"Tenho o coração todo partido". Amigos lamentam morte de Carlos do Carmo - TVI

"Tenho o coração todo partido". Amigos lamentam morte de Carlos do Carmo

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  • 1 jan 2021, 11:56

António Chaínho também lamentou a morte do fadista. Guitarrista acompanhou Carlos do Carmo até 1991

A fadista Carminho recordou Carlos do Carmo como uma "grande escola, um grande ensinamento" e como "um pilar" no mundo do fado. Em entrevista à TVI24, Carminho diz que o fadista "deixa um legado incalculável".

O fado vive do diálogo e da passagem de testemunho. Carlos do Carmo sempre foi um farol para muitos no fado", disse Carminho.

Já o guitarrista António Chaínho, que o acompanhou durante 25 anos, até 1991, destacou "o grande profissional que era".

O músico salientou "o bom gosto musical" do fadista e "o cuidado com a escolha de repertório".

Chaínho, em declarações à agência Lusa, referiu o gosto que o fadista tinha pelo cantor norte-americano Frank Sinatra, "cuja atitude em palco seguia de certa forma".

António Chaínho contou que recentemente tinha falado com Carlos do Carmo. "Tenho o coração todo partido", afirmou.

O guitarrista acompanhou Carlos do Carmo até 1991, tendo participado nas gravações dos seus álbuns "Homem na Cidade" e "Homem no País" e em várias digressões internacionais.

Já a fadista Mariza recordou Carlos do Carmo como "um bom amigo, homem generoso, inteligente, observador, muito curioso, e que gostava de partilhar".

A fadista, em declarações à agência Lusa, recordou o apoio de Carlos do Carmo à sua carreira, afirmando que tinha sido seu "mestre sem o saber", logo no início do seu percurso.

Ele chamava-me para junto do seu abraço", disse a fadista, que se encontra atualmente no Brasil.

Mariza, que partilhou vários palcos com Carlos do Carmo, nomeadamente o do Royal Albert Hall, em Londres, disse à agência Lusa que o fadista "teria a ideia de deixar, para o fado, pessoas bem preparadas, com conhecimento musical".

Mariza realçou "as escolhas inteligentes" de Carlos do Carmo ao longo da sua carreira de mais de 50 anos, e o cuidado no repertório.

Já a cantora Simone de Oliveira realçou hoje a carreira internacional do fadista Carlos do Carmo, e a dimensão que atingiu, da qual "os portugueses não têm noção", como afirmou à agência Lusa.

A Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) recorda "a qualidade excecional" da obra e do "empenho cívico" de Carlos do Carmo, numa nota de pesar. Associado da SPA desde 29 de setembro de 1997, Carlos do Carmo foi distinguido pela cooperativa com o Prémio de Consagração de Carreira em maio de 2001 e recebeu a Medalha de Honra durante a celebração do Dia do Autor Português, a 22 de maio de 2015.

A cooperativa, que traça o percurso artístico de Carlos do Carmo, destaca os álbuns "Um Homem na Cidade" e "Um Homem no País", com textos de José Carlos Ary dos Santos (1937-1984), como "essenciais para a renovação do fado e para a consolidação da sua brilhante carreira nacional e internacional que o levou a atuar em grandes salas por todo mundo".

"Foi um cantor que sempre respeitou a obra dos poetas, de Vasco Graça Moura e Herberto Helder, passando por muitos outros", realça a SPA.

A SPA lembra igualmente a viúva de Carlos do Carmo, Maria Judite, "companheira sempre presente, nos palcos e nos estúdios como na vida, ao longo de mais de meio século".

A fadista Maria Amélia Proença, com mais de 60 anos de carreira, referiu-se a Carlos do Carmo, por seu lado, como "um grande profissional, boa pessoa e bom colega".

Maria Amélia Proença, que fez parte do elenco da casa típica O Faia, que pertenceu a Carlos do Carmo e foi fundada por seus pais, em 1947.

"O Carlos [do Carmo] vai ser sempre lembrado", disse a fadista à Lusa, realçando "a [sua] cuidada escolha de repertório".

Maria da Fé, que realizou vários espetáculos com Carlos do Carmo, nomeadamente na Alemanha, afirmou que "é um começo triste de Ano Novo", e realçou "a grande dignidade com que Carlos do Carmo pôs fim à carreira", numa referência ao concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em novembro de 2019.

"Esteve muito bem, com a voz muito boa", disse. "Sempre gostei muito dele, éramos amigos, e ele foi sempre o meu fadista de eleição", afirmou.

"O Carlos foi um homem de grande cultura e ensinamento, um homem do mundo", concluiu Maria da Fé.

"Não há adeus para quem tanto fez"

Três nomes do fado, Jorge Fernando, Pedro Moutinho e Aldina Duarte, homenageiam Carlos do Carmo com um agradecimento nas redes sociais, em reação à morte do fadista.

"Não há adeus para quem tanto fez! Obrigado, Carlos", garante o produtor, músico, cantor, compositor Jorge Fernando, enquanto Pedro Moutinho, o criador de "O Fado Em Nós", escreve um "obrigado por tudo", no Facebook, à semelhança da cantora e compositora Aldina Duarte, assim como de Áurea: "Obrigada, Carlos do Carmo".

Os testemunhos de homenagem vão no entanto além do fado, vão da música popular à ligeira, do rock ao jazz e à música contemporânea, reunindo nomes como Ana Bacalhau, António Manuel Ribeiro, Carlão, Carolina Deslandes, David Fonseca, Dino D'Santiago, Emanuel, Jel, José Cid, Luiz Caracol, Marco Rodrigues, Pedro Abrunhosa.

O compositor António Pinho Vargas, na sua página no Facebook, recorda um concerto em Amesterdão, em 1989, do seu quarteto, com os músicos José Nogueira, Pedro e Mário Barreiros, quando Carlos do Carmo e José Mario Branco (1942-2019) insistiram em juntar-se a eles, para cantarem "Olhos Molhados", na sala Paradiso, repleta de público.

"Então mostraram-me que aquela música era também uma canção: uma aparição celeste, uma inesquecível emoção, arrepios fundos; ouvir aquela música e viver aquelas palavras ditas e cantadas naquelas vozes únicas e sem igual. Ficámos amigos para sempre. Hoje, 'olhos molhados' reais para eles e pela memória dele", escreve o compositor de "Six Portraits of Pain".

O músico David Fonseca, por seu lado, lembra no Twitter que "o país inteiro morava na voz" de Carlos do Carmo. "Um músico extraordinário, um 'gentleman'".

Dino D’Santiago usou o Instagram: "Lisboa perdeu o seu Homem...o Mundo perdeu o seu Verbo".

José Cid, o segundo músico português distinguido com um Grammy Latino de carreira, depois de Carlos do Carmo, escolheu também o Facebook para expressar a perda: "Meu grande amigo! Vais deixar saudades! Já tenho saudades! Estás sempre presente! Adeus amigo! Até ao dia em que nos encontrarmos de novo no Além!"

António Manuel Ribeiro assina o texto na página dos UHF: "Carlos do Carmo – nem elogio fúnebre nem obituário. Apenas as memórias que guardo do homem que conheci em 1979. Estivemos juntos na fundação de uma cooperativa dedicada ao espectáculo, a CantarAbril (...). Ouvi os conselhos do homem de saber e cultura com a palavra justa para os mais novos, como os UHF. (...) Intérprete maior da verdadeira canção de Lisboa recuperou com mestria e subtileza diplomática o fado (...). Ergam as palmas para Carlos do Carmo".

Carlão recorda a presença do fadista nas tertúlias “Directo Da Fonte”, que co-organizou em Almada: "Fez questão de aparecer e brindar-nos com algumas das suas histórias (que vida tão cheia e que exímio contador)... A calma, a doçura, o carisma e, claro, a Voz, fizeram dele um dos gigantes da nossa história. Que privilégio, o meu, naquele dia".

Emanuel, por seu lado, usa também o Facebook, para sublinhar a importância de Carlos do Carmo: "O meu modelo, o meu exemplo de como ser artista. (...) Um dos maiores da historia da música portuguesa. Homem de grande nobreza mas simultaneamente humilde. Homem cultíssimo, mas de natureza simples. Artista de voz cristalina e personalidade que usava como poucos para comunicar emoções".

"Foi-se embora um dos Homens que me fez apaixonar pelo Fado", escreveu o fadista Marco Rodrigues, na rede social Facebook. "Perdi um amigo, que me alimentou o sonho de ser Fadista. O Homem que tanto me ensinou, que me ofereceu toda a sua sabedoria e amizade. Só não é maior a dor e a perda porque é tão grande o legado e tudo o que nos deixou. Obrigado, meu querido amigo. Muito obrigado Carlos do Carmo", concluiu o cantor de "Fados do Fado".

No Instagram, Luiz Caracol recorda "Carlos do Carmo, o eterno homem na cidade": "Muitas foram as histórias e os ensinamentos, assim como muita foi a simpatia e a amizade que sempre teve para comigo. Hoje é um dia triste para todos nós, para o fado e para a música portuguesa, que perdeu um dos seus maiores intérpretes de sempre".

O músico Diogo Clemente usou igualmente as redes sociais para recordar o fadista: "Não sei ainda muito bem a quantidade de significados que perder o Carlos tem dentro de mim e de todos nós, portugueses, fadistas, cidadãos, sonhadores, artistas e todas as dimensões onde a imagem, vida, presença e obra do Carlos são diariamente um pilar".

"Para cantar um poema é preciso entender as suas palavras. Para eterniza-lo é preciso entender os seus silêncios", escreveu Carolina Deslandes no Instagram, sobre Carlos do Carmo.

A cantora Ana Bacalhau, vocalista dos Deolinda, falou deste "amanhecer tão triste", na sua página no Facebook. "A sua Arte, o seu Canto serão sempre uma influência maior na minha vida e na vida de tantos. Obrigada, Carlos do Carmo", escreveu.

No Facebook, Pedro Abrunhosa dirige-se diretamente ao cantor: "Agora, no dealbar da esperança, decidiste ir trovar aos deuses. Sortudos eles que beberão da tua voz que sempre lhes pertenceu (...). Das nossas noites em átrios de hotel, camarins ou na poltrona de tua casa fica-me a sensação de um Fado inacabado onde a tua voz ressoa como deve a voz de um Deus verdadeiro. Agradeço as janelas que deixaste abertas para que outros como eu possam admirar como estão belas as ruas, como o Campo Grande refulge do teu eco".

O músico Jel preferiu o Twitter: "Descansa em paz, Gigante Carlos do Carmo".

Carlos do Carmo morreu esta madrugada no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, disse o seu filho Alfredo do Carmo à agência Lusa.

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