Entrevista a Tshabalala: «Ainda me agradecem aquele golo» - TVI

Entrevista a Tshabalala: «Ainda me agradecem aquele golo»

Tshabalala

Quatro anos depois do golo que o catapultou no arranque do Mundial 2010, continua no Kaiser Chiefs mas garante que a sua vida mudou. «Foi o pináculo da minha carreira»

Relacionados
Há quatro anos, no dia anterior ao jogo de abertura do Mundial de África do Sul, Siphiwe Tshabalala era um desconhecido para a esmagadora maioria dos adeptos de futebol. Mas aquele jogo com o México, no primeiro Mundial em solo africano, mudou-lhe a vida. Não tanto como gostaria, é certo, mas, ainda assim, mudou muito.

No dia em que arranca o Mundial 2014, o Maisfutebol foi à procura do herói de há quatro anos. E encontrou-o na casa de partida.

O mundo girou com aquele pontapé fulminante de pé esquerdo que fez o universo do futebol decorar o nome do avançado nascido no Soweto, que cresceu a jogar nos terrenos que viriam a dar origem ao SoccerCity de Joanesburgo.

Mas a volta foi de 360 graus e Tshabalala está no ponto onde começou. Era jogador do Kaiser Chiefs, continua jogador do Kaiser Chiefs. A diferença? Hoje é muito mais popular.

«Continuo muito grato pela oportunidade que tive de fazer história em 2010. Ainda hoje as pessoas me agradecem aquele golo quando me veem na rua. Fazem-me perguntas, fazem-me lembrar aquele momento mágico que me mudou a vida», conta, em conversa com o nosso jornal.

Tshabalala tornou-se uma figura idolatrada em Joanesburgo e em todo o país. «Para qualquer lado que vá as pessoas chamam-me: Shabba, Shabba! Fico feliz por ser reconhecido pelo meu talento, depois de ter tido a oportunidade de o mostrar num palco que é do mundo», afirma.

O facto de continuar no Kaiser Chiefs, aos 29 anos, não o incomoda. «Se achava que a minha vida seria diferente? A minha vida é diferente desde aquele golo!», garante.

«As pessoas agora acreditam que os jogadores africanos são de classe mundial. O Mundial 2010 não foi uma oportunidade apenas para mim, nem para a minha equipa. Foi épico para o futebol africano. Para todos. Vejam o que fez o Gana, por exemplo. Mostrou que África pode partir à conquista», alertou, aludindo à caminhada no torneio que esteve a um pénalti no último minuto do prolongamento de ser coroada com a presença nas meias-finais.

As viagens no tempo para 2010 e o tabu futebol europeu

O golo de Tshabalala ao México é, de facto, inesquecível. Um contra-ataque desenhado na perfeição, um tiro certeiro ao ângulo. Fulminante. Indefensável. O festejo de grupo e de um país em júbilo num dia histórico para o futebol africano foi a cereja no topo do bolo.



«A sensação foi de excitação, na altura, claro. Ainda não sabia, mas foi o pináculo da minha carreira, até agora. A qualquer lado que vá continuam a falar-me do golo e sempre que o vejo consigo voltar a sentir o mesmo. É como se viajasse para aquele momento outra vez», ilustra.

Tshabalala admite que é o ponto alto mas acredita que o melhor ainda está para vir.

«Jogar aquele Mundial foi inacreditável. Para qualquer jogador de futebol, um torneio destes é um sonho. É quase surreal ter todas aquelas pessoas a apoiar-nos, não só do nosso país mas de todo o lado. Acho que é esta a magia deste jogo magnífico», explica.

Falar com Tshabalala daquela tarde no Soccercity é fácil. Difícil é perceber o que correu mal depois. O tema “futebol europeu” é tabu para o sul-africano.

A verdade é que o Nottingham Forrest, histórico clube inglês, chegou a realizar um período de testes com Tshabalala, em 2011. O sul-africano anunciou mesmo que iria assinar no verão seguinte, terminando a época ainda no Kaiser Chiefs.

Mas a história foi desmentida pelo clube. O Nottingham confirmou o teste e o regresso do sul-africano ao seu país. Mas garantiu que não havia garantias de nada. Preferia esperar e acompanhar a evolução. Nunca mais voltou.

Questionado sobre o que correu mal nessa experiência, Tshabalala reagiu de pronto: «Isso não comento.» Virando a agulha para uma eventual aventura no futebol europeu, a resposta foi semelhante: «Não faço comentários.»



Voltamos, então, ao Mundial. Não o de Tshabalala, mas o que aí vem, no Brasil. Sem África do Sul, mas com muita África.

«Seria muito bom poder jogar no Brasil, mas não deu. Desejo a melhor sorte a Camarões, Costa do Marfim, Nigéria, Argélia e Gana. Sei que vão representar bem África», anteviu.

A sua preferência vai para o Gana, curiosamente um adversário de Portugal no torneio. E para além da seleção ganesa acredita que a Nigéria pode ir longe. «Mas vou apoiar todas as seleções africanas», promete.

E acredita que o mundo pode descobrir um novo Tshabalala escondido no enorme potencial do futebol africano. «O que não falta aqui são talentos», avisa. 

Ficamos à espera.
Continue a ler esta notícia

Relacionados