Um acordo que "põe em prática princípios de desregulação, de baixa dos padrões e de aumento da concorrência", como foi classificado pelo BE, ou um tratado "equilibrado e que terá benefícios para o país" como foi descrito pelo Primeiro-Ministro? O Acordo Económico e Comercial Global entre a União Europeia e o Canadá, mais conhecido pela sua sigla em inglês, CETA, esteve nas manchetes dos principais jornais europeus na semana que passou devido aos obstáculos que teve que enfrentar.
Na quarta-feira, Bulgária e Roménia ameaçaram que não ratificarão o CETA caso não haja garantias escritas por parte do governo canadiano de que os seus nacionais não serão discriminados face ao resto dos seus co-cidadãos europeus. Ao contrário do que acontece com os outros 26, búlgaros e romenos necessitam de um visto para poderem viajar para o Canadá.
Já na Bélgica, o governo federal ficou impedido de dar a sua assinatura por não obter o constitucionalmente necessário consentimento dos parlamentos da Valónia e da comunidade francófona, que aprovaram moções condenando o CETA.
Les lumières de la démocratie ! #CETA #Merciàvouspourlesoutien pic.twitter.com/IiYTR2WEzq
— André Antoine (@Andre_Antoine) 19 de outubro de 2016
#ceta : Je ne donnerai pas les pleins pouvoirs au gouvernement fédéral. Les garanties ne sont pas suffisantes. #walgov #parlwal
— Paul Magnette (@PaulMagnette) 14 de outubro de 2016
Ao manterem-se estas situações, a entrada em vigor do CETA estará em risco - facto que animou muitos dos seus críticos em várias capitais europeias, incluindo Lisboa, onde as bancadas à esquerda do PS saudaram os deputados das comunidades belgas e incitaram o governo português a rejeitar o acordo no debate que antecipou a participação do Primeiro-Ministro no Conselho Europeu. Toda esta agitação, contudo, acabou por não merecer grande destaque por parte das redações portuguesa, que se focaram mais nos nossos debates internos.
Apesar de debatido na Assembleia da República, que eventualmente terá que o votar, o CETA passou ao lado dos destaques da semana, confirmando assim uma aparente (e infeliz) tendência nos media portugueses: em vez de serem destacados na altura em que são um tema em discussão, os grandes debates europeus parecem apenas implicar destaques em Portugal no momento em que já passaram a factos consumados.
Notícias ao Minuto - Portugal confirma assinatura do acordo comercial entre UE e Canadá https://t.co/SDnrI8glGj
— Margarida Marques (@mmarques_se) 19 de outubro de 2016
Contra o #CETA, cavalo de Troia #TTIP! https://t.co/dt0QLkkULM via @lesoir @JLMelenchon @GabiZimmerMEP @ph_lamberts @eleonoraforenza
— Marisa Matias (@mmatias_) 16 de outubro de 2016
Ficha técnica:
O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho. A codificação das notícias é realizada por Rute Oliveira, João Lotra e Sofia Barrocas. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.
Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de 413 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Em 2016 fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN.