Nani: a infância com fome numa casa com ratos e a escolha pelo Sporting - TVI

Nani: a infância com fome numa casa com ratos e a escolha pelo Sporting

Santa Clara-Sporting

Internacional português recorda os tempos difíceis em Lisboa e o momento em que optou pelo Sporting em vez do Benfica

Nani recordou a infância difícil num testemunho forte na página «The Players Tribune» intitulado «Algumas histórias que nunca contei».

O internacional português e agora jogador dos norte-americanos do Orlando City lembrou os tempos em que passou por privações extremas. «Um dia, quando ainda era muito novo, fiquei convencido de que Deus escolheu-me para ser futebolista. Eu vivia com a minha mãe e oito irmãos numa casa com um quarto, o chão cheio de buracos e com ratos e lagartixas. Não tínhamos nada para comer. Lutávamos pela vida», escreveu.

«A fome é difícil de explicar. Algumas pessoas dizes: 'Oh, olhem para estas pobres crianças em África'. Sim, podem vê-las esfomeadas. Mas tentem passar por isso. Tentem senti-lo quando a vossa boca está seca, quando o vosso estômago range, quando a dor que têm no corpo é tão grande que parece que algo está a cortar a vossa pele...», acrescentou.

Num texto escrito integralmente na primeira pessoa, Nani recorda o dia em que, para «fintar» a fome», um dos irmãos mais velhos (Paulo Roberto) propôs-lhe irem pedir comida para uma das zonas nobres de Lisboa. «Deram-nos pão, sopa. Houve até quem nos convidasse a entrar em casa. Alguns deram-nos dinheiro para comprar comida e fizemos novos amigos. Penso que gostavam de nós porque escolhemos não roubar. Pedíamos. Éramos honestos. Um dia, eu e o Paulo tínhamos ido jogar futebol quando vimos uma Pizza Hut. Pedimos comida e disseram que não tínhamos nada. Quando estávamos a sair, uma mulher veio atrás de nós (...) Dois minutos depois ela saiu com uma pizza fresca. (...) Ainda consigo sentir o sabor daquela pizza», recorda.

Nani fez grande parte da formação no Real Massamá e de lá saiu para o Sporting em 2003, com 16 anos. Mas o destino poderia ter sido o rival Benfica. «Antes do nosso último jogo da época, um treinador que eu conhecia arranjou forma de me levar a um treino no Benfica. Depois dessa época, um dos treinadores do Benfica disse-me: 'Nani, diz ao teu treinador no Real Massamá que tens de jogar no domingo. Alguém do Benfica observar-te. Eu estava super-entusiasmado. Mas o probema é que já tínhamos vencido o campeonato e o treinador quis pôr a jogar os que não tinha visto muito ao longo da época. Eu disse-lhe: 'Por favor, tenho de jogar. Vem cá uma pessoa do Benfica ver-me jogar. Ele disse-me que ia pôr-me na primeira parte. O jogo começou e eu estava tão nervoso que nada estava a sair-me bem. Mas a três minutos do intervalo recebi a bola no meio-campo. Fintei todos os jogadores, passei pelo guarda-redes e marquei. E eu pensei: 'Este é provavelmente o golo que vai salvar-me.»

«Só que não estava ninguém do Benfica na bancada a observá-lo. «Fiquei devastado. Quase comecei a chorar e até perdi o apetite. Mas alguns dias depois recebi uma carta. Era um convite do Sporting para treinar com eles duas semanas.»

Nani recorda que treinou no Sporting, mas acabou também por prestar provas no Benfica. «Foi uma loucura. À segunda treinava num nos dois maiores clubes de Lisboa e à quarta treinava no outro. (...) No fim do verão, recebi uma mensagem do Sporting: 'Aparece amanhã às 10h00. E também recebi uma mensagem do Benfica: 'Aparece amanhã às 10h00. Respondi OK às duas. Podia ter escolhido o Benfica, mas tinha muitos amigos no Sporting e conhecia o treinador [era professor de ginástica na escola de Nani]. Voltei lá e joguei muito bem num torneio de pré-época. Dois dias depois, o treinador deu-me uma palmada nas costas. «Nani, eu sempre soube que tu ias ficar connosco.»

A chegada ao Sporting mudou a vida de Nani. «Quando assinei, todos os meus problemas financeiro ficaram resolvidos», reconheceu.

Continue a ler esta notícia

Mais Vistos

EM DESTAQUE