Maria de Medeiros: «Escrevo as canções como pequenos guiões» - TVI

Maria de Medeiros: «Escrevo as canções como pequenos guiões»

Atriz e realizadora regressou à música com o novo disco, «Pássaros Eternos», mas sempre com o cinema bem presente

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Atriz, realizadora, cantora e compositora. A vida e a carreira de Maria de Medeiros têm passado por estes papéis tão intimamente ligados. Cinema e música. Música e cinema - dois mundos e duas paixões que desde cedo fizeram parte do quotidiano da artista, filha do maestro António Vitorino d'Almeida.

«A música esteve absolutamente sempre presente na minha vida. Vivíamos em Viena e todas as manhãs eu acordava com o meu pai ao piano. Isso era magnífico e deixou uma marca muito importante em mim porque, ainda hoje, eu preciso de ouvir música pela manhã», contou Maria de Medeiros em entrevista ao tvi24.pt.

O contacto com o cinema também aconteceu através do pai: «Ele projetava as curtas-metragens do Charlot, ainda em Super 8. E era a maior festa quando havia projeção dos filmes do Charlot em casa».

Na música, o mais recente projeto chega agora finalmente a Portugal. O novo disco, «Pássaros Eternos», já foi apresentado no Brasil e em Espanha, onde foi gravado.

«Chega em terceiro lugar [a Portugal], mas por causa das minhas itinerâncias. Mas eu já estava com muita impaciência de mostrar e apresentar este trabalho em Portugal», explicou.

Pela primeira vez, Maria de Medeiros assinou grande parte das canções do álbum.

«O que eu estou habituada a escrever são guiões. E então tenho tendência em escrever as canções quase como pequenos guiões, também, muitas vezes em torno de uma personagem», disse a autora de inéditos como «The Cougar Song», «Quem És Tu» e «Noite».

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Autocrítica por natureza, Maria encontrou no produtor e nos músicos com quem trabalho a confiança necessária para explorar a composição dos novos temas.

«Eu sou muito envergonhada. Como venho de uma família com grandes músicos - o meu pai e a minha irmã mais nova -, eu tinha muita inibição em relação a isso e os meus músicos puseram-me muito à vontade», recordou.

Uma experiência com sabor a aventura e que resultou numa musicalidade híbrida, multicultural e multilinguística.

«[O disco] tem um fado que se chama mesmo "Diz Que É Fado"... Será fado, não será fado? E tenho outro grande híbrido ("Trapichana") que é uma canção que eu fiz em torno de uma personagem inspirada em alguns espanhóis que conheço, que vão para o Brasil e ficam super-apaixonados pelo país e por todas as coisas dos trópicos. (...) [É] um casamento entre o samba e o flamenco, e a canção é mesmo escrita em "portunhol".»

Deste «Pássaros Eternos» fazem ainda parte dois temas trabalhados com Paulo Furtado, numa colaboração feliz nascida após a participação de Maria em «Femina» (2009), disco de Legendary Tigerman.

«A partir daí ficámos com vontade em continuar a trabalhar. Foi-nos proposto um espetáculo em Paris, em torno do [realizador] Jim Jarmusch, e o Paulo é muito cinéfilo também e gosta de cruzar fronteiras artísticas», contou Maria.

«Então fizemos um espetáculo entre a música, o teatro e o cinema sobre o "Down By Law". E aí nasceram duas das canções que estão neste disco: o "Shadow Girl", que fizemos à volta de uma frase misteriosa do Tom Waits; e a versão do "24 Mila Baci" que propus ao Paulo, porque sempre adorei essa canção do [Adriano] Celentano, um grande sucesso da pop italiana dos anos 1960.»
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