A coroação de uma geração brilhante no ano da surpresa venezuelana - TVI

A coroação de uma geração brilhante no ano da surpresa venezuelana

A festa dos ingleses no Mundial sub-20 (EPA/KIM HEE-CHUL)

Terminou mais um Mundial de sub-20, que estreou a Inglaterra no lote dos países vencedores. O Maisfutebol apresenta-lhe os principais destaques do torneio

Depois de 22 dias de intensa e árdua competição, o Campeonato do Mundo de sub-20 chegou ao final e com um vencedor inédito numa final inédita. A Inglaterra, acostumada a desilusões atrás de desilusões em competições jovens, bateu a irreverente Venezuela por uma bola a zero e arrebatou o cetro mundial pela primeira vez na História.

Treinada por Paul Simpson, antiga estrela do Manchester City ou do Derby County, a jovem formação dos Três Leões mostrou ao mundo que tem uma geração a ter em conta para o futuro a médio/longo prazo. Mas neste torneio não foram apenas os ingleses a ter papel relevante. Também a surpreendente Venezuela, as consistentes Itália e Uruguai ou a espampanante Zâmbia, entre outras seleções, revelaram os seus talentos ao mundo futebolístico.

O Maisfutebol idealizou um «onze» com os melhores craques desta competição e ainda lhe acrescentou vários nomes alternativos que podem vir a marcar o futebol mundial na próxima década:

Wuilker Faríñez (Venezuela/Caracas FC): Aos 19 anos, e depois de somar várias internacionalizações pelas seleções jovens da Venezuela e muitos minutos de utilização na equipa sénior do Caracas, parece estar já pronto para viajar até ao Velho Continente. Não sendo alto (1,78m), mostra ser um guardião ágil, seguro, robusto e com considerável elasticidade, impõe-se facilmente entre os postes, não é de ficar a meio caminho nas saídas e revela critério no lançamento com o pé direito (embora por vezes envie algumas bolas para fora por querer abrir demasiado o jogo na linha). Os seus reflexos são notáveis, mesmo em lances de um-para-um e em bolas mais baixas. Já falado como alvo do Benfica.

Jonjoe Kenny (Inglaterra/Everton): Um dos campeões da Europa de sub-17 em 2014 que se manteve na equipa três anos volvidos. Com apenas 12 minutos somados na Premier League (embora vá rodando regularmente na equipa de reservas do Everton), cotou-se como o melhor lateral-direito de um torneio com excelentes revelações nessa posição. Destro capaz de emprestar largura e profundidade à equipa, destacou-se muito no momento ofensivo, revelando qualidade de passe e boa visão de jogo. Todas as suas ações pareciam fazer algum sentido e soube coordenar os ataques pelo flanco direito em várias situações. Além do mais, cruza habitualmente com eficácia. No plano defensivo, mostrou ser um jogador eficaz e difícil de ultrapassar no um-para-um.

Agustín Rogel (Uruguai/Nacional): Central destro que já se havia destacado no Campeonato Sul-Americano de sub-20, voltou a ser um dos jogadores charrua em plano de destaque. Forte na marcação e soberbo nas abordagens aéreas, revela ser um elemento fundamental na defesa da área própria, além de atacar algumas bolas com incisão na área contrária. Com uma saída de bola limpa mas não esplêndida, demonstra por norma um elevado grau de segurança e critério no desarme e antecipação.

Nahuel Ferraresi (Venezuela/Deportivo Táchira): Aos 18 anos (apenas completará 19 primaveras em novembro) mostrou-se como o complemento ideal para Velásquez, sentando o titular do torneio sul-americano (Mejías). Apesar de ter estado envolvido no golo do título para a seleção inglesa, não pode deixar de ser considerado como um dos centrais mais fortes do torneio. Destaca-se pela contundência no jogo aéreo (tanto a defender como a procurar o golo junto à baliza contrária), natural num jovem de 1,89 m, impetuosidade na marcação, limpeza no desarme e saída de bola segura (embora com alguns passes falhados quando decide arriscar um pouco mais). A seguir.

Mathías Olivera (Uruguai/CA Atenas): Lateral consistente, seguro no processo defensivo e com interessante projeção ofensiva. Joga bem junto à linha, dando largura à equipa e sobe sempre com critério, definindo os cruzamentos com qualidade. No um-para-um defensivo, ganha vários lances, demonstrando solidez no choque e resistência física. Ainda está no segundo escalão do futebol uruguaio mas fala-se que o salto para a Europa estará para breve. Tendo em conta as características demonstradas, tem tudo para ser bem sucedido…

Fede Valverde (Uruguai/Real Madrid): Outra das novidades na equipa uruguaia por comparação com o grupo que se consagrou como campeão sul-americano em fevereiro. Depois de uma excelente temporada nos sub-19 do Real Madrid (em particular, na Youth League), chegou a cereja no topo do bolo neste Mundial, tendo arrebatado o prémio Bola de Prata (atribuído ao segundo melhor jogador da competição). Médio de construção, era o principal responsável pela saída de bola da seleção celeste, executando passes longos cheios de precisão ou abrindo o jogo com um critério ímpar. Dinâmico, manobra o jogo com habilidade e sabe lê-lo com astúcia, revelando ainda intuição para recuperar bolas no choque ou antecipando-se aos adversários. Possui ainda um belo remate de meia-distância e uma qualidade na cobrança de bolas paradas (diretas ou indiretas) acima da média. Tem tudo para se tornar num dos médios de referência da seleção principal do Uruguai nos próximos anos.

Lewis Cook (Inglaterra/Bournemouth): Depois de uma temporada de utilização escassa com Eddie Howe na Premiership, chegou ao Mundial com a dúvida a pairar no ar: será que se irá apresentar nas melhores condições, físicas e psicológicas, para afrontar uma competição desta responsabilidade? A resposta que o jogador deu foi clara. Médio-centro com uma considerável disponibilidade física, capacidade de trabalho defensivo e ótima visão de jogo, consegue repartir bola pelos companheiros com facilidade, fornecendo passes decisivos com alguma frequência. Foi o jogador inglês que efetuou mais desarmes (23) e interceções (oito) ao longo do torneio.

Yangel Herrera (Venezuela/New York City): Garantido pelo Manchester City durante o Torneio Sul-Americano do início deste ano e posteriormente emprestado à filial norte-americana dos citizens, destacou-se como um dos jogadores fulcrais do brilhante torneio da seleção Vino Tinto. Defensivamente forte, com capacidade de roubar bolas, jogando em antecipação ou efetuando um desarme limpo, mostrou ainda capacidade de condução, aliada à tentação por efetuar passes verticais de risco. Não sendo tão polido no jeito de distribuir jogo como o seu colega do lado (Lucena), consegue ainda assim variar o centro do jogo com relativa facilidade e aguentar a marcação dos adversários quando tem a bola. Está aqui um belo projeto de futuro para ser trabalhado por Pep Guardiola.

Riccardo Orsolini (Itália/Juventus): Garantido pela Juve desde janeiro (embora tivesse permanecido no Ascoli até ao final da temporada), conquistou o prémio de melhor marcador deste Campeonato do Mundo, com cinco golos apontados. Extremo canhoto, joga por norma a partir do flanco direito, buscando constantemente movimentos interiores. Os seus arranques, com a bola colada ao pé ou em astutas desmarcações para receber no espaço são demolidores. Entra bem nas costas do lateral-esquerdo para finalizar, numa jogada verificável em vários momentos deste torneio. Apesar de privilegiar o recurso ao pé esquerdo, também sabe utilizar o pé direito, nomeadamente quando leva a bola para a linha de fundo e procura cruzar para a área. Detalhes de craque.

Dominic Solanke (Inglaterra/Liverpool): Confirmado como reforço do Liverpool durante o torneio, mostrou que pode vir a ser uma opção credível para Jürgen Klopp a partir da próxima temporada. Eleito melhor jogador deste Mundial, foi crescendo em termos exibicionais à medida que a Inglaterra foi avançando na competição, tendo estado a um nível colossal nas meias-finais e na final. Avançado móvel, que se oferece ao jogo e remata com uma frieza tremenda, pôs as linhas defensivas contrárias em pânico, graças aos movimentos amplos, técnica e velocidade que colocou nas ações empreendidas. Quatro golos marcados e muito futebol nos pés.

Ademola Lookman (Inglaterra/Everton): Excecional torneio. Extremo veloz, com um estilo de jogo excitante e incisivo nas diagonais, foi um «quebra-cabeças» para os defensores adversários. Decisivo no embate frente à Costa Rica, garantindo com dois golos o apuramento inglês para os quartos de final, soube aparecer em zona de finalização, demonstrando a precisão do pé direito. Além do mais, no desenvolvimento de jogadas individuais, no um-para-um, na condução de bola e último passe, acabou por ser um elemento-chave da campeã do Mundo.

Outros destaques do Mundial

Foram mais do que muitos os jogadores que aproveitaram a montra sul-coreana para se mostrarem aos observadores dos mais diversos clubes dos quatro cantos do globo. Começando pelos guarda-redes, há que destacar as notáveis prestações do italiano Andrea Zaccagno (dono de uns reflexos simplesmente extraordinários), do inglês Freddie Woodman (herói na final, ao defender um penálti de Peñaranda e sóbrio no restante torneio), o temível guardião uruguaio Santiago Mele, «carrasco» português na edição deste ano e ainda as provas de solidez dadas pelo mexicano Abraham Romero e pelo norte-americano Jonathan Klinsmann.

Além do quarteto anteriormente referido, também outros defesas se foram destacando ao longo das três semanas de competição na Coreia do Sul. Nas seleções finalistas, há que destacar os centrais Tomori (do lado inglês) e Williams Velásquez (Venezuela), fortes nas alturas, contundentes no desarme e com ousadia para arriscar algumas subidas com a bola no pé. Na terceira classificada Itália, destaque para a dupla Romagna-Coppolaro, sóbria e agressiva nas abordagens defensivas e ainda para o lateral-esquerdo Giuseppe Pezzella, dono de um pé esquerdo bem calibrado. Voltando a centrais, há que relevar as boas prestações do português Jorge Fernandes, do uruguaio Santiago Bueno (já a evoluir na segunda equipa do Barcelona), a dupla norte-americana composta por Carter-Vickers e pelo ex-portista Palmer-Brown e ainda o mexicano Edson Álvarez, central muito promissor, conhecido como o Beckenbauer azteca.

Capítulo à parte para falar sobre laterais-direitos. Foram vários os que se destacaram neste Campeonato do Mundo. Se Kenny deverá ter sido o mais regular, o venezuelano Ronald Hernández e o uruguaio José Luis Rodríguez não o foram menos e poderiam perfeitamente ter arrebatado o lugar de melhor lateral-direito do torneio. Ambos revelaram segurança no plano defensivo e acutilância no apoio ao ataque. Ainda em destaque esteve o português Diogo Dalot, um lateral de cariz ofensivo que já vinha sendo acompanhado de perto pelos «tubarões» dos grandes campeonatos.

A nível de meio-campo, tivemos também várias revelações. Desde os mais defensivos aos mais criativos, foram vários os nomes que deixaram marca na Coreia. O venezuelano Ronaldo Lucena, dono de um pé direito notável, podia perfeitamente estar entre os onze melhores do torneio, assim como o inglês Josh Onomah. Destaque ainda para as prestações interessantíssimas dos italianos Mandragora, Pessina e Vitale, médios de muito critério a construir jogo e do pujante Nicolás de la Cruz (Uruguai). Mais para lá dos quatro primeiros destacaram-se ainda nomes como Bruno Xadas (Portugal), Tyler Adams (EUA), Alan Cervantes (México), Enock Mwepu (Zâmbia), Amine Harit (França), Cavin Diagne (Senegal), Mizuki Ichimaru (Japão) ou Al Asmari (Arábia Saudita).

Finalmente, no último terço do terreno, diversos jogadores conseguiram atingir momentos de brilhantismo neste Mundial. O goleador venezuelano Sergio Córdova, figura da prova na primeira fase, prepara-se certamente para ser assediado por vários emblemas europeus, depois das prestações em solo coreano. Avançado robusto, explosivo, com boa técnica, inteligência e remate fácil, desapareceu um pouco nos últimos desafios, em particular na final, embora tenha havido muito mérito dos blocos defensivos rivais, que aprenderam claramente a lição dos primeiros jogos.

Entre avançados de área, outros destaques da competição: Andrea Favilli, possante ponta-de-lança da Itália, com boa técnica e capaz de oferecer excelentes apoios frontais, Patson Daka, atacante zambiano com mobilidade mas que atua mais por dentro, como segundo avançado e que revela frieza na cara do golo, Joshua Sargent, avançado norte-americano de apenas 17 anos, uma das maiores revelações do torneio e ainda o francês Jean-Kévin Augustin, figura na fase de grupos mas que acabou afastado da prova ainda nos oitavos de final.

Finalmente, uma palavra para os alas/extremos que mostraram atributos neste Campeonato: Adalberto Peñaranda, capaz de jogar a toda a largura do ataque, uma das referências venezuelanas, traído pela final de pesadelo (com penálti falhado incluído), Fashion Sakala, a flecha zambiana que perfurava o coração das defesas adversárias com notável incisão, Ritsu Doan, o ziguezagueante extremo japonês, de técnica absolutamente notável, Giuseppe Panico, extremo italiano veloz e com boa qualidade de passe/remate, Diogo Gonçalves, extremo português que foi um dos elementos mais dinâmicos da seleção orientada por Emílio Peixe ou Sheyi Ojo, a arma secreta da seleção inglesa, elemento fundamental na garantia de um lugar na final de Suwon.

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