Patti Smith foi gloriosa e Paredes de Coura terminou de forma inesquecível - TVI

Patti Smith foi gloriosa e Paredes de Coura terminou de forma inesquecível

  • Sofia Santana
  • 18 ago 2019, 02:57

Artista norte-americana protagonizou um concerto intenso, que foi também um exercício de libertação coletiva. A multidão esteve em delírio lá na frente e a artista acabou emocionada com a receção tão calorosa. O rock continuou com os britânicos Suede, mas pelo meio houve hip-hop com Freddie Gibbs e Madlib. E Mitski, que editou um dos melhores álbuns do ano passado, deu um concerto que foi também uma performance

Uma lição de rock dada por uma artista com estatuto de lenda. Um espectáculo glorioso que fica para a memória dos milhares que o presenciaram. O concerto de Patti Smith, este sábado, no Vodafone Paredes de Coura foi tudo isto e muito mais. Uma atuação intensa, que funcionou como um exercício de libertação coletiva.

Patti Smith tem 72 anos, mas continua com a mesma garra que a tornou num dos nomes incontornáveis da história do punk rock. Este sábado, a norte-americana subiu ao palco do festival minhoto pela primeira vez, com a imagem que a tem caracterizado: de fato escuro, cabelos longos e grisalhos. E protagonizou um concerto rock à antiga, apoiada pela sua belíssima banda de longa data.

Mas Patti Smith é mais do que uma artista rock - recordamos que ela também é poetisa e fotógrafa - e logo no início da atuação mostrou que continua a mesma agitadora social de sempre.

Ouviu-se a emblemática "People Have The Power" e a norte-americana aproveitou a deixa: "Usem a vossa voz, nós podemos mudar o mundo".

Depois atirou: "Nós precisamos de união, não de nacionalismo, união para as nossas crianças", e recebeu gritos de aprovação, palmas, braços no ar.

Mais à frente continuava: "Nós somos livres, nós não vamos ser esmagados pelas grandes empresas, pelos militares".

Se o rock é uma religião, as palavras de Patti Smith são mandamentos. E a multidão, de perder de vista, recebe-os com euforia, num exercício de libertação.

A catarse coletiva prosseguiu com a referência aos 50 anos do festival de Woodstock e uma enérgica interpretação de "I'm Free", dos Rolling Stones e de "Walk on the Wild Side", de Lou Reed.  A multidão cantou em uníssono, houve luzes e braços no ar, um sentimento de comoção.

"Because the Night", outro dos temas mais conhecidos da artista, levou os festivaleiros ao rubro e "Gloria", faixa do icónico álbum "Horses" fechou o alinhamento com uma multidão em êxtase. Lá na frente, milhares pulavam, dançavam, cantavam. 

Foi um concerto memorável. Para quem assistiu e para a própria Patti Smith, que saiu visivelmente emocionada com uma receção tão calorosa do público e não parou de dizer: "Vocês são os melhores, simplesmente os melhores".

O rock continuou com os Suede, que encerraram o palco principal. O grupo, um símbolo da britpop que marcou os anos 90, editou o oitavo disco, "The Blue Hour", em setembro do ano passado.

A banda, que é inspirada em nomes como David Bowie ou The Smiths, deu um concerto enérgico, que fez vibrar os festivaleiros. O vocalista e líder do grupo, Brett Anderson, mostrou-se sempre expansivo e irrequieto. 

Em "Beautiful Ones", um dos temas mais conhecidos, os festivaleiros cantaram, dançaram e ergueram os telemóveis no ar para registar o momento, enquanto Brett Anderson andava junto do público. 

Pelo meio, houve hip-hop com Freddie Gibbs e Madlib. Uma atuação um pouco fora do registo, no sentido de que não atraiu muita gente que ali se tinha deslocado apenas para ver o rock de Patti Smith ou o dos Suede.

Ainda assim, e mesmo com parte do público sentada ou noutras zonas do recinto, o rapper e o produtor musical deram um espectáculo vigoroso, provocador - como pede o género - e que pôs muitos festivaleiros, sobretudo os mais jovens, a pular lá à frente. 

Antes, Mitski, que editou um dos álbuns mais elogiados do ano passado pela crítica da especialidade, o disco "Be the Cowboy", encantou Paredes de Coura com a sua voz doce e as suas letras intimistas, em canções que misturam a pop e o indie rock.

A artista, que nasceu no Japão, mas cresceu em vários países até se instalar em Nova Iorque para estudar cinema, deu um espectáculo que foi também uma performance. No palco, uma mesa e uma cadeira onde se sentava, deitava, numa coreografia que terá surpreendido muitos festivaleiros. 

No Palco Vodafone.Fm, dois projetos diferentes estiveram em destaque: o do músico e produtor britânico Kamaal Williams, que mistura jazz, hip-hop, grime e garage, numa atuação impactante, e a eletrónica psicadélica dos portugueses Sensible Soccers, que editaram o álbum "Aurora" este ano, e que hipnotizou o público.

O festival Vodafone Paredes de Coura encerrou, assim, depois de quatro dias de muitos concertos e banhos refrescantes no rio. Para o ano, a música volta à praia fluvial do Taboão nos dias 19, 20, 21 e 22 de agosto.

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