Tensão no Irão: treinadores portugueses equacionam regresso a Portugal - TVI

Tensão no Irão: treinadores portugueses equacionam regresso a Portugal

Dezenas de milhares em Teerão homenageiam o general Soleimani, morto pelos EUA

Rui Tavares e Miguel Teixeira falam em escalada de tensão depois da morte de Soleimani no Iraque

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Os treinadores de futebol portugueses Rui Tavares e Miguel Teixeira, no Irão há seis e três anos, respetivamente, equacionam agora um regresso a Portugal tendo em conta a recente escalada de tensão entre Teerão e Washington.

Os dois técnicos - o primeiro é treinador de guarda-redes, enquanto o segundo é treinador adjunto do Sepahan, atual segundo classificado da liga persa - relataram à Lusa que o ambiente de tensão no país já existia antes da morte, no Iraque, do general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, num ataque dos Estados Unidos, mas com este episódio e com as ameaças de retaliação de Teerão a situação é outra e leva-os a ponderar sair do país.

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Há cerca de um mês, a população manifestou-se nas ruas devido ao «aumento dos combustíveis», queimando «cerca de 30 agências de bancos do Estado e incendiando autocarros», e, pela primeira vez, ambos sentiram o sentimento de revolta, sendo que até aí Miguel Teixeira disse nunca ter sentido «momentos de insegurança».

«Agora, a situação é um pouco diferente, porque a revolta não é interna, mas, sim, contra o eterno rival, os Estados Unidos da América (EUA). Isto fez com que os problemas internos que existem passassem para segundo plano», relatou, também à Lusa, o treinador adjunto, de 46 anos.

Rui Tavares prevê uma resposta dos iranianos à morte de Soleimani, o que «não é nada bom». «A minha família e amigos estão preocupados, tal como eu. Estou a aguentar. Sinceramente já pensei em rescindir o contrato e sair. Já avisei o clube, disse que se a contestação aumentar e sentir que a minha segurança esteja em perigo, vou pedir para sair», contou o preparador de 40 anos.

Ambos tentam manter-se focados no trabalho e afastados da situação social, e, como vivem numa zona turística, em Isfahan, uma das cidades mais importantes do país, não sentem tanto a revolta nas ruas, mas têm mantido contactos regulares com a embaixada portuguesa em Teerão desde que as «coisas começaram a complicar», algo que os deixa «mais tranquilos».

Ainda assim, o ambiente é de apreensão, sentida «tanto nos jogadores, como na população em geral», que tem «receio do que possa acontecer», segundo Miguel Teixeira, enquanto o formador de guarda-redes referiu que a ação dos Estados Unidos afetou a população.

«É um povo de tudo ou nada (…). O povo sentiu muito este acontecimento [morte do general]. Há muitos iranianos a viver nos EUA e não sei até que ponto não vai haver um final que não é bom para ninguém. O povo está revoltado com o que aconteceu», apontou Rui Tavares.

Além disso, há ainda dificuldades no acesso à internet, que esteve fora de serviço «sete ou oito dias», o acesso a um canal de televisão português está limitado a apenas uma hora por dia e há ainda «restrições, algumas políticas, outras culturais».

Miguel Teixeira sublinhou também que, «mesmo sem nunca ter sentido insegurança», não coloca de parte a hipótese de sair do país. «Tenho estado em comunicação com a embaixada portuguesa e, se algum destes dias não me sentir confortável, saio», frisou.

Soleimani morreu num ataque ordenado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que matou também o número dois da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque, Abu Mehdi al-Muhandis, conhecida como Mobilização Popular (Hachd al-Chaabi), além de outras oito pessoas.

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