As noites em que Raul adormecia a olhar para o irmão Diego - TVI

As noites em que Raul adormecia a olhar para o irmão Diego

«Fui perdendo os meus sonhos e vivendo os dele»

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«O meu irmão é um fenómeno. Nunca hei-de chegar ao nível dele. É um marciano a jogar à bola.»

Hugo Maradona, 06/09/1979


Aos nove anos, o irmão mais novo do Pelusa acordava todos os dias a desejar o impossível. Desejava ser tocado pela genialidade de Diego. Queria roçar na bola com a mesma classe, dar milhares de toques seguidos, ser um ídolo de milhões.

Aos nove anos, Hugo sabia também que os seus desejos jamais se tornariam reais. Só havia lugar para um marciano na família e o papel de alienígena já estava tomado por El Pibe. Hugo tornar-se-ia profissional de futebol, é verdade, embora nunca tenha descolado os pés da terra.

Ainda jogou em Itália, até defrontou Diego na Serie A com a camisola do Ascoli, mas só no Japão conseguiu ser especial. Hoje em dia, Hugo está radicado no EUA e tem uma padaria na cidade de Greenacres (Florida). Especializou-se na elaboração de empanadas e tortillas. Mais terráqueo é impossível. Talvez por isso tenha recusado participar nesta reportagem.

Raul Lalo é um ano mais velho do que Hugo. Colecciona até hoje jornais e revistas que têm Diego na capa. Chegou a fazer um jogo na equipa principal do Boca Juniors, antes de se perder em campeonatos menores.

Ao Maisfutebol, Lalo confessa ter sido «difícil» lidar com o apelido Maradona apenas até à adolescência. «Depois, o prazer de ter o irmão que tenho serviu para ultrapassar isso. Fui perdendo os meus sonhos e vivendo os dele. Era injusto ser sempre alvo de comparações, mas percebo a ânsia das pessoas em encontrar um génio mais.»

«Como o meu irmão só o Pelé»

Raul adormecia a olhar para Diego. Fechava os olhos e sonhava em ser como o irmão. A pouco e pouco os sonhos desapareceram. Lalo percebeu que não era uma questão de aplicação, de paixão, ou trabalho. «Não, aquilo é um dom. Eu via o que ele fazia no nosso quartinho. Em dois metros quadrados fintava-nos como queria. Como ele só o Pelé. Mais ninguém.»

De quando em vez a Villa Fiorito parava para ver o filho varão de Don Diego. Raul não perdia um jogo do Pelusa. «Era uma festa, uma obra-prima. E ninguém tinha de pagar bilhete. A minha mãe é que andava sempre preocupada, coitada.»

Os anos passaram, Diego tornou-se D10S e Lalo assistiu a tudo da primeira fila. Ainda recentemente, fez questão de ir até à África do Sul com o filho Tiago. «É um grande irmão. Ajuda-nos com tudo. Uma vez ligou-me de manhã a perguntar-me se queria ir em vez dele ao Japão, fazer um anúncio publicitário. Explicou-me que o importante era estar lá alguém que se chamasse Maradona.»

Raul passa os dias a descobrir jovens talentos. Peneira o filão argentino em busca daquilo que nunca teve: o dom de ser especial.

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