Milhões há muitos, mas o que renderam em campo as vendas nacionais? - TVI

Milhões há muitos, mas o que renderam em campo as vendas nacionais?

Hulk e Witsel [Reuters]

Vários futebolistas saíram por somas elevadas de dinheiro, mas de quantos se pode dizer que tiveram sucesso?

Há pouco mais de um ano, o então treinador do Bayern Munique foi questionado no estádio da Luz sobre que jogadores do Benfica gostava de contratar.

Na altura, Pep Guardiola referiu alguns nomes, nenhum deles o de Ederson, curiosamente, mas declarou que «o futebol português é um mercado caro».

Está aberta nova janela de transferências e os plantéis portugueses vão estar outra vez na mira dos mais ricos. Ou seja, estão para vir aí mais milhões, e os primeiros a cair até podem ser os do guarda-redes do Benfica, que está a ser negociado para os citizens.

Numa altura em que se fala mais de dinheiro do que outra coisa, fomos tentar perceber o rendimento desportivo dos futebolistas, após as vendas, pois, como dizia Luis Felipe Scolari «o ruim é que é caro».

Para esta análise, foram contemplados jogadores transferidos acima dos 30 milhões de euros, embora seja abaixo deste valor que está um grupo de sucesso.

Uma vez que as transferências têm nuances complexas, e muitas vezes implicam valores pagos anos mais tarde, estão refletidos apenas os valores que foram comunicados de forma oficial à CMVM, na altura da venda.

Quer isto dizer que montantes por objetivos ou pagos a terceiros não estão referidos. No entanto, nenhum dos jogadores em causa sairia desta lista por troca com outro.

James Rodriguez, 45 milhões de euros

Três temporadas no FC Porto renderam-lhe a transferência para aquele que foi, na altura, o novo rico da Europa: o Mónaco. James Rodriguez levou com ele um extraordinário pé esquerdo e uma visão de jogo que foram decisivas para o tricampeonato portista.

No Principado, foi um titular absoluto, fez 38 jogos e marcou dez golos. Um Mundial 2014 em cheio valeram-lhe uma transferência para o colosso Real Madrid. Na primeira temporada, o colombiano fez 46 partidas e apontou 17 golos. A partir daí perdeu espaço no onze, mas participou em 32 e 33 jogos nas duas últimas épocas e, no conjunto delas, fez 19 golos.

Sagrou-se campeão espanhol e campeão europeu, um título que pode repetir sábado. Ganhou ainda duas supertaças europeias e dois mundiais de clubes. O futuro volta a ser incerto e pode estar de saída do Real Madrid. Fala-se no Manchester Utd, porém…

 

Hulk, 40 milhões de euros

Uma força da natureza, um pé esquerdo canhão e um jogador que desequilibrou a Liga durante anos no FC Porto. Hulk era o jogador mais cotado do futebol nacional quando partiu para o Zenit.

A carreira do brasileiro foi na Rússia muito parecida com o percurso em Portugal. Figura da equipa, do campeonato, rapidamente se tornou numa estrela do clube de São Pertersburgo. Venceu a liga russa uma vez, a taça outra. Tem ainda uma supertaça daquele país.

Fez 148 jogos, apontou 77 golos. Dá mais de meio golo/jogo. Hulk foi no Zenit aquilo que tinha sido no FC Porto, os clubes é que eram diferentes e as aspirações russas de lutar pela Champions nunca se concretizaram.

Em 2016, mudou-se para a China, onde reencontrou André Vilas-Boas. Obviamente, naquele campeonato, nunca poderia deixar de ser protagonista, mesmo com alguns casos polémicos, algo que lhe percorre a carreira. Longe dos holofotes das grandes ligas, será sempre um caso de ver o copo meio cheio ou meio vazio: rendeu no Zenit, mas não seria maior numa grande liga?

Falcao, 40 milhões de euros

Estrela na Argentina, continuou a sê-lo em Portugal, em Espanha e França. Radamel Falcao Garcia só não brilhou na Premier League, onde chegou depois de uma lesão que colocou em stand by os golos do colombiano.

El Tigre deixou saudades e amarguras quando partiu do Dragão para o At. Madrid. Na capital espanhola tornou-se, se é que já não era, um jogador de nível mundial. A expectativa no Vicente Calderón era elevada, até porque Falcao chegava para substituir Kun Aguero. Com 70 golos em duas épocas, o colombiano foi a maior estrela do clube nessas duas temporadas, em que o Atleti venceu uma Liga Europa, uma Taça do rei e uma supertaça europeia.

