Rosalía, a cantora que reinventou o flamenco, já tem Portugal a seus pés - TVI

Rosalía, a cantora que reinventou o flamenco, já tem Portugal a seus pés

  • Sofia Santana
  • 9 jun 2019, 03:26
Rosalía

O terceiro e último dia de NOS Primavera teve mais gente, incluindo muitas famílias. Rosalía era o nome mais aguardado, mas também houve muito indie, rock e uma rainha da soul que se atrasou meia hora

Quando Rosalía se estreou em Portugal, num concerto no Theatro Circo, em Braga, em 2017, o seu trabalho de reinvenção do flamenco já era aclamado em Espanha, mas ainda passava despercebido por cá. Tinha lançado no ano anterior o seu álbum de estreia, “Los Angeles”, com arranjos do músico e produtor Raül Refree. Agora, o cenário é muito diferente: Rosalía é um fenómeno mundial e o NOS Primavera Sound encheu este sábado para a ver atuar no palco principal.

Foi com o disco “El Mal Querer”, editado em 2018, que a cantora catalã ultrapassou fronteiras, foi premiada nos Grammy e tornou-se uma verdadeira embaixadora da música latina.

Temas como “Malamente”, “Di Mi Nombre”, “Pienso En Tu Mirá”, “Bagdad” são temas de sucesso e fizeram vibrar os fãs portugueses da jovem artista no Parque da Cidade do Porto.

As músicas de Rosalía resgatam as origens do flamenco, mas revestem-se de uma sonoridade urbana, com influências que vão desde a pop à eletrónica e ao R&B. A mistura de ingredientes pode ser improvável, mas resulta bem e cria algo realmente novo e diferente.

Apesar da modernidade do som, da forma como se veste e até do modo como se apresenta em palco – com um grupo de bailarinas e várias coreografias – Rosalía, dona de uma voz poderosa, canta com a paixão e a intensidade que caracterizam a música flamenca.

Espectáculos intimistas como o do Theatro Circo já lá vão, a artista catalã é agora uma cantora global e, durante uma hora de concerto, cantou, dançou e deixou milhares de festivaleiros ao rubro.

Rosalía era o nome mais aguardado do último dia do NOS Primavera Sound, que terminou com uma maior afluência de pessoas. De resto, começou-se cedo a perceber que a chegada do fim de semana levava mais gente ao Parque da cidade do Porto, incluindo muitas famílias com crianças.

O dia começou com uma surpresa: um concerto improvisado dos Shellac logo à entrada do recinto. A banda de noise rock de Steve Albini, músico que fundou os Big Black e que produziu álbuns dos Nirvana e dos Pixies, tinha tocado no dia anterior no Placo Super Bock, mas ninguém pareceu importado com a repetição, a julgar pelo bom número de pessoas que se juntou ao momento. Os Shellac, que estiveram presentes em todas as edições do NOS Primavera Sound, despediram-se com uma certeza: “Então vemo-nos para o ano”.

Às 17:00 começaram as atuações no Palco Seat com as canções indie dos brasileiros O Terno, liderados por Tim Bernardes. À mesma hora, a portuguesa Lena d’Agua mostrou que mantém a voz e a irreverência que a tornaram uma figura marcante da música dos anos 80, cantando com os Primeira Dama.

Com o entardecer vieram os Big Thief, a banda norte-americana de indie rock, com uma sonoridade que passa também pela folk, que editou este ano o álbum “U.F.O.F.”.

As músicas dos Big Thief podem parecer frágeis, mas são como nuvens pesadas de emoções. A delicadeza da voz de Adrianne Lenker contrasta com a complexidade dos versos que diz e com a sua destreza na guitarra.

Adrianne tem aquele carisma de uma artista extremamente talentosa que tenta parecer discreta. E ela é a alma deste grupo norte-americano, que proporcionou um dos grandes concertos deste terceiro dia de festival.

No final de um espectáculo para expelir mágoas e exorcizar fantasmas, o grupo chamou toda a equipa ao palco e celebrou o fim da digressão, num momento de comunhão com o público.

O dia continuou com indie rock, mas daquele mais velhinho, liderado por uma figura de culto. Falamos dos Guided by Voices de Robert Polllard, que começaram a tocar já pela hora de jantar.

Pollard é mais uma prova de que ser uma estrela rock não tem idade. Um concerto de guitarras rasgadas, cheio de garra, com hinos que marcaram o rock alternativo como “Game of Pricks” e “Glad Girls”.

Os Guided by Voices estão aí para as curvas e mereciam mais público a testemunhar isto mesmo.

Também dentro do indie rock, mas mais influenciados pelo slowcore e pelo post-rock, estão os Low. O trio fundado nos anos 90, que editou o álbum Double Negative no ano passado, atuou após os ritmos latinos de Rosalía para marcar um registo completamente diferente.

As canções dos Low são vagarosas, muitas vezes etéreas, e põe-nos a viajar entre memórias e lugares diferentes. O melhor contexto para os ver não será em ambiente de festival, mas, ainda assim, os norte-americanos conseguiram reunir uma boa moldura humana para um concerto muito introspetivo.

O palco principal fechou com a rainha da neo-soul Erykah Baduh. Mas não da melhor maneira. A artista norte-americana atrasou-se meia hora, o que gerou muita impaciência e até um coro de assobios.

O relógio já passava da 1:00 quando Erykah subiu ao palco, com um chapéu de penas na cabeça. Agradeceu aos fãs por terem esperado por ela e desculpou-se com hora e meia de concerto cheio de soul, de jazz e de funk.

A oitava edição do NOS Primavera Sound ficou marcada por quatro cancelamentos, causados por problemas de saúde e constrangimentos relacionados com o mau tempo: Ama Lou, Mura Masa, Kali Uchis e Peggy Gou.

O festival regressa para o ano, o Parque da Cidade do Porto, nos dias 11, 12 e 13 de junho.

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