Morreu Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés - TVI

Morreu Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés

  • Atualizada às 19:45
  • 30 nov 2017, 17:11

Guitarrista e fundador da emblemática banda rock perdeu a luta contra uma doença prolongada. Em 2011, foi submetido a um transplante de fígado, por causa de uma hepatite C. Funeral é no sábado

Morreu Zé Pedro, guitarrista e fundador dos Xutos & Pontapés, um ícone da música eletrónica em Portugal. Morreu em casa, aos 61 anos, vítima de doença prolongada, confirmou a TVI24.

O músico foi submetido a um transplante de fígado em 2011, por causa de uma hepatite C. O seu passado foi marcado pelo consumo de drogas e álcool. 

O último concerto de Xutos & Pontapés em que Zé Pedro participou foi no início deste mês de novembro, no coliseu de Lisboa. Foi nessa altura que o seu estado de saúde foi assumido publicamente, no fim da digressão na capital. 

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As cerimónias fúnebres do guitarrista realizam-se na sexta-feira, em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, a partir das 16:00. No sábado, no mesmo local, será celebrada missa de corpo presente, pelas 14:00. O funeral e a cerimónia de cremação, que se realizarão em seguida, são reservados à família.

Figura incontornável da música rock portuguesa, Zé Pedro também teve outros projetos, como Maduros, Ladrões do Tempo e Palma's Gangs.

Relação com a música começou bem cedo

Filho de um militar, José Pedro Amaro dos Santos Reis (o seu nome completo), nasceu a 14 de setembro de 1956. Tinha sete irmãos.

Era muito novo quando foi para Timor-Leste, por causa do trabalho do pai. Voltou para Lisboa aos seis anos e foi aos 22 que fundou os Xutos & Pontapés. 

A sua irmã de Zé Pedro, Helena Reis, escreveu a biografia "Não sou o único", em 2007, na qual descreveu o pai como um "militar não autoritário" e a mãe como "militante-dos-valores-familiares". 

A relação com a música começou, aliás, por influência do pai. Na sua memória, uma ida ao festival Cascais Jazz, na adolescência.

Nos anos 70, escreveu crónicas de música no suplemento Mosca, do Diário de Lisboa, e gastou o primeiro ordenado num aparelho de rádio. No verão de 1977, numa viagem de comboio pela Europa foi a um festival punk no sul de França, que terá sido decisivo para a formação pessoal e para o que queria fazer de futuro.

De regresso a Lisboa, mergulhado na estética punk rock, conheceu o músico Pedro Ayres Magalhães, então dos Faíscas, do qual se torna manager oficial.

Como os Xutos deram o pontapé de saída

Foi no final dessa década de 1970 que Zé Pedro, juntamente com Zé Leonel e Paulo Borges, decidiu criar uma banda, batizada de Delirium Tremens. Passou depois a chamar-se Xutos & Pontapés, já com a entrada de Kalú e de Tim para o lugar de Paulo Borges.

O primeiro ensaio aconteceu em dezembro de 1978, na Senófila, em Lisboa, e o primeiro concerto realizou-se em 13 de janeiro de 1979, nos Alunos de Apolo, em Lisboa.

São estas as datas-chave do aparecimento do mais duradouro grupo rock português, que fez de Zé Pedro um dos mais carismáticos, conhecidos e acarinhados guitarristas da música portuguesa.

Era casado, desde 2013, com Cristina Avides Moreira.

Foi Zé Pedro o compositor de alguns dos clássicos da banca, como "Submissão" e "Não Sou o Único".

 

"Estrela rock sem vaidade exagerada"

Zé Pedro tinha na banda a força que o puxava para a rua, e assumiu com orgulho ser “uma estrela do rock”, mas sem “uma vaidade exagerada”, numa entrevista ao Expresso, já depois de ter feito o transplante de fígado, em 2011. 

Numa entrevista ao Diário de Notícias em 2016, Zé Pedro dizia:

O rock'n'roll é um estado de espírito, e uma pessoa ou sente ou não sente. Não é preciso ser músico para se sentir, tem que ver com aventura. Pode ter que ver com uns certos limites na vida, mas tem, acima de tudo, que ver com a realização pessoal de uma vida mexida”.

Anos antes, na biografia escrita pela irmã, lia-se: “A grande força que o puxava para a rua, para a vida, eram os Xutos & Pontapés, a noite, o movimento, os sons do espetáculo”.

É nesta biografia que Zé Pedro também fala sobre os pais e os irmãos, os altos e baixos da carreira dos Xutos e Pontapés e os problemas com a droga e o álcool, que quase lhe tiraram a vida em 2001, quando sofreu uma hemorragia interna.

Em maio de 2011, por causa de novos problemas de saúde, fez um transplante de fígado e, pouco tempo depois, voltou aos concertos, porque dizia que estar em cima de um palco lhe dava saúde.

Os outros amores de Zé Pedro

Colecionador de música, a par da vida nos Xutos & Pontapés, Zé Pedro desdobrava-se noutros projetos, como a rádio, tendo colaborado com Jaime Fernandes e Luís Filipe Barros na Rádio Comercial, com Henrique Amaro, na Rádio Energia, com Miguel Quintão na Vox ou, mais recentemente, na Rádio Radar.

Foi ainda DJ, um dos gerentes e diretor artístico do Johnny Guitar, fez parte dos Cavacos, do Palma’s Gang, dos Maduros, dos Ladrões do Tempo, congregando várias gerações de músicos e de públicos.

Em 2004, quando os Xutos & Pontapés celebraram 25 anos de carreira, os cinco músicos da banda – Tim, Zé Pedro, Kalú, João Cabeleira e Gui – foram agraciados pelo então presidente da República Jorge Sampaio com o grau de comendador da Ordem de Mérito, por “serviços meritórios” prestados ao país.

Nesse ano, quando lançou o álbum de parcerias "Convidado: Zé Pedro", Zé Pedro disse, em entrevista à agência Lusa, estar agradecido pela vida que teve: "Enquanto se cá está, tem que se estar a fazer coisas e, se tens a oportunidade de as fazer, não se pode desperdiçar. Felizmente, não sou nada nostálgico. As coisas foram vividas na altura certa e o que foi não volta a ser".

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