Saiu para o Mónaco, o que causou muita estranheza, e o seu brilho foi bem menor. Lesionou-se gravemente, passou por Chelsea e United e não rendeu.

Renasceu nesta temporada e pelo que se viu, continua a ser um futebolista estelar. Foi ele que levantou o troféu relativo ao oitavo título do Mónaco.

Witsel, 40 milhões de euros

O ruído em torno dos montantes da transferência de Hulk para o Zenit foi gerado porque Witsel foi vendido ao clube russo na mesma semana. O valor comunicado era idêntico e o belga tornava-se na maior venda do Benfica, depois de ter feito apenas uma temporada no clube da Luz.

O médio tinha sido titular no Benfica 2011/12 e as boas exibições na Europa, sobretudo, fizeram o Zenit passar por Lisboa também. O percurso coletivo é idêntico ao de Hulk. Ambos jogaram praticamente o mesmo tempo no Zenit, ganharam os mesmos títulos e foram ambos jogadores fundamentais para o emblema de São Petersburgo. Tal como o brasileiro, Witsel decidiu mudar-se para a China. Ficará sempre a questão, no entanto, do que ambos teriam sido numa liga de outra dimensão, aquando da saída de Portugal.

De todos os jogadores aqui referidos, foram os únicos que se mudaram para fora das Big Five. O rendimento para o Zenit terá sido bom, mas a verdade é que se afastaram do centro do futebol dos grandes.

João Mário, 40 milhões

Uma temporada enorme no Sporting aliada ao desempenho no Euro 2016 fizeram de João Mário a mais rentável venda do Sporting. Contratado pelo Inter de Milão, o internacional português começou bem, mas acabou a perder espaço.

O Inter fez 46 jogos nesta temporada, mas João Mário só estava habilitado para 40. Ficou fora da Liga Europa por motivos extradesportivos e, assim, jogou apenas na Serie A e na Coppa Itália.

No total, o ex-leão fez 32 partidas, 22 duas delas de início e apontou três golos. Quando chegou ao Giuseppe Meazza, foi titular em nove jornadas seguidas. Esse foi o período de maior regularidade de João Mário, que coincidiu, praticamente, com a era de Frank de Boer no comando técnico.

Com Stefanio Pioli, o médio jogou de início 14 vezes, mas também começou a ir ao banco ou a não ser utilizado. As razões podem ser várias, como físicas, pois o desgaste surge mais no fim da época do que no início. Ainda assim, apareceram em Itália alguns reparos ao desempenho do português pois a expectativa era mais alta do que o rendimento.

Renato Sanches, 35 milhões

O mais novo de todos. Os números de Renato Sanches estão aquém de tudo aquilo que outros desta lista fizeram. Em meros meses, o internacional português passou da equipa B do Benfica para o Bayern Munique. Pelo meio, foi campeão europeu por Portugal e meteu 35 milhões nos cofres da Luz.

Num clube recheado de estrelas, era expectável que o tempo de jogo de Renato Sanches fosse menor que o dos colegas mais experientes. Isso confirmou-se. Portanto, a questão é saber se os 25 jogos em que participou, nove como titular, são suficientes para dizer que teve uma boa época.

Não são, apesar de todas as atenuantes: a idade, a mudança, a constelação Bayern. Foram 900 minutos de jogo. Muito para um rapaz de 19 anos? Insuficiente para o talento que mostrou em Portugal e, já agora, para um campeão europeu.

Acabou a celebrar o título de campeão no Bayern, embora o próprio saiba que 2017/18 terá de ser diferente. Pelo menos, conta com as palavras dos dirigentes, que mantêm a aposta.

Jackson Martínez, 35 milhões

O cha cha cha tinha a difícil tarefa de substituir Falcao no FC Porto. E conseguiu-o. A prova disso é que o Atlético Madrid estava atento e pensou o mesmo. Os colchoneros pagaram 35 milhões de euros por um jogador que seguia as pisadas do compatriota, mas que em Madrid nunca rendeu.

Apenas uma vez Jackson Martinez tinha ficado abaixo dos 30 golos/época, no FC Porto. E quando isso sucedeu, marcou 29. A única temporada no Atlético Madrid rendeu-lhe 22 jogos, 13 a titular, mas apenas três golos.

Produção demasiado abaixo para o investimento feito, por isso, quando o Guangzhou Evergrande o quis levar para a China, o Atlético Madrid não colocou entraves. Jackson Martínez fez quatro golos em 15 partidas na China, onde venceu tudo, e lesionou-se.

Danilo, 31.5 milhões

Proveniente do Santos por somas altas, Danilo chegou para lateral-direito. Ele que também tinha brilhado como médio, no Brasil. Ao fim de três épocas e meia no Dragão, o Real Madrid decidiu pagar para levar.

Danilo tem partilhado o lado direito da defesa com Dani Carvajal, embora o espanhol tenha ganho clara vantagem nesta época. O brasileiro jogou menos nesta temporada do que na anterior. O que perdeu em minutos ganhou em críticas. Ainda assim, já pode afirmar-se campeão europeu de clubes, campeão espanhol e esperar para sábado para ver se repete o primeiro destes troféus.

Mangala, 30.5 milhões de euros

O FC Porto foi buscar o francês ao Standard Liège e ao fim de três épocas no Dragão, o Manchester City decidiu apostar. Mangala prometia muito. Prometia seguir uma linhagem de defesas franceses que deram cartas na Europa.

A concorrência no Manchester City era grande e depois de um primeiro ano de adaptação, o central manteve os desempenhos medianos no segundo, o que na Premier League em geral e naquele City em particular lhe retiraram espaço. 

Esta época mudou-se para o histórico Valência, um clube que vive tempos conturbados. Foi por empréstimo, o que significa que o ManCity ainda não tinha desistido dele. Ainda assim, fica a ideia de que Mangala não está a chegar ao potencial que lhe era apontado.

Anderson, 30 milhões de euros

Um talento enormíssimo que passou pouco tempo no FC Porto…precisamente por isso mesmo. Porque Anderson mostrou qualidades para jogar numa liga maior. O Manchester United veio buscá-lo em 2007/08 e o brasileiro esteve lá até 2012/13.

Anderson passou de médio ofensivo a médio mais recuado, com Alex Ferguson. As primeiras épocas foram bastante produtivas e o escocês teve-o sempre entre as principais escolhas. Foi ele, por exemplo, que marcou o sexto e penúltimo penálti na vitória do United sobre o Chelsea, na final da Liga dos Campeões.

As lesões, porém, retiraram a Anderson a possibilidade de continuar a ser uma opção viável para o United. Os números foram caindo e a qualidade das exibições também. Chegou a ser emprestado à Fiorentina, onde pela qual fez apenas oito jogos. Voltou em 2014/15 ao United para fazer mais dois e depois transferir-se para o Brasil. Jogou no Internacional de Porto Alegre e agora atua no Coritiba.

Este último período podia indicar uma carreira de menor sucesso, mas mesmo que Anderson não tenha atingido o patamar dos melhores do mundo, foi parte integrante e responsável de uma das melhores eras do United.

Ali venceu quatro vezes a Premier League, somou-lhes duas Taça da Liga Inglesa, duas Supertaças do país, uma Liga dos Campeões e um Mundial de Clubes.

Pepe, 30 milhões de euros

A carreira de Pepe merece poucas palavras. Alguém que passa dez anos num clube como o Real Madrid, a maioria deles como titular indiscutível, não deixa dúvidas sobre se teve sucesso ou não.

O internacional português venceu três títulos de campeão espanhol, duas Taças do Rei, duas Supertaças de Espanha, duas Ligas dos Campeões, uma supertaça europeia e ainda dois mundiais de clubes. E sempre com muitos minutos de início, depois de se ter transferido do FC Porto por 30 milhões.

O futuro de Pepe é incerto, mas o passado do campeão europeu por Portugal não deixa dúvidas.

Ricardo Carvalho, 30 milhões de euros

Vários jogadores saíram de Portugal por 30 milhões de euros, mas Ricardo Carvalho fê-lo em 2004! Já lá vão 13 anos, portanto, aqueles 30 milhões hoje valeriam certamente mais. E depois de se ver a carreira do defesa português, provavelmente o preço ainda inflacionaria.

Esta era recente de conquistas do Chelsea começou com José Mourinho, que levou Carvalho para Stamford Bridge. O setubalense sabia o que levava, fez do ex-portista um titular indiscutível do clube e, mesmo quando Ricardo Carvalho entrou na curva descendente da carreira, Mourinho voltou a apostar nele.

De uma qualidade indiscutível, poucas dúvidas há também sobre um central que se sagrou campeão europeu por Portugal em 2016.

Ganhou tudo no FC Porto, venceu três ligas inglesas, duas taças da liga e uma supertaça pelo Chelsea; foi campeão espanhol e venceu a Taça do Rei. Ainda jogou no Mónaco, onde foi destaque também e, aos 39 anos, ainda resolveu ir até à China.

Provavelmente, a melhor venda em termos de preço/qualidade.

Fábio Coentrão, 30 milhões de euros

Aposta de José Mourinho, Fábio Coentrão chegou ao Real Madrid por 30 milhões de euros e depois de mudar-se para lateral-esquerdo no Benfica. Dizia-se que o técnico português queria alguém que defendesse melhor do que Marcelo e que, por isso, Coentrão estava talhado para entrar nos jogos com o Barcelona.

Obviamente, teria de dividir o posto com um dos melhores laterais do futebol mundial. Isso aconteceu enquanto Mourinho esteve no clube, pois a partir da saída do português, Coentrão perdeu espaço.

Muito fustigado pelas lesões, nunca convenceu a afición do clube e a imprensa espanhola. O próprio defesa admitiu, a determinada altura, que não tinha condições psicológicas para jogar no Real Madrid, pelo qual cumpre agora a quinta época – esteve emprestado ao Mónaco em 2015/16.

Tem seis jogos esta temporada, mas ainda pode sair de Madrid (o que parece provável) com duas Ligas dos Campeões. Mais duas ligas de Espanha, uma supertaça de Espanha, outra europeia e dois mundiais de clubes.

Rodrigo, 30 milhões de euros

Veio da escola do Real Madrid, demorou algum tempo a convencer Jesus, embora os primeiros treinos no Seixal tenham deixado boas impressões. Acabou como grande aposta do técnico e saiu para o Valência.

Os números de Rodrigo caíram a pique no emblema che, mas como se disse sobre Mangala, o clube atravessa um momento complicado. O esquerdino também esteve lesionado e isso influência sempre o rendimento global de um jogador que custou 30 milhões de euros. Ainda assim, é indisfarçável que teve melhor desempenho nos últimos tempos de Benfica do que no Valência.

Slimani, 30 milhões de euros

Um negócio bem rentável do Sporting, tendo em conta aquilo que custou e o que recebeu o leão. Slimani mudou-se para um Leicester campeão de Inglaterra, mas a conjuntura que encontrou de início não foi nada favorável.

O cenário melhorou aos poucos, mas o rendimento de Slimani foi o mesmo. Será mais difícil marcar golos na Premier League pelo Leicester do que na Liga pelo Sporting, mas a quebra é evidente.

Na temporada que lhe valeu a mudança, Slimani fizera 31 golos em 46 jogos. No Leicester tem 8 golos em 29. Pode dizer-se que era expectável que marcasse menos. Ainda assim, é a pior temporada desde que chegou à Europa.

Gonçalo Guedes, 30 milhões de euros

Foi o último a sair por 30 milhões e teve pouco tempo para mostrar serviço. Fez 11 jogos pelo PSG, dois a titular e zero golos marcados. Numa equipa que estava numa perseguição louca ao Mónaco na Ligue 1, Guedes não acrescentou quase nada. Ainda assim, é justo dizer que está há apenas quatro meses no clube.

O clube dos 25 (até aos 26, vá)

Alex Sandro, Nani, Enzo Pérez, David Luiz, Di María, João Moutinho e Matic. Todos eles custaram 25 milhões de euros (a Juventus pagou 26 pelo lateral brasileiro, o United 25,5 pelo internacional português) e apenas um não poderá reclamar uma carreira nas Big Five com títulos.

Enzo Pérez chegou a capitão do Valência, é titular, mas não é consensual. Alex Sandro é titularíssimo na Juve, Nani fez uma carreira de estrela em Old Trafford, apesar dos últimos anos de menor fulgor.

João Moutinho é campeão pelo Mónaco e David Luiz, Di María (a exceção é a passagem pelo United) e Matic foram e são titulares indiscutíveis por onde passaram. E passaram por grandes clubes europeus. Com sucesso.

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