«Ganhar a rapazes dava-me muito mais gozo. Eles ficavam lixados» - TVI

«Ganhar a rapazes dava-me muito mais gozo. Eles ficavam lixados»

Francisca Jorge (foto: arquivo pessoal)

Com 17 anos, Francisca Jorge é a nova campeã nacional absoluta de ténis e conquistou a dobradinha no passado fim de semana. O percurso e os sonhos desta natural de Guimarães que quer um dia pisar o mesmo chão de Federer

Mais longe e mais alto é uma rubrica do Maisfutebol que olha para atletas e modalidades além do futebol. Histórias de esforço, superação, de sucessos e dificuldades

Francisca não se lembra, mas os pais contam-lhe que o interesse pelo ténis começou a manifestar-se nela desde cedo. «Íamos sempre de férias para o Algarve no verão e os meus pais, que sempre gostaram muito de ténis, costumavam jogar. Eu, com dois ou três anos, ficava sentada no banquinho a vê-los e a seguir a bola de um lado para o outro», começa por contar ao Maisfutebol.

«Ganhei este gosto e com sete anos fui para uma escolinha de ténis para estar ocupada. Na altura eu andava na natação e até fazia algumas provas, mas mostrei logo interesse pelo ténis. No ano seguinte, o meu treinador disse aos meus pais que eu tinha jeito e que queria ver como é que eu me desenrascava nuns torneios de sub-8 que eram mistos. No primeiro ganhei logo uma medalha: para aí de quarto lugar, mas ganhei. Sou uma pessoa muito competitiva e ganhar a rapazes dava muito mais gozo porque nem eles gostavam de perder contra uma rapariga. Ficavam muito lixados», recorda bem-disposta.

Francisca Jorge é natural de Guimarães, tem 17 anos e sagrou-se no último fim de semana campeã nacional absoluta, ao bater na final a hexacampeã Maria João Koehler em dois sets, pelos parciais de 7-6 (7-2) e 6-1. «Se estou surpreendida com o que aconteceu? Não posso dizer que esteja, porque sabia que estava a jogar bem e sentia-me confiante, mas admito que não estava à espera de ganhar este título tão cedo.»

Francisca (na foto há alguns anos) já tinha sido campeã nacional dos sub-12 aos sub-18. A irmã, Matilde (13 anos), é a atual campeã de sub-14

O percurso da nova coqueluche do ténis nacional já fala por si. Foi campeã em todos os escalões etários desde os sub-12 (é bicampeã em sub-18) e, para além do recente título no escalão sénior, venceu também o Nacional na variante de pares ao lado de Maria Inês Fonte, dois anos mais nova.

O ingresso no CAR feminino em busca de crescer

Francisca Jorge está desde setembro deste ano no Centro de Alto Rendimento feminino no Jamor. Trocou o conforto da cidade natal e uma vida programada pela lufa-lufa da capital, em nome do sonho do profissionalismo.

«Os meus pais foram abordados pela Federação e já estavam a conversar entre eles há muito tempo. Quando recebi a notícia de que podia ir para o CAR fiquei muito contente, claro, mas tive algum receio. Queria muito vir e sabia que este é o caminho para singrar no ténis, mas estava habituada à vida da terrinha, de Guimarães. Agora já me sinto integrada. Tenho as minhas amigas e toda a gente está na mesma onda aqui: procuramos os mesmos objetivos», diz.

O ingresso no CAR, onde é treinada pela antiga campeã e número 1 nacional Neuza Silva, fez Francisca antecipar etapas. «O acordo que tinha com os meus pais era fazer o 12.º ano em Guimarães e só depois apostar tudo no ténis. Não significa que não estivesse a apostar na mesma, mas era mais moderado.»

À hora da conversa com o Maisfutebol, a jovem tenista estava a caminho das aulas: regime noturno, um «pequeno esforço» (diz) que faz para conciliar os estudos com as exigentes rotinas de treinos bidiários e até quatro horas passadas no court. «Espero acabar o 12.º este ano. A ida para a faculdade está dependente de como correr 2018. Talvez siga para uma área ligada às engenharias, à economia ou à gestão e até já andei a ver algumas universidades em Lisboa que me permitam conciliar os estudos com o desporto. Mas a minha verdadeira ambição é vir a ser profissional, principalmente desde que comecei a fazer alguns resultados giros. Estou 200 por cento ciente de que é o que quero e vou trabalhar para isso», aponta.

Os sonhos para a carreira o «deus» Federer

Francisca passou parte da infância a admirar Kim Clijsters, antiga tenista belga que foi número 1 mundial e que venceu quatro torneios do Grand Slam entre 2005 e 2011. Adorava vê-la jogar. Foi mãe e voltou ainda mais forte. Tentava imitá-la em tudo. O estilo dela baseava-se muito na inteligência, na forma como colocava a bola. Não tinha muita potência e a esquerda dela era melhor do que a direita. Aí identifico-me totalmente com ela. Eram características que eu tinha e que aprimorei.»

O topo do ténis está longe, a jovem tenista não lhe torce o nariz, mas sabe que ainda tem um longo caminho a percorrer.

Francisca Jorge é, tal como João Sousa, natural de Guimarães. Os dois venceram o Campeonato Nacional Absoluto no fim de semana

Para já, a ambição é escalar no ranking (é 787.ª do WTA) e bater às portas de um Grand Slam no próximo ano. «Quem sabe se eu não consigo trabalhar o suficiente para poder jogar eventualmente o US Open ou até o Australian Open no ano seguinte? Esse é o meu próximo objetivo a alcançar», diz, lembrando o exemplo de João Monteiro, que subiu mais de 250 lugares na hierarquia masculina desde o início do ano e é agora 237.º do circuito.

É para isso que começa a trabalhar já na próxima semana, quando iniciar a pré-temporada para 2018 após um curto período de descompressão.

Os sonhos dão origem a novos sonhos e o profissionalismo, a progressão no ranking e o aparecimento nos grandes torneios podem ajudar Francisca Jorge a concretizar mais um: pisar o mesmo chão de lendas como Nadal, Djokovic, Serena Williams e, principalmente, Roger Federer, de quem fala com tanta admiração que quase esgota os adjetivos para descrever a performance do suíço dentro do court.

«É a pessoa mais espetacular no campo. É um rei, um bailarino, um dançarino… Oh pá, aquilo é tudo tão bonito, tão lindo, tão fácil e sincronizado. É magnífico: adoro, adoro, adoro! Se ele é uma espécie de deus? Para mim é», diz sem vacilar.

E mais sonhos, Francisca? «Gostava de partilhar o balneário com as mulheres do topo. E, quem sabe, ser também uma das melhores: era ótimo», ambiciona.

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