O músico José Afonso morreu há 30 anos deixando mais de 70 registos, entre álbuns de estúdio, ao vivo, EP e “singles”, sendo considerado um "génio" da música portuguesa. Autor e cantor, “Zeca”, como também é conhecido, começou pelos fados de Coimbra e espalhou o talento pela música e pela luta pela liberdade, num Portugal que viveu em ditadura durante 48 anos.
Zeca Afonso é um ícone da cultura portuguesa e simultaneamente um dos artistas mais respeitados. As suas músicas têm sido interpretadas pelos mais variados e conceituados artistas.
De Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, Mariza, José Mário Branco, Dulce Pontes, Cristina Branco, Jacinta a Madredeus e até mesmo à norte-americana Joan Baez, entre outros, são muitos os cantores que têm emprestado a voz às palavras e aos sons de Zeca Afonso, muitas vezes “pincelando-os” com sonoridades próprias.
Cristina Branco - "Canto Moço":
Dulce Pontes – “Os Índios da Meia Praia”:
Madredeus – “Maio Maduro Maio”:
Amália Rodrigues, geralmente aclamada como a voz de Portugal e uma das mais brilhantes cantoras do século XX, produziu aquela que é talvez a melhor versão de sempre de “Grândola Vila Morena”. A diva desafiou o conforto de um estatuto para cantar ao povo o tema de Zeca Afonso que se tornaria um dos hinos da Revolução de 25 de Abril de 1974.
Amália Rodrigues – “Grândola, Vila Morena”:
O célebre tema ultrapassou aliás as barreiras da língua e também brilhou nas vozes de artistas estrangeiros como o advogado, poeta e cantor alemão Franz Josef Degenhardt, que traduziu e gravou uma peculiar versão do hino da Revolução, ou ainda a banda punk brasileira 365, que nos anos 80 eletrificou a trova. Também Joan Baez, voz das trovas de Bob Dylan, mostrou-se conhecedora de grandes autores quando esteve no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em março de 2010, e fez questão de cantar Zeca.
Joan Baez:
Franz Josef Degenhardt:
Banda 365:
“Grândola, Vila Morena” foi ainda bandeira de protesto numa manifestação contra as medidas de austeridade decididas pelo governo espanhol, a 17 de fevereiro de 2013. A orquestra do grupo de indignados M15 tocou a canção de Zeca Afonso, na praça do Sol, em Madrid.
Além de Amália Rodrigues, Cristina Branco, Dulce Pontes e Joan Baez, já aqui referidas, a arte e a música de Zeca Afonso também fizeram eco noutras grandes vozes femininas, que o imortalizaram interpretando versões de temas que ele compôs.
Mariza – “Menino Do Bairro Negro”:
Ana Bacalhau – “As Sete Mulheres do Minho”:
Jacinta – “A Formiga no Carreiro”:
Diva – “Canção de Embalar”:
O cantor de intervenção encontra também expressão na voz do sobrinho João Afonso, que embora tenha dito em entrevista ao jornal Ensino Magazine, em maio de 2003, que o peso do nome de família já não é o que era e que o público percebe que o seu trabalho é específico e próprio, não deixa de prestar homenagem pessoal ao tio interpretando-lhe alguns dos temas.
João Afonso – “Bombons de Todos os Dias”:
José Mário Branco, Amélia Muge e João Afonso – “Ali está o Rio”:
Os temas de Zeca Afonso não inspiraram só artistas em nome individual. Destacaram-se pelo menos dois projetos coletivos.
No dia 30 de junho de 1994, assinalando também o ano de Lisboa Capital Europeia da Cultura, os artistas envolvidos no projeto “Filhos da Madrugada cantam José Afonso”, conjuntamente com Sérgio Godinho, participaram num gigantesco e memorável espetáculo no antigo Estádio José Alvalade, em Lisboa, sendo o maior concerto de sempre em Portugal só com artistas nacionais.
Filhos da Madrugada - "Maria Faia":
"Zeca Sempre" foi outro projeto-tributo a José Afonso, que juntou as vozes de Nuno Guerreiro, Olavo Bilac (Santos & Pecadores), Tozé Santos (Perfume) e os novos arranjos do produtor musical Vítor Silva. Em maio de 2011, o grupo apresentou o projeto com concertos nos Coliseus de Lisboa e Porto.
Zeca Sempre - "O que Faz falta":