Noidz: «Não se mistura fado com rock? Mistura-se, sim!» - TVI

Noidz: «Não se mistura fado com rock? Mistura-se, sim!»

Rodrigo Leal em entrevista ao tvi24.pt

Rodrigo Leal tira a máscara de alienígena e admite que enfrenta o preconceito pela «loucura musical» do projeto e por ser filho de Roberto Leal

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Metal, eletrónica e música tradicional portuguesa. Géneros que, à partida, podem parecer distantes, mas que surgem cruzados através das mãos de uns alienígenas chamados Noidz.

«Acima de tudo, nós precisávamos de um enredo que fosse tão grande quanto a loucura que, musicalmente, nós queríamos experimentar. E os alienígenas podem [fazer] tudo. Quem vem do espaço pode misturar rock, frevo, samba, fado...», contou o mentor do projeto, Rodrigo Leal, em entrevista ao tvi24.pt.

«Esse enredo serviu perfeitamente para aquilo que, musicalmente, nós íamos fazer», acrescentou.

Criado em 2005 por Rodrigo Leal, o projeto passou alguns anos «em laboratório» antes de partir para os concertos e para os discos. Só mais recentemente é que o músico tirou a máscara e assumiu a paternidade da banda. E admite que não é fácil ter uma carreira musical própria, sendo filho de Roberto Leal.

«É muito complicado teres uma sombra, um apelido gigante. Eu tenho um orgulho fantástico, tenho um pai maravilhoso, mas há que separar as águas. E eu estou no rock desde que eu me lembro», explicou.

«É muito complicado as pessoas, quando falam com o Rodrigo, não chegarem também ao nome do Roberto Leal. A máscara ajudou exatamente nesse ponto: todas as pessoas que falaram sobre os Noidz, falaram da música, da parte artística. Isso é o que interessa. Estamos a vender música, não estamos a vender nacionalidades nem afiliações.»

Outro dos desafios que Rodrigo tem enfrentado com os Noidz é combater o preconceito que existe contra a mistura de sonoridades quase sagradas. Uma batalha que a banda encara nos concertos.

«Encontrei muito preconceito, exatamente por as pessoas sentirem que não são coisas que se misturam - que não se mistura fado com rock. Mistura-se, sim! Vai demorar algum tempo para as pessoas começarem a assimilar e a gente consegue convencê-las ao vivo. Ao vivo, as pessoas veem essa mistura, e isso é muito importante», defendeu Rodrigo.

Nos discos, «2.0.1.3.» é o nome do segundo trabalho de estúdio que incluiu o cavaquinho de Júlio Pereira em «Message», e a voz da fadista Kátia Guerreiro em «Estranha Forma de Vida», um clássico eternizado por Amália Rodrigues.

«A Kátia foi muito corajosa. Aliás, atirámo-la aos leões - logo depois de ter gravado [para o disco], foi fazer connosco [o concerto da] Concentração Motard de Faro. E para ela foi um choque. Ela, que está acostumada com aquele público do fado, de repente vê-se ali no meio de 15 mil cabeludos [vestidos] todos de preto», recordou Rodrigo Leal, elogiando a coragem e talento da fadista.

«Ela saiu-se perfeitamente bem. Já era uma amiga de há muito tempo, tanto é que aceitou este convite pela coragem e amizade que tinha. E o resultado tem sido fantástico.»

Outra das curiosidades do álbum é a remistura de «O Pastor», um original dos Madredeus, numa versão elogiada pelo próprio Pedro Ayres Magalhães. Rodrigo admite que seria mais fácil chegar a colaborações com os Moonspell ou os Ramp, pela proximidade dos Noidz ao metal e rock pesado, mas que são os contactos com a música tradicional que motivam realmente o projeto.

«Não é normal uma banda que faz rock pesado ter o aval desses nomes. E isso, para nós, é muito importante. Estamos a bater exatamente nessas portas. Ninguém imaginaria "O Pastor", 20 anos depois, numa versão "cyber-eletro-rock"! E isso é que surpreendeu o próprio Pedro Ayres Magalhães.»

«O projeto tem caminhado nessa base. É através dessas loucuras que a gente consegue realmente elogios inusitados de gente tão fantástica como o Pedro Ayres Magalhães», explicou Rodrigo, acrescentando que já desafiou o líder dos Madredeus a juntar-se aos Noidz no estúdio ou em palco.

Os próximos concertos dos Noidz:

3 de julho - Feira de São Pedro, Macedo de Cavaleiros

26 de julho - Festival Cais Agosto, Pico (Açores)

29 de agosto - Festival Ilha dos Sons, Mértola
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