Gerald Ford autorizou operações da CIA em Portugal e Angola - TVI

Gerald Ford autorizou operações da CIA em Portugal e Angola

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O Presidente norte-americano Gerald Ford, que morreu esta terça-feira aos 93 anos, teve um papel central na recente história de Portugal e Angola, ao autorizar o financiamento de organizações pró-ocidentais e a interferência da CIA (serviços secretos norte-americanos), avança a «Lusa».

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Gerald Ford assumiu a presidência em Agosto de 1974, apenas quatro meses após o golpe de Estado de 25 de Abril, que pôs termo à ditadura em Portugal e desencadeou o processo que levou à independência das colónias portuguesas em África.

Num altura em que a guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética se encontrava no auge, o avanço da esquerda em Portugal, após o golpe de Estado, desencadeou sérias preocupações em Washington particularmente após a demissão do Presidente António Spínola, em Setembro de 1974.

No mês seguinte, Ford reuniu-se com o Presidente Costa Gomes e com o então ministro dos Negócios Estrangeiros Mário Soares numa altura em que aumentavam as preocupações em Washington sobre a crescente influência dos comunistas em Portugal.

Segundo relatos publicados nos Estados Unidos o então secretário de Estado Henry Kissinger terá dito a Mário Soares que o considerava o «Kerensky» de Portugal, numa referência a um líder moderado da revolução russa de 1917 que acabou por ser marginalizado e exilado pelos comunistas.

Em Maio de 1975, Ford voltou a reunir-se em Bruxelas com o Presidente Costa Gomes e o primeiro-ministro Vasco Gonçalves, a quem disse considerar Portugal um «Cavalo de Tróia» da União Soviética dentro da NATO.

No livro «Confronto em África - Washington e a queda do Império Colonial Português», o historiador Witney Schneidman escreve que Ford e Kissinger saíram do encontro com a opinião de que Vasco Gonçalves era «um leninista incurável».

Após estes encontros, o governo norte-americano aumentou o financiamento secreto de organizações políticas não comunistas em Portugal, de acordo com Schneidman.

E a CIA manteve importantes contactos com partidos políticos do centro direita «especialmente no norte de Portugal», refere Schneidman.

O livro indica que, em Maio de 1975, Melo Antunes do Movimento das Forças Armadas se reuniu com Kissinger para o tentar convencer a levar os Estados Unidos a ajudar o MPLA a assumir o controlo de Angola.

Para Melo Antunes isso ajudaria a neutralizar a influência da União Soviética em Angola, reduzindo a necessidade do MPLA receber ajuda externa.

Um mês antes e como reflexo das profundas divisões que a guerra em Angola viria a causar, Ford reuniu-se com o então chefe de Estado da Zâmbia Kenneth Kaunda, que exortou o Presidente norte- americano a responder militarmente à intervenção soviética em Angola.

Em Julho de 1975, Ford aprovou pela primeira vez ajuda financeira aos movimentos angolanos anti-MPLA, autorizando o uso de seis milhões de dólares para ajudar a FNLA de Holden Roberto a comprar armas e transportá-las para Angola.

Ford autorizou também a CIA a intervir em Angola ao abrigo de um programa com o nome de IEAFEATURE e antes do final desse mês aprovou outros oito milhões de dólares de ajuda à FNLA.

A política do Presidente Gerald Ford, de apoio aos movimentos anti-MPLA, viria a ser bloqueada pelo Congresso, onde devido à guerra no Vietname existia na altura uma oposição total ao envolvimento dos Estados Unidos em guerras no estrangeiro.

Em finais de Novembro, a Casa Branca pediu que 28 milhões de dólares do orçamento da defesa fossem «reprogramados» para ajuda secreta à FNLA e à UNITA.

O Congresso respondeu com uma resolução proibindo toda a ajuda militar secreta a qualquer facção angolana, o que reconfirmou em Janeiro de 1976.

Isso só viria a ser levantado depois de Ronald Reagan assumir a presidência dos Estados Unidos em 1981, abrindo caminho ao apoio em grande escala dos Estados Unidos ao movimento angolano UNITA.
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