Leonard Cohen é dono de uma voz que arrepia e de um espírito teatral a que o corpo genuinamente se entrega. Ele é assim. Já em 1964, nos seus 30 anos, o Nacional Film Board filmou-o frente a uma vasta plateia a dizer poemas e a contar histórias, num humor refinado, com as palavras a entrarem-lhe pelo corpo. Uma entrega não muito diferente daquela que, mais tarde, veio a transformá-lo num cantautaor, juntando à palavra dita uma música e várias entoações - da folk ao rock com muito de seu pelo meio.
Soberbo, elegante, dobrado sobre si próprio, saltitante, ajoelhado. Domingo à noite, com o Pavilhão Atlântico quase repleto, rendido a seus pés, Leonard Cohen continuou a ser tudo isso. Aos 78 anos, o canadiano de Montréal é um elogio à vida, à intemporalidade das canções e, sobretudo, ao público.
A desculpa para esta digressão foi a celebração do último álbum, «Old Ideias», lançado em janeiro deste ano. O seu 12º álbum de estúdio, aclamado pela crítica, tem-o levado a várias salas de concertos europeias, americanas e canadianas. Com impressões deixadas no Road Blog da banda, a digressão tem datas para concertos até ao final de dezembro. Em Lisboa foram duas paragens, fica-se a saber...
Num alinhamento repleto de temas lendários, êxitos de uma longa carreira, couberam neste concerto apenas quatro temas novos de «Old Ideias». «Darkness», «Amen», «Going Home» e «Came Healing» surgiram na primeira parte do concerto, entre momentos solenes como o solo arrebatador de Jason Mas, antes de «Who by Fire» e depois de «Everybody Knows», tema que arrancou com uma salva de aplausos música adentro.
Chapéu enfiado na cabeça, mãos firmes a segurar um microfone solto, o músico agradeceu: «Espero encontrar-nos mais vezes no futuro, se não, prometo-vos que hoje daremos tudo o que temos». Promessa cumprida.
Na segunda parte do concerto, «Tower of Songs» embala a audiência a bom ritmo para um dos hinos mais aguardados, «Suzanne» e, mais à frente, músicas incontornáveis como «I'm Your Man», «Hallelluah» e «Take This Waltz», esta ovacionada de pé após a comunhão absoluta do «acorde secreto de David que agradava ao Senhor».
Destaque também para «Coming Back To You», interpretada pelas Webb Sisters, duo britânico que o acompanha em palco nesta digressão. E também para a voz portentosa da norte-americana Sharon Robinson, que desde finais dos anos 70 colabora e é co-autora de Cohen em temas como «Everybody Knows» ou «Alexander Leaving», que aqui interpretou.
No fim da noite, a despedida foi feita com três encores, mas Cohen ainda saltitava. Com o público a sair das cadeiras para se aproximar do palco, numa felicidade contagiante, nota para o refrão «First we take Manhatan, then we take Berlin» - como um assalto aos berços do poder que, nos tempos de crise em que vivemos, foram cantados a plenos pulmões. Esperemos que Leonard continue a voltar cá, sejam ou não tomadas Manhatan e Berlim.
Primeira Parte
1. Dance Me to the End of Love
2. The Future
3. Bird on the Wire
4. Everybody Knows seguido de solo acústico de Jason Mas
5. Who by Fire
6. Darkness
7. Sisters of Mercy
8. Hey, That's No Way to Say Goodbye
9. Amen
10. Come Healing
11. In My Secret Life
12. Going Home
13. Waiting for the Miracle
14. Anthem
Segunda Parte
15. Tower of Song
16. Suzanne
17. Night Comes On
18. The Guests
19. Heart with No Companion
20. The Gypsy's Wife (Webb Sisters)
21. The Partisan
22. Democracy
23. Coming Back to You (Webb Sisters)
24. Alexandra Leaving (Sharon Robinson)
25. I'm Your Man
26. Hallelujah
27. Take This Waltz
Encore 1
28. So Long, Marianne
29. First We Take Manhattan
Encore 2
30. Famous Blue Raincoat
31. Closing Time
Encore 3
32. I Tried to Leave You
33. Save the Last Dance for me
Leonard Cohen de joelhos em Lisboa
- Paula Oliveira
- 8 out 2012, 03:39
Nesta sua quarta passagem por Portugal em 4 anos, o músico começou por entregar-se à plateia, «tocando-a com a sua mão nua», com «Dance Me to the End of Love». Depois foram três horas e meia de concerto
Continue a ler esta notícia