Yann Tiersen levou faceta rocker ao CCB - TVI

Yann Tiersen levou faceta rocker ao CCB

Yann Tiersen na Aula Magna (foto: Manuel Lino)

Para a surpresa de alguns, compositor francês apresentou espectáculo mais perto de uns Sonic Youth do que de um Philip Glass

Sala cheia no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Depois de ter passado por Vila Nova de Famalicão, no domingo, o francês Yann Tiersen apresentou-se esta segunda-feira perante um público lisboeta parcialmente surpreendido com o espectáculo a que assistiu.

Não que seja novidade, até porque as últimas actuações no nosso país já o tinham mostrado, mas Tiersen não levou ao CCB um concerto intimista e centrado no piano. O bretão deixou, mais uma vez, de lado a imagem «limpa» do compositor minimalista e trouxe consigo uma banda para um concerto tipicamente rock.

Daí que, para os mais distraídos, a apresentação em formato «On Tour» - disco ao vivo saído em 2006 - tenha surpreendido e deixado mesmo algumas pessoas confusas. Temas já conhecidos da carreira do bretão, alguns retirados da banda sonora do filme «O Fabuloso Destino de Amélie Poulain», receberam um tratamento entre o post rock e o experimentalismo.

Mais perto dos Sonic Youth do que de Philip Glass

De calças de ganga, t-shirt, camisa aos quadrados e cabelo bem desalinhado - até no visual com que subiu ao palco, Yann Tiersen esteve mais perto de uns Sonic Youth do que de um Philip Glass. O francês não deixou, no entanto, alguns dos seus brinquedos de fora, caso da pequena melódica que deu início ao espectáculo em «Dark Stuff».

Mas a principal companheira de Tiersen foi mesmo a guitarra, principalmente uma Fender Jaguar branca. O músico de 39 anos contou também com a ajuda de um (frenético) baterista, de um guitarrista, de um baixista e de uma exímia tocadora de ondas Martenot - instrumento de teclado que produz sons ondulantes, à semelhança do teremim.

Juntos, levaram o público numa viagem por composições que inicialmente navegavam calmamente até culminarem em explosões sonoras em canções como «A Secret Place», «Drilly (La Perceuse)» ou «La Quartier», esta última já com Yann Tiersen a brilhar no violino.

Solo apaixonado arrancou ovação em «Sur Le Fil»

Foi ao oitavo tema que o bretão arrancou uma das ovações da noite. Mesmo os mais desconfiados acabaram por render-se à apaixonante interpretação a solo de «Sur Le Fil», do disco «Le Phare» (1998) e do filme «Amélie». Talvez porque adaptada sem grandes alterações do piano para o violino, esta foi uma das composições que acabou por agradar a gregos e troianos.

Mesmo perante fortes aplausos e declarações como «you fucking rock!», Tiersen permaneceu tímido na hora de comunicar com o público. Nada que estragasse a pintura de um concerto que valeu certamente mais pela música. Ainda assim, houve quem gostasse de ouvir aqueles dois ou três «obrigado» sussurrados em português.

Até à primeira saída de palco houve também tempo para canções com vocalizações, para além da maioria dos instrumentais apresentados. «Amy», «Till The End» e «La Rade» foram cantados em coro por todo o grupo.

«Amélie» em versão rock experimental

No encore, o destaque foi naturalmente para a faixa final, uma versão de «La Valse d'Amélie» com roupagem rock experimental e na qual as vibrações fantasmagóricas da ondas Martenot fizeram a vez do piano do compositor.

Depois de hora e meia de espectáculo, a maioria da assistência saiu convencida. E quem ainda não conhecia, passou a gostar desta faceta rocker do francês.
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