O adeus de Kobe Bryant que possibilitará aos Lakers renascerem - TVI

O adeus de Kobe Bryant que possibilitará aos Lakers renascerem

Kobe Bryant (Reuters)

A maior estrela da NBA deste século anunciou o final da carreira. É tempo de reconstruir uma equipa em crise, mas é preciso estar à altura...

Não chegou como uma surpresa a notícia de que esta será a última época de Kobe Bryant na NBA. Mas chegou em forma de poema, da autoria do próprio, com o título «Dear Basketball», publicado na página «The Player’s Tribune».

Esta despedida anunciada de forma poética é uma declaração de um amor ao basketball, que continua, mas que tem de continuar de uma outra forma que põe termo à presente. Recuando aos tempos do miúdo de 6 anos a quem o basquetebol deu o sonho de jogar nos Lakers, Kobe Bryant define um fim no que foi como foi até agora.

«(...) Não posso amar-te obsessivamente por muito mais tempo/Esta época é tudo o que me resta para dar», confessa o jogador de 37 anos. Mesmo que coração e mente ainda estejam comprometidos com o jogo, o «corpo sabe que é tempo de dizer adeus». «E não faz mal/Eu estou pronto para deixar-te ir», garante.



Chegou a altura para o basquetebolista mais famoso deste século terminar a carreira. O corpo assim o determina. As suas últimas três temporadas assim o refletem. A duas épocas marcadas por várias lesões, Kobe Bryant sucedeu na atual com números que são o lado oposto do melhor que o base/extremo fez em duas décadas no campeonato profissional de basquetebol dos Estados Unidos.

É altura de dar o lugar a outros. É uma regra do desporto, como é da vida. Candidatos não faltarão, como também faz parte. Mas a altura não é para todos...

E é claro que não está a falar-se dos 1,98 metros de altura de Kobe Bryant. Está a falar-se de cinco títulos de campeão da NBA (2000-02 e 2009-10), duas medalhas de ouro olímpicas (Pequim 2008 e Londres 2012), duas vezes MVP da final (2009 e 2010), uma vez MVP da fase regular da NBA (2008) e 17 vezes All Atar (quatro vezes MVP do jogo, um recorde).

Kobe Bryant foi o primeiro base a ser escolhido diretamente do liceu no draft (de 1996) sendo a 13ª escolha, pelos Charlotte Hornets, que depois o trocaram com os Lakers, a sua equipa de sempre pela qual está a jogar a 20ª época: recorde da NBA (os três segundos jogadores nesta lista têm 19 temporadas numa mesma equipa).



Na sua primeira época como profissional da equipa de Los Angeles, ganhou o concurso de afundanços All Star (1997). O rookie mostrava ao que vinha com espectáculo e pontos. Kobe Bryant já é o melhor marcador de sempre dos Lakers, e é o terceiro melhor de sempre da NBA (32.683) – tendo há um ano ultrapassado Michal Jordan, o seu ídolo (e o melhor basquetebolista da história) – assim como é mais novo de sempre a passar os 30 mil pontos (com 34 anos e 104 dias).

Na marcação de pontos num só jogo, Kobe Bryant conseguiu 81 em 2006 frente aos Toronto Raptors – o segundo melhor registo de sempre; o recorde é de Wilt Chamberlain (100 pontos).

Os desentendimentos com Saquille O’Neal com quem fez dupla nos três primeiros títulos ganhos causaram muito mal estar na equipa e Shaq acabou por sair em 2004 para ir ganhar mais um anel de campeão em Miami. Em 2003, fora de campo, Kobe Bryant viveu o seu pior momento quando se viu envolvido num caso de violação, que terminou com um arquivamento e um acordo, mas que acabou por ter consequências desportivamente no que respeita mais a patrocínios com o cancelamento de contratos.



Kobe Bryant renovou o último contrato com os Lakers em 2014, por mais duas temporadas, e manteve-se o jogador mais bem pago da NBA com um contrato de 25 milhões de dólares (23,6 milhões de euros); não obstante aquela renovação já ter acontecido com o triénio negro em curso.

Nas duas épocas anteriores a esta, o base/extremo jogou apenas 41 jogos. Nos seis jogos de 2013/14 ainda conseguiu uma percentagem de pontos de 42,5. Nos 35 de 2014/15, a percentagem desceu para 37,3. O fim que se aproximava era contraditado pela explicação das lesões e pela confiança das renovações.

Mas as lesões são também elas reflexo de um corpo que já não reflete outros tempos. E, neste ano, nos 15 jogos da fase regular, Kobe Bryant acompanha os 2-13 entre derrotas e vitórias, respetivamente, com a pior percentagem das suas 20 temporadas: 30,5. Os registos irreconhecíveis dele combinam com os resultados dos Lakers, que caminham para a inédita terceira época fora dos play-offs.

Os resultados individuais e os da equipa não serão por acaso no que respeita a um grupo que está em reconstrução e que paga também por ter uma referência (para quem mais se joga) que está cada vez mais longe do seu melhor nível. O jogador mais bem pago da e a última grande estrela antes do fenómeno KobeNBA e a maior estrela desde Jordan decide sair e, inevitavelmente, haverá agora mais espaço para as novas esperanças dos Lakers confirmarem os créditos.

Serão as primeiras grandes oportunidades para jogadores como o base D’Angelo Russell (19 anos), o extremo Julius Randle (21 anos), ou o base Jordan Clarkson (23 anos) terem uma parte a dizer no levantar da cabeça da equipa da NBA com mais finais (31) e 16 títulos de campeão (perdendo apenas para os Boston Celtics: 17). Alguns poderão consegui-lo, nem todos estarão à altura.

A fasquia é alta. O último desses foi decisivo...



E deu (tanto) espectáculo...

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