ao contrário dos filmes, na vida real nós só temos um take para filmar uma cena», ironiza o inspector.

Juristas dizem que o procedimento é legal

O recurso a tradutores não oficiais «é um instrumento auxiliar de obtenção de prova» legal e justificado «numa situação de manifesta urgência em obter depoimentos», referiu ao PortugalDiário a penalista Cláudia Santos.

Também o jurista Carlos Pinto de Abreu considera que os tradutores «voluntários» podem auxiliar, muito embora tenham de ser nomeados por quem dirige a investigação, PJ ou Ministério Público. Em casos de manifesta urgência, essa nomeação pode ser feita à posteriori «mas dentro do mais curto espaço de tempo».

Apesar de o tradutor ter sido constituído arguido, o penalista Carlos Pinto de Abreu entende que as diligências em que Murat participou, sendo menores, não precisam de ser repetidas.
Continue a ler esta notícia

Mais Vistos

EM DESTAQUE