Solange mostrou no Porto que é muito mais do que a irmã de Beyoncé - TVI

Solange mostrou no Porto que é muito mais do que a irmã de Beyoncé

  • Sofia Santana
  • 7 jun 2019, 03:39

A irmã mais nova da mega estrela da pop deu o grande concerto deste primeiro dia de festival, que foi marcado pelo mau tempo e pela ausência de "primavera". Jarvis Cocker, o senhor dos Pulp, foi outro dos protagonistas com um espectáculo electrizante

Quem assistiu à forte tempestade que se abateu sob a região do Porto ao início da tarde terá temido o pior e ficado surpreendido quando o Sol começou a espreitar por volta das 17:00. E o NOS Primavera Sound, que só abriu portas poucos minutos antes dessa hora - altura em que as previsões meteorológicas ditavam melhores condições - arrancou, afinal, de forma tranquila, longe do cenário de intempérie das horas anteriores. Solange, a irmã alternativa da mega estrela da pop Beyoncé, deu o grande concerto deste primeiro dia de festival, com uma performance de encher o ouvido, cheia de garra e de soul, e o olho, com ela e os seus bailarinos a desenharem coreografias de início ao fim.

Coube a Dino d’Santiago as honras de abertura do festival. O português, de quem Madonna tanto é fã, deu um concerto caloroso, com muita interação com o público, quando os raios de sol, para muitos inesperados, douravam o recinto verde.

Eram quase 20:00 e o anfiteatro natural do Parque da Cidade estava a meio gás quando os americanos Built to Spill subiram ao palco principal do festival para celebrar os 20 anos de “Keep It Like a Secret”, um disco que tem estatuto de álbum de culto e de clássico do indie rock.

O pôr-do-sol fez-se assim ao som dos riffs das guitarras do grupo de Boise, liderados pela voz de Doug Martsch, que mostrou estar em forma com músicas como “Carry The Zero” ou “The Plan”.

Mas o primeiro dos concertos mais esperados da noite veio depois, num outro palco, e pertenceu a um homem só: Jarvis Cocker, o britânico fundador dos Pulp. Jarvis Cocker trouxe o seu novo projeto, “Jarvis Is...”, do qual muito pouco se conhecia até aqui.

O espectáculo, que começou com “Must I Evolve”, tema que já tinha sido divulgado aos fãs no mês passado, foi eléctrico e contagiante.

A chuva forte ainda ameaçou estragar a atuação, mas se houve susto esse não inibiu Jarvis, mestre de cerimónias, que soube conduzir o público com a sua voz densa e encorpada e os movimentos do seu corpo magro pelo palco. 

Danny Brown foi o nome que se seguiu no palco principal. O rapper norte-americano, que já colaborou com nomes como Kendrick Lamar ou The Avalanches, é um dos nomes mais originais do hip-hop da atualidade, inspirado pelas sonoridades do industrial e do pós-punk.

O artista de Detroit conseguiu animar o serão pós-jantar, sobretudo junto dos festivaleiros mais novos, que dançaram e saltaram sem parar ao som de temas como “Aint it funny” ou “Grown Up”.

O relógio já marcava para lá das 23:00 quando os Stereolab subiram ao palco SEAT. A banda franco-britânica de Tim Gane e de Laetita Sadier, está de volta aos concertos, dez anos depois, e passaram esta quinta-feira pelo Porto.

Com estatuto de banda de culto, os Stereolab marcaram os anos 90 com uma sonoridade que mistura pop, post-rock, eletrónica, lounge e até kautrock. Os teclados e a voz icónica de Sadier criaram uma atmosfera envolvente que terá deixado os fãs felizes, mas nostálgicos.

No final, havia ainda tempo para o grande concerto deste primeiro dia de festival - e dizemos isto não apenas por se tratar do nome em maior destaque no palco principal, mas por ter sido o que realmente foi maior, musical e visualmente. Falamos do concerto de Solange. Ou melhor, da performance de Solange.

Há muito que Solange deixou de ser olhada como a “irmã mais nova" ou "a irmã alternativa de Beyoncé”, tendo já dado várias provas de que é uma artista talentosa, que, com mérito, saiu dessas sombras para criar o seu próprio espaço.

Esta quinta-feira, Solange veio mostrar isso mesmo a Portugal, país onde nunca tinha atuado. A estreia foi um concerto vibrante, cheio de R&B, de soul e de jazz, cheio de garra e de sensualidade.

Solange tem uma voz delicada, mas uma energia de todo o tamanho. Ela, a sua banda e um grupo de bailarinos que desenhou coreografias artísticas de início ao fim, deram corpo a um espectáculo contínuo, que interligou de forma harmoniosa as diferentes canções.

À semelhança do que acontece no seu álbum mais recente, “When I Get Home”, lançado de surpresa em março, as músicas são peças soltas de um grande puzzle de sons e ideias. Solange e companhia interligam essas peças e criam diversas formas com elas, sempre com um fio condutor a dar estrutura a tudo.

Solange tem ainda tempo para interagir com o público, que é levado ao delírio com músicas como “Way to the Show”, “Almeda”, “Don’t Touch My Hair” ou “Cranes in The Sky”.

Já perto do final da atuação, a chuva voltou, e em força, ao Parque da Cidade do Porto, mas os fãs de Solange aguentaram firmes, junto ao palco.

Solange deu um concerto poderoso e saiu como rainha do primeiro dia do festival, que, comparativamente com anos anteriores, teve menos afluência de espectadores.

É certo que esta quinta-feira houve mau tempo e pouca primavera – nem as habituais coroas de flores coloriram o recinto – mas, aplicando o saber popular, festival molhado pode muito bem ser festival abençoado. O NOS Primavera Sound decorre até sábado e até lá há muito para ver e ouvir. E sim, o tempo também deverá melhorar.

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