Brasil não queria Copa? Há comerciantes a dobrar as vendas - TVI

Brasil não queria Copa? Há comerciantes a dobrar as vendas

Comércio em Belo Horizonte

Taxistas são exceção numa Belo Horizonte que faz tudo para aproveitar o mês de loucura com o futebol

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*Enviado-especial ao Brasil

A hora é de Espanha-Chile e os bares na zona de Savassi, um dos bairros nobre de Belo Horizonte mais procurados por turistas, estão a abarrotar. As esplanadas ocupam aquilo que, outrora foi uma rua. Há barreiras a indicar o espaço reservado a quem quer atravessar a rua porque o palco é para ver a bola.

Nas extremidades ficam os bares, de onde voam «chopes» e caipirinhas. Sentados a assistir ao jogo estão brasileiros, mas também chilenos, espanhóis, holandeses e argentinos.

Tem sido sempre assim nas horas de jogo. Grande parte da cidade procura uma zona fresca, com televisão e bebida. E aproveita a festa do futebol.

A azáfama é tanta que não foi fácil encontrar um gerente disposto a falar com o Maisfutebol. «Muito trabalho amigo, volta noutra hora», ouvimos duas vezes, até Oscar Ramalho aceitar parar um pouco.

É proprietário de uma lanchonete. «Nestes dias da Copa já não é bem uma lanchonete, é quase um bar. Costumo vender essencialmente doces e salgados, mas tive de apostar na bebida porque corria o risco de não ter ninguém», explica.

A concorrência, de facto, é feroz e falamos apenas de um dos bairros da capital de Minas Gerais. Há outros. Há outras cidades. Há um país inteiro que, durante este mês, vai aproveitar a Copa. O comércio, restauração e a hotelaria são os sectores que mais lucram, sem dúvida.

«Neste momento, tenho dias que consigo faturar mais do dobro que que conseguia antes da Copa», explica Oscar Ramalho.

O Brasil que não queria a Copa parece cada vez mais silencioso. «Nunca fui contra a Copa. Mas respeito os motivos de quem luta pelos seus direitos. Agora, já que há, cabe a nós aproveitar e tentar lucrar um pouco mais», remata o empresário.

Dedo indicador ainda é o melhor dicionário



Mais afastada da confusão, mas nem por isso menos atarefada está Dona Aparecida, proprietária de um quiosque. «Noto melhorias, vendo mais 30 a 40 por cento, sobretudo em material relacionado com a Copa. Acredito que, quanto mais longe for o Brasil maior interesse vai gerar e mais gente vai passar por cá», projeta.

Estrategicamente localizado em frente a uma unidade hoteleira na zona de Lourdes, outra área nobre de Belo Horizonte, o quiosque de Dona Aparecida é procurado por brasileiros mas também por muitos turistas.

«Estamos preparados. Vendemos o Le Monde, Newsweek, Clarin e outros jornais estrangeiros», explica.

Mais difícil é a conversa: «Espanhol ainda desenrasco, mas inglês não falo muito bem. Quando me perguntam digo sempre: more or less. mas sei pouco na verdade. Há uma solução que ajuda sempre: apontar»

De facto, a comunicação com os turistas não tem sido fácil de contornar para os brasileiros. Sobretudo para os menos preparados. Lúcia Gimenez tem uma banca de artesanato. Pulseiras, colares, bolsas. Tudo feito à mão.

Apesar do apelido hispânico diz que só fala português. «Nem espanhol, nem inglês. E olhe que tem-me feito falta», assume. «Mas vou fazer o quê? É um negócio pequeno, não ia parar para tirar curso ou colocar um funcionário», atira entre risos.

As vendas têm sido boas. «Funciono ao contrário dos bares. Quando está a haver jogo ninguém vem cá. Antes passa muita gente, depois menos porque bebem muita cerveja por lá e até aqui é a subir», brinca. 



Hóteis moderaram preços, taxistas não notam diferenças

A hotelaria é outro dos sectores a beneficiar largamente com a Copa do Mundo. Belo Horizonte não é das cidades mais procuradas do Brasil, mas, por estes dias, à entrada do Inverno, tem lotação quase esgotada.

Priscila Campos, responsável por um dos hotéis na zona de Savassi, falou brevemente ao Maisfutebol para fazer um balanço positivo. «Não estamos cheios, mas perto disso. Não sei como está na concorrência, mas acredito que seja semelhante. Procurámos não exagerar nos preços das diárias, como aconteceu em outras cidades», explicou.

A única classe ouvida pelo nosso jornal que faz balanço negativo são os taxistas. Hélio garante que não trabalha mais nem menos do que antes. E é completamente contra a Copa.

«É um embuste. A gente não tem saúde, não tem educação. Quer a Copa para quê? Tomara que o Brasil perca com os Camarões, seja eliminado a ver se a Dilma [Roussef] cai», atira.

A mensagem é partilhada por Roberto Alves, outro taxista. «Não está melhor, não. Este tipo de turista vem já com tudo planeado. Apanha o ónibus, tem transfere marcado ou vai a pé. Nos dias de jogo melhora. No dia do Bélgica-Argélia fui quatro vezes ao Mineirão só de manhã», conta.

«Mas, sinceramente, eu também fujo do turista do futebol. É barulhento de mais. Prefiro fazer outros horários nos dias de jogo. Não vejo a hora de isto [Copa] acabar para a minha rotina voltar», remata. 
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