Depois de Tinga: médio do Santos alvo de racismo - TVI

Depois de Tinga: médio do Santos alvo de racismo

Novo episódio no futebol brasileiro

Marcos Arouca da Silva foi alvo de comentários racistas durante o Mogi Mirim-Santos, encontro da 12ª jornada do campeonato Paulista e que acabou com a vitória da equipa visitante por 2-5. De acordo com a imprensa brasileira, o médio do Peixe foi chamado de «macaco» por um adepto da equipa da casa. Refira-se que este é mais um episódio de racismo no futebol brasileiro, depois de Tinga, ex-Sporting, ter sido alvo do mesmo tipo de comentários.

Em entrevista à rádio ESPN, Arouca disse que «é melhor não ligar nem dar ouvidos a essas pessoas». O jogador do Santos manifestou-se triste pela situação e espera «que alguém tome medidas, porque a situação é lamentável».

De acordo com a Globo, o episódio não foi referido no relatório do árbitro Vinicius Gonçalves Dias Araújo, que escreveu que «não houve nada de anormal». O presidente da Comissão de Arbitragem da Federação Paulista de Futebol, Marcos Marinho, adiantou à rádio Globo que vai verificar os relatórios e que «se alguém presenciou e comunicou, a situação vai ser comunicada ao Tribunal de Justiça Desportiva».

Já Arouca reagiu em comunicado aos comentários racista.

«Na saída do jogo desta quinta-feira, contra o Mogi Mirim, fui alvo de insultos racistas de um adepto da equipa adversária. É lamentável e inaceitável que ainda haja espaço para esse tipo de coisas hoje em dia. Isso só mostra que o ser humano ainda tem muito que evoluir e crescer, que não estamos nem perto de um mundo que viva em harmonia entre as pessoas e todas as suas diferenças.

Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender, ao dizer que eu deveria procurar alguma seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros. Não ouvi os gritos de «macaco» que alguns repórteres disseram ouvir, mas, caso tenha realmente acontecido, é ainda mais triste.

Eu sei muito bem de onde venho e de toda a minha luta para chegar onde cheguei. Por isso, sentir na pele o que aconteceu comigo hoje - logo depois do que fizeram com o Tinga outro dia e também do caso do juiz no Rio Grande do Sul – deixa-me muito decepcionado. Acabou com a alegria pela boa atuação da nossa equipa, pelo belo golo que fiz, ou seja, pelo que deveria ser a essência do desporto.

O futebol é um espelho da nossa realidade, e isso não se resume apenas a insultos racistas. Continuam a matar e a morrer por torcerem por um clube diferente do outro. Espero, sinceramente, que casos como esse sejam severamente punidos, pois, enquanto isso não acontecer, nada vai mudar. A impunidade e a conivência das autoridades com as pessoas que fazem esse tipo de coisa são tão graves quanto os próprios atos em si. Somente discursos e promessas não resolvem a falta de educação e de humanidade de alguns.»
Continue a ler esta notícia

EM DESTAQUE