A treinar os sauditas do Al Nassr desde janeiro deste ano, Rui Vitória esteve no Jornal das 8 da TVI, onde garantiu não estar arrependido de rumar à Arábia Saudita.
«Se foi um retrocesso? Não vejo assim. A minha ideia foi a possibilidade de ganhar títulos. Sabia que não era fácil, mas ir a qualquer país e ganhar títulos é algo que acrescenta à nossa carreira. Se calhar era preferível isso a ir para outro país e fazer uma campanha mais discreta. Não vejo que tenha sido um retrocesso. Foi um novo desafio, vi-o como isso, e em boa hora o fiz, porque foi uma experiência gratificante: quer em termos de resultados, quer em termos de vivências», apontou.
Rui Vitória abordou ainda as mudanças profundas ao nível do treino, com sessões marcadas para a noite e condicionadas pelo Ramadão e pelas rezas. «Se vamos lá com a mesma filosofia que tínhamos aqui, é o princípio do fim», constatou.
O ex-treinador do Benfica falou sobretudo sobre questões socioculturais que foi encontrando num país que diz ser diferente da perceção que se tem dele visto de fora.
«É importante viver aquela realidade e absorvê-la, porque são ensinamentos para a vida. Passam-se imagens muito negativas para aquilo que na realidade sente quem lá vive. Temos segurança muito boa e alimentação muito boa. Podemos dizer que somos privilegiados, mas há alguns aspetos positivos que temos de aproveitar. E foi isso que fizemos. Eu também não gostava que chegasse aqui um mexicano, um chileno ou um brasileiro e dissesse mal do nosso país. E lá é a mesma coisa. Não podemos afrontar as pessoas, porque gostam de conversar, de respeitar, mas não gostam de ser menosprezadas. Não me parece que eles sintam isso da parte dos ocidentais, mas também não gostam que digam que os outros países são muito bons e que lá não têm nada: porque eles lá também têm tudo», disse o técnico português.
O técnico, que há semanas se sagrou campeão da Arábia Saudita, admitiu, por fim, ter hoje, à distância, uma visão diferente do futebol português, ao qual deixou alguns reparos.
«É uma pena que percamos tempo com determinados aspetos e só nos estamos a desgastar a nós mesmos. A palavra saudável é algo que devia cultivar-se aqui também e não a temos. As pessoas vivem numa confusão tremenda, em pormenores perfeitamente… não diria patéticos, mas próximos disso. Estamos a perder tempo e a desvalorizar uma indústria que é das mais rentáveis do nosso país e não estamos a vender bem este produto que é fantástico e que nos representa lá fora de forma impar», concluiu, referindo que o ambiente em torno do futebol na Arábia Saudita é mais «saudável».