Barómetro de Notícias: A desigualdade (não) é natural - TVI

Barómetro de Notícias: A desigualdade (não) é natural

  • Miguel Crespo, ISCTE-IUL
  • 2 jul 2016, 19:10
(arquivo)

Não teve destaque: dois terços das mulheres portuguesas acham justo trabalharem mais em casa do que os maridos

Todos os dias, as mulheres portuguesas gastam mais 1h40 do que os homens em tarefas domésticas. Mas, mais grave do que o desequilíbrio, é que 7 em cada 10 esposas considera justa a desigualdade por ser “natural”. E mesmo nos casais de escalões etários mais baixos a assimetria é elevada.

Estas são as conclusões mais chocantes do estudo “Os Usos do Tempo de Homens e de Mulheres em Portugal”, apresentado na passada terça-feira em Lisboa. Desenvolvido pelo Centro de Estudos para a Intervenção Social, em parceria com a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, o estudo foi quase ignorado pelos media portugueses, tendo obtido apenas dois destaques (um na imprensa e outro na rádio). Nenhuma televisão deu qualquer destaque ao assunto, como se os papéis do homem e da mulher num casal fossem os mesmos de 1916.

Este estudo lembra de imediato aquilo que se pode constatar em muitos programas do canal Fine Living, que seguem um casal à procura de casa para comprar, algures nos Estados Unidos.

Quase sem exceção, a mulher está preocupada com a cozinha e a sala de jantar, com poder manter os filhos debaixo de olho e em ter uma salinha para os seus hobbies, sempre entre as colagens e uma qualquer variante de costura e lavores. Algo que qualquer manual salazarista para donas de casa consideraria exemplar! O homem, por seu lado, quer um espaço para fazer grelhados e uma “man cave” para ver desporto com os amigos (e escapar às tarefas domésticas). Em qualquer dos casos, referindo sempre as cervejas.

Pelo resultado do estudo, se fosse produzida uma versão desses programas em Portugal teríamos exatamente o mesmo tipo de comportamentos. A reprodução de modelos sociais do passado está mais institucionalizada do que muitos podem pensar, num milénio em que se fala todos os dias em luta contra a descriminação.

Mas, seja em casa ou nos media, igualdade parece continuar a ser uma palavra sem significado.

Ficha técnica

O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho. A codificação das notícias é realizada por Rute Oliveira, João Lotra e Sofia Barrocas. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.

Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de 413 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Em 2016 fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN. 

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