A eletrónica instrospetiva de James Blake brilhou após a festa do reggaeton - TVI

A eletrónica instrospetiva de James Blake brilhou após a festa do reggaeton

  • Sofia Santana
  • 8 jun 2019, 02:54

Houve bom temp e mais festivaleiros no segundo dia do NOS Primavera Sound, que se fez de rock, jazz, eletrónica e a impróvavel festa de reggaeton

Em anos anteriores, pensar que um cantor de reggaeton poderia atuar no palco principal do NOS Primavera Sound, um festival tradicionalmente ligado a nomes mais alternativos, seria bastante improvável. Mas hoje, o improvável aconteceu: J Balvin foi um dos protagonistas do segundo dia do festival, que teve na eletrónica introspetiva, mas agora mais luminosa, de James Blake o seu momento mais brilhante. 

Depois de ontem o mau tempo ter ameaçado o arranque do festival, ao segundo dia houve mesmo primavera no Parque da Cidade do Porto: sol, céu azul e as já habituais coroas de flores, que tornam tudo bem mais colorido. Não sabemos se por causa do bom tempo, do cartaz ou da aproximação do fim de semana, mas o certo é que houve mais festivaleiros nesta sexta-feira. 

Os concertos começaram novamente em português, com dois géneros muito diferentes: num palco o hip-hop irreverente de Profjam e noutro ponto do recinto a pop experimental de Surma.

Quem abriu o palco principal foi Aldous Harding, que trouxe folk intimista e delicada. A cantora e compositora apresentou o seu segundo disco, “Designer”, lançado em abril e produzido por John Parish, o músico que é o braço direito de PJ Harvey. 

Com um estilo muitas vezes comparado ao de Joni Mitchell, a neozelandesa mostrou que é dotada de uma voz singular e que até a forma como se apresenta em palco é peculiar. O público pareceu apreciar a simplicidade das suas canções e foi acompanhando os versos em temas mais conhecidos como "The Barrel".

A tarde continuou no feminino e com um fenómeno do indie rock da atualidade: Courtney Bartnett. A australiana conseguiu reunir uma boa moldura humana junto ao palco principal, preenchendo o pôr do sol com muitos riffs de guitarras.

À mesma hora, mas num outro palco tocaram os Sons of Kemet, em versão XL, que é como quem diz com quatro bateristas. E um concerto de jazz com quatro baterias só podia ter um resultado: uma energia contagiante, capaz de levar o público ao rubro. O grupo britânico pôs o público a dançar  e a vibrar e protagonizou um dos grandes momentos deste segundo dia. 

O registo mudou radicalmente com J Balvin, porventura o nome menos consensual do cartaz, que trouxe algo inédito por estes lados: um concerto de reggaeton no palco principal do NOS Primavera Sound. 

O cantor colombiano deu um espectáculo que recorreu a bailarinos, a muitas animações visuais, insufláveis, máquinas de fumo, no fundo tudo aquilo a que um concerto de massas tem direito.

E como é apanágio neste tipo de atuações, houve uma grande preocupação em interagir com o público, que ficou rendido quando foi mostrada uma camisola da Seleção Portuguesa com o nome de Cristiano Ronaldo. 

O concerto terminou em êxtase com o hit “Mi Gente”, que serviu para promover o festival em vários spots publicitários.

O rock voltou com os Interpol, que, apesar de não terem tocado no palco principal, conseguiram reunir muitos festivaleiros junto ao Palco SEAT. 

A banda de Paul Banks veio apresentar o último álbum,“Marauder”, que foi lançado no ano
passado, mas eram as músicas mais velhinhas que os fãs mais queriam ouvir. E o grupo nova-iorquino teve isso em atenção: o grupo foi alternando êxitos recentes - e, dizemos nós, menos interessantes - com faixas que lembram os bons velhos tempos de “Turn on the Bright Lights” e "Antics", como “Evil”, "PDA" ou  "Obstacle 1”.

Depois da festa do reggaeton, veio a calma de James Blake, a quem coube encerrar o palco principal. O músico britânico apresentou o seu último trabalho, “Assume Form”.

A eletrónica de James Blake continua instrospetiva, mas agora parece mais despida, com menos camadas instrumentais, e, arriscamos dizer, até mais luminosa. 

Rosalía não chegou mais cedo para cantar "Barefoot in The Park", mas a presença de Blake foi suficiente para dar brilho a uma noite fria no Porto. Um concerto intimista, que criou uma atmosfera por vezes melancólica, outras vezes celestial, que fica como um dos grandes momentos deste segundo dia de festival.

 

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