Cabo-verdiana Tututa Évora morre aos 95 anos - TVI

Cabo-verdiana Tututa Évora morre aos 95 anos

Tututa Évora

«Morreu a mulher, mas ficou a lenda», disse o presidente de Cabo Verde sobre a virtuosa pianista e compositora

A compositora e pianista cabo-verdiana Tututa Évora, autora de algumas das mais importantes composições em Cabo Verde, morreu no domingo em Espargos, na ilha do Sal, aos 95 anos, vítima de um enfarte do miocárdio, escreve a agência Lusa.

Epifania de Freitas Silva Ramos Évora, tratada carinhosamente em Cabo Verde por Dona Tututa, nasceu a 6 de janeiro de 1919, no Mindelo (São Vicente), cidade onde despontou como grande pianista e foi igualmente professora de piano, sendo autora de temas como «Grito de Dor», «Sentimento», «Mãe Tigre» ou «Vida Torturod».

«Quando estou agarrada ao piano parece que estou no céu, lugar onde nunca estive», afirmou, entre risos, a mulher que se encontrava internada há vários dias no hospital do Sal, devido a uma pneumonia. O funeral realiza-se esta segunda-feira à tarde.

O Presidente e o primeiro-ministro de Cabo Verde, respetivamente Jorge Carlos Fonseca e José Maria Neves, em comunicados separados, reagiram à morte de Tututa, considerando que «morreu a mulher, mas ficou a lenda» e que a pianista era uma mulher «muito à frente do seu tempo».

«Dona Tututa, um retrato singelo de uma vida longa e preciosa, caldeada de melodias, de músicas, através das quais venceu preconceitos, superou barreiras edificadas pelos tempos. Teve um percurso singular, de alguém que marcou a sua época, cuja vivência simboliza naturalmente a cabo-verdianidade», disse Jorge Carlos Fonseca.

«É uma personalidade de dimensão maior, que se destacou no palco da vida, contracenando com os melhores, entre os quais alguns dos mais proeminentes músicos/compositores cabo-verdianos de diferentes gerações - B'Leza, Bana ou Cesária Évora. Partiu a mulher, ficou a lenda», sublinhou o Presidente cabo-verdiano.

José Maria Neves considerou que a vida e obra de Tututa é «motivo de orgulho» para todos os cabo-verdianos, e destacou a «exímia pianista» que será «sempre» uma «inspiração para todas as mulheres» no país.

«Dona Tututa foi uma mulher muito à frente do seu tempo, conciliando a vida de esposa e mãe com a sua paixão pela música, e desafiou convenções, sagrando-se como um dos nomes míticos das noites de serenata e tocatinas mindelenses, um mundo então reservado apenas aos homens», salientou o chefe do Governo.

«Ao lado de outros grandes nomes, como B'Leza, Luís Morais, Bana, Manuel de Novas e Morgadinho, com quem partilhou palcos, Dona Tututa toma o seu lugar de direito no Olimpo dos sagrados da música das ilhas, ela, que ainda partilhou o palco e inspirou tantos outros artistas da sua e de outras gerações como Paulino Vieira, Celina Pereira, Bau, Antero Simas e tantos outros», acrescentou José Maria Neves.

Mãe de 14 filhos, entre os quais um parto trigémeo, Tututa, além do talento reconhecido como compositora, é também conhecida pela melancolia das suas letras e elogiada pelo «swing da mão esquerda», que fez escola na interpretação ao piano na música popular de Cabo Verde.

A «virtuosa e original» pianista foi dada a conhecer ao mundo através de um retrato fílmico sobre a sua vida, do realizador português João Alves da Veiga, descendente de cabo-verdianos, e lançado no dia em que Tututa Évora completou 94 anos.

Reconhecida como «figura lendária» em Cabo Verde, mas praticamente desconhecida fora dele, Dona Tututa foi homenageada ainda em vida, ao ver o seu nome atribuído à Escola Municipal de Artes do Sal.

Trailer "Dona Tututa" from B'lizzard on Vimeo.

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