Malangatana, todo o mundo perdeu um génio (parte III) - TVI

Malangatana, todo o mundo perdeu um génio (parte III)

Sentar-me-ei na escada de minha casa, em frente de A Maternidade, a obra que comigo vive há 42 anos, e falarei com ela e com ele.

6. Estou no Brasil. Onde recebi a notícia que temia. Dias após a nossa última conversa por telefone. Calendários de aviões, neste tempo agitado, impediram-me de estar hoje na homenagem no Porto. E vão impedir-me, provavelmente, de estar amanhã, na homenagem em Lisboa. Mas não faz mal. Essas homenagens-justíssimas-são para os importantes deste mundo. Para celebrar o génio que admiraram em vida ou admiram, agora, por morte.

Eu apenas quero chegar a tempo de, sozinho, me sentar uns largos minutos junto do corpo imponente mesmo se fustigado pelos males, com a alma sobrevoando a urna. E recomeçar a conversa deixada a meio naquela despedida furtiva.

E, se mesmo isso não for possível, sentar-me-ei na escada de minha casa, em frente de A Maternidade, a obra que comigo vive há 42 anos, e falarei com ela e com ele. E lhe pedirei que dê, por mim, um beijo a minha Mãe, que ele tanto gostava de dizer sua. O que vale a morte ao pé desse beijo?

Fim do artigo que escrevi no Brasil, mal soube da morte de Malangatana em Portugal-a 5 de Janeiro-e enviei, por mail, a Augusto de Carvalho, para publicação no jornal Notícias do Maputo
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