Marcelo diz que economia em constante mudança exige adaptação da União Europeia - TVI

Marcelo diz que economia em constante mudança exige adaptação da União Europeia

  • Atualizada às 16:58
  • 7 fev 2018, 14:44

Presidente da República alertou também para as crescentes desigualdades e clivagens na Europa, quando se pensa em nova economia, novos empregos e novos sistemas sociais

O Presidente da República defendeu esta quarta-feira que uma economia 4.0 exige uma União Europeia, sistemas políticos e sistemas sociais também 4.0, considerando que não basta pensar nos novos empregos, mas sim nas crescentes desigualdades e clivagens.

No discurso de encerramento do XII Encontro COTEC Europa - que decorreu em Mafra e contou também com a presença do rei de Espanha e do Presidente da República italiano - Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou a mudança diária da economia, "a ritmo vertiginoso", como tinha descrito o comissário Carlos Moedas no mesmo fórum.

Aqui chegados é, porém, tempo de pararmos uns minutos para nos interrogarmos: Esta economia 4.0 não exigirá uma União Europeia 4.0? E sistemas políticos 4.0? E sistemas sociais 4.0?", perguntou.

Apesar de concordar que "nada parará a mudança", o chefe de Estado sublinhou que esta "poderá ser mais ou menos rápida, mais ou menos duradoura e, sobretudo, mais ou menos justa conforme seja acompanhada - para não dizer antecipada - por uma União Europeia 4.0, sistemas políticos 4.0, sistemas sociais 4.0".

Isto é, por um ambiente ajustado à era digital, que maximize vantagens e minimize fragilidades nas instituições europeias, nos sistemas políticos e nos sistemas sociais", defendeu.

"Não basta pensar no novo trabalho"

Sobre os sistemas sociais, Marcelo Rebelo de Sousa começou por explicar que "nem a economia nem a política são fins em si próprios" e "existem porque há pessoas de carne e osso", referindo que apesar da alucinante mudança económica, o "tempo de vida dessas pessoas é diverso".

Não basta pensar no novo trabalho, nos novos empregos, é preciso pensar nas crescentes desigualdades, nas crescentes clivagens, nas pessoas concretas, seus diversos tempos e seus múltiplos modos", avisou.

O Presidente da República considerou ainda que a União Europeia deve aproveitar “os poucos meses que faltam para o início do longo processo eleitoral de 2019” e ousar “ir mais longe", como por exemplo na definição do horizonte para além de 2021 ou na união económica e monetária.

Não podemos querer ter economias 4.0 com sistemas políticos 2.0 ou 3.0. Podem não inviabilizar, mas travam com certeza o ritmo do futuro", defendeu.

De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, vive-se com "mais ciência, mais tecnologia, mais inteligência criativa na economia", mas com "estruturas políticas concebidas para a Europa e para o mundo dos anos 70 a 90, estruturadas ultrapassadas, rígidas, distanciadas dos povos".

“Habilidades digitais”

Presente no encontro COTEC Europa, o rei de Espanha defendeu que os sistemas educativos se devem adaptar à mudança tecnológica para que “o desfecho” seja mais justo e inclusivo.

Aconselha-se hoje mais do que nunca a promover em todos os níveis educativos o valor da adaptação à mudança”, para que o “desfecho tecnológico seja mais justo e inclusivo”, afirmou Felipe VI, no encerramento do XII Encontro Cotec Europa, que decorreu em Mafra.

Contudo, o rei de Espanha alertou que é um equívoco formar os jovens “com o único propósito que desempenhem um número limitado de funções” para não comprometer a empregabilidade e a sua integração no mercado laboral.

Para Felipe VI, “não convém prever cenários futuros com base nas possibilidades atuais”, uma vez que, se é verdade que há postos de trabalho que são substituíveis por máquinas, “os robôs e algoritmos centram-se em tarefas previsíveis que não requerem criatividade”.

Temos de reconhecer que não sabemos do que serão capazes as máquinas no médio prazo, mas temos uma ideia do que são capazes homens e mulheres”, salientou, acrescentando por isso que “a educação tem de se centrar nas vantagens competitivas do ser humano, que são muitas, mas nem sempre evidentes”.

Neste sentido, o rei de Espanha considerou que “a sociedade 4.0 é uma oportunidade para reivindicar e destacar talentos atualmente marginalizados ou desvalorizados”, dando o exemplo de profissões que se relacionam com a natureza humana que exigem habilidades difíceis de reproduzir por uma máquina”.

O sistema educativo deve, por isso, promover uma “formação adequada e em permanente atualização, que marca a diferença” entre as capacidades humanas e as de um robô.

O rei de Espanha defendeu que a adaptação à mudança tecnológica “é um desafio que devia ser tomado em consideração no projeto europeu”, assim como a investigação e a inovação.

Voz da dimensão mediterrânica

Por seu turno, o presidente de Itália defendeu que seja feito um esforço para que se ouça em Bruxelas a voz da dimensão mediterrânea, considerando que estes países nem sempre foram capazes de utilizar o potencial da experiência adquirida.

No discurso de encerramento, Sergio Mattarella defendeu que "a dimensão mediterrânica é, mais do que nunca, um lugar de encontro ao desafio global de hoje".

Todo esforço deve ser feito para se sentir, em interesse da União Europeia, a nossa voz, em Bruxelas", defendeu.

Na opinião de Sergio Mattarella esta é uma oportunidade para enriquecer a comparação com uma "perspetiva diferente e específica".

A COTEC Europa reúne-se uma vez por ano rotativamente nos três países COTEC: Portugal, Espanha e Itália.

A primeira COTEC foi fundada em Espanha, em 1990, por iniciativa do então rei Juan Carlos, e nove anos depois, em 2001, surgiu a sua congénere italiana.

A COTEC Portugal - Associação Empresarial para a Inovação foi constituída em abril de 2003, na sequência de uma iniciativa do então Presidente da República Jorge Sampaio.

A COTEC Europa foi fundada em 2003, com a adesão da COTEC Portugal ao grupo já formado por Espanha e Itália.

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