«Tudo o que o Bernardo Sassetti fazia, fazia sempre bem» - TVI

«Tudo o que o Bernardo Sassetti fazia, fazia sempre bem»

Luís Tinoco, Mário Laginha, Maria João, Camané e Carlos Nobre recordam o talento, a jovialidade e o legado imenso do pianista falecido há um ano

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Há um ano, o choque e a tristeza marcaram a reação de amigos, colegas e fãs com o desaparecimento trágico de Bernardo Sassetti, um dos mais talentosos e geniais intérpretes e compositores das últimas gerações. A morte prematura aos 41 anos interrompeu a vida de uma figura que os amigos recordam pela simpatia e boa disposição. Para trás ficava uma carreira de qualidade e variedade que atravessou géneros musicais díspares.

«Sendo tão novo, com uma alegria e uma simpatia contagiantes com que qualquer pessoa se identificava (...), isso reforçou ainda mais esse sentido de perda», afirmou o compositor Luís Tinoco em entrevista ao tvi24.pt.

«E depois em cima de tudo isto, há uma enorme obra, uma enorme qualidade em tudo aquilo que ele fazia. Não só como intérprete, mas também como criador, compositor, pianista, fotógrafo. O Bernardo tinha essa característica de ser um indivíduo polivalente, e tudo aquilo que fazia, ele fazia sempre bem, não sabia fazer mal», acrescentou o músico, que passou mais tempo com Sassetti como amigo pessoal do que em colaborações musicais.

«Tínhamos uma relação, antes de mais, que era de amizade, nem sequer era profissional. Nós nunca estávamos juntos para trabalhar - estávamos juntos para ouvir música, para ir a concertos, para fazermos provas de vinhos (risos) e para confraternizar», recordou com saudade.

Mário Laginha, outro dos amigos próximos de Bernardo Sassetti, destacou o «prazer imenso e uma permanente alegria em todo e qualquer trabalho conjunto» feito com o colega. Os dois pianistas iniciaram, no final da década de 90, uma colaboração que durou até à morte de Sassetti e que resultou em vários espetáculos e discos.

«Pessoalmente, tal como na música, era uma companhia maravilhosa, estimulante e com um gosto especial para a desconstrução. Estar com ele implicava, inevitavelmente, dar umas boas gargalhadas. Fazem muita falta», disse Laginha.

Camané, que se juntou a Laginha e Sassetti no espetáculo «Vadios», também lembra a magia de trabalhar com uma pessoa que transportava a boa disposição para onde quer que fosse. «Ele tinha imenso sentido de humor. Às vezes estávamos muito envolvidos no trabalho e ele tinha sempre a capacidade de descontrair através do humor, sem nunca perder o sentido criativo», explicou o fadista.

Do jazz ao fado, passando pela música clássica, a obra criativa de Sassetti tocou também outros géneros musicais mais «pop», como no caso da colaboração com os Da Weasel, em 2007, no tema «A Palavra».

«A sua colaboração no espetáculo dos Da Weasel no Pavilhão Atlântico ficará para sempre no meu coração. Do pouco que conheci, o Bernardo afigurou-se-me um espírito livre, algo pueril, bastante curioso e de grande coração», contou Carlos Nobre, o Pacman dos tempos dos agora extintos Da Weasel.

Para amigos e colaboradores, o legado deixado por Bernardo Sassetti, que se estendeu também ao teatro e ao cinema, é imenso e valioso. Ao tvi24.pt, a cantora Maria João revelou como está a contribuir para manter a obra do pianista bem viva.

«Na escola onde dou aulas (...) dei temas do Bernardo para [os meus alunos] trabalharem e cantarem na audição do fim do ano. Aliás pedi para serem eles a escolher, assim passam a conhecer mais e melhor este compositor.»

Luís Tinoco falou da importância do trabalho da Casa Bernardo Sassetti, um grupo de familiares e amigos que está a fazer a recolha e a gestão desse legado, evitando o lançamento desmesurado de discos «best of» ou de material inédito: «A pouco e pouco [vão] começar depois a divulgar e a deixar que muito desse património comece a ser apresentado ao público. Mas isso, felizmente, está a ser feito com a sobriedade, a calma e a dignidade que o Bernardo merece».

«Qualidade e identidade - essa é a única maneira, na minha opinião, da música perdurar no tempo. Tenho a certeza que é isso que vai acontecer com o legado musical [do Bernardo]», assegurou Mário Laginha.
